Bolsonaro moderado: a última chance de Dr. Jekyll

Bolsonaro moderado a última chance de Dr. Jekyll
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A fantasia esfarrapada de “moderado” foi o preço que Nogueira e Lira cobraram a Bolsonaro, com a intermediação de Temer, para desmobilizar a onda pelo impeachment que se levantou dia 8/9.

Os chefes do Centrão eram os primeiros interessados nessa mudança de rota, já que a situação lhes era confortável. Aproveitaram a besteira do presidente para tentar enquadra-lo por pelo menos seis meses, logrando êxito onde os militares falharam.

Bolsonaro foi convencido de que não há como se reeleger bajulando apenas 15% do eleitorado. Que não teria nem partido, nem chance alguma. Aceitou normalizar para reduzir as resistências à sua agenda eleitoreira no Congresso e no STF e convencer o Centrão a carregá-lo em 2022.

Será sua última cartada na via “normal”. Se der certo, ele esvazia a busca pela terceira via no espectro da direita, ao se apresentar fraudulentamente como a terceira via de si mesmo. E tentará, pela fingida moderação, reduzir a rejeição e recuperar parte dos 25% que perdeu.

Se der errado, das duas, uma. Ou ele volta ao golpismo mobilizando seus arruaceiros, para tentar se safar aumentando os custos da prisão, ou desiste da presidência, sob um pretexto qualquer, e se candidata a deputado, para preservar a imunidade contra as ações que virão.
Esse é o plano de Bolsonaro e dos líderes centrônicos para os próximos meses. Daí seu súbito desejo de reabrir pontes com os veículos tradicionais de comunicação: que lhe sirvam de instrumento para vender ao público que já o havia abandonado a cloroquina de sua “moderação”.

Mas o cenário continua incerto. Não há garantia da aprovação das reformas eleitoreiras no Congresso, a impopularidade do governo desestimula o empenho por elas, as perspectivas econômicas são funestas.

E o Centrão só quer ganhar tempo para si levando Bolsonaro até o ano que vem. Quer continuar roendo o orçamento até perto da eleição, e o impeachment seria um estorvo a este plano. Nada o impedirá de desembarcar em segurança quando vir o navio vindo a pique.

O tempo não corre, portanto, contra o Centrão. O tempo corre contra Bolsonaro. Seu plano é se aguentar nesse modelito até março e avaliar os resultados. Mas nada impede que Mr. Hyde reapareça nesse meio tempo. É pedir demais a quem não é normal fingir sê-lo por tanto tempo.

Por Christian Lynch