Por Cesar Benjamin – O governo federal incluiu numa Medida Provisória o uso de vouchers na educação infantil. É uma velha aspiração dos setores mais corruptos e mais reacionários, também neste caso baseada na experiência fracassada da ditadura do general Augusto Pinochet, no Chile, que Paulo Guedes assessorou. Neste momento, o povo chileno está jogando no lixo esse modelo.
Pelo projeto, o governo se desobriga de manter uma rede pública de educação infantil e entrega vouchers a famílias cadastradas, que os repassarão a escolas privadas. Formar-se-á assim um mercado de vouchers, sujeito a todo tipo de especulação e manipulação. Os poderes paralelos de cada área, incluindo o tráfico, a milícia e os políticos – que, frequentemente, são uma coisa só –, terão mais uma atividade muito lucrativa na intermediação desses vouchers.
As igrejas evangélicas também serão beneficiadas. Quando eu era secretário no Rio de Janeiro, Marcelo Crivella insistia para diminuirmos as exigências físicas e pedagógicas para o credenciamento de creches conveniadas, que recebem recursos públicos. É uma área em que, por motivos históricos, é forte a presença de entidades ligadas à Igreja Católica. A ideia era abrir esse espaço para igrejas evangélicas, que não tinham nem experiência nem capacidade para trabalhar com educação infantil. Sempre me recusei a aceitar que nossas creches se transformassem em depósitos de crianças. A medida foi adotada na gestão de Talma Suane, depois da minha exoneração.
O fim da rede pública de educação infantil e a adoção do sistema de vouchers consagra todas essas deformações.
Por Cesar Benjamin