Por que promover a baderna do dia 08?

Baderna
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Por que promover a baderna do dia 08?

Nenhuma pessoa no Brasil acredita que houve uma tentativa de golpe dia 08 de janeiro de 2023. O que há são pessoas que dizem acreditar.

Não há golpe sem líder e sem Exército. Muito menos qualquer pessoa com um mínimo de conhecimento institucional pode cogitar que Bolsonaro tenha esperado deixar de ser comandante em chefe das Forças Armadas para, de fora do país, comandar um golpe de estado.

Dia 08, um grupo de baderneiros que pedia há dois meses por “intervenção militar” acampados na frente do quartel general de Brasília se cansou e partiu para a arruaça, muito bem monitorados pelo GSI e ABIN. Mas, como num passe de mágica, a segurança do Palácio do Planalto e do Supremo cruzou os braços e permitiu o quebra-quebra.

Consumado o vandalismo, a mídia transformou a dona Fátima e o cagão da mesa do Moraes em líderes de uma perigosa tentativa de golpe de estado. Bem, eles queriam isso e invadiram os palácios. Agora tem que entender o custo da brincadeira.

Não aconteceu nada em 2023 que não tenha acontecido em 2013. Porque então esses manifestantes de hoje são perigosos golpistas e os de 2013 heróis da democracia?

Porque tem uma parte dessa história que desapareceu da narrativa da mídia. Essa é a de que, para metade do povo brasileiro, a eleição foi conduzida com uma parcialidade inédita, e as urnas eletrônicas mais atrasadas do mundo não oferecem segurança ou credibilidade. E grande parte desses brasileiros conduziram, entre novembro e dezembro de 2022, as maiores manifestações populares já vistas na história do Brasil.

Um milhão de pessoas foram vistas na frente do quartel general de Brasília, mais de 500 mil, facilmente, na frente do Comando Militar do Leste no Rio, por três dias seguidos, sem contar outros milhões de pessoas, por vários dias, nas ruas de todo país.

Vinte centavos

Se não houve uma quebra na normalidade institucional é porque o Exército não topou a aventura. A recusa aconteceu antes, e não depois da posse. Mas outra coisa que não se fala é que a maioria dos manifestantes e dos que especulavam sobre a possibilidade de “intervenção militar” não consideravam estar diante de uma tentativa de golpe, mas sim da restituição da normalidade institucional, com novas eleições.

Ninguém pode ser ingênuo quanto ao que aconteceria com uma quebra da normalidade institucional. Isso é sempre golpe, e sempre por via da força, que sabemos como começa e não como termina. Muito menos alguém tem o direito de achar que um homem com as credenciais de Bolsonaro, fã de Ustra e velho defensor de golpes, queria restituir o Brasil à normalidade democrática.

Mas também ninguém tem o direito de perpetuar indefinidamente a polarização no país com essa narrativa ridícula do golpe do dia 08. Porque é a isso que promover a baderna do dia 08 ao status de “golpe de estado” faz. Manter criminalizados um terço dos cidadãos brasileiros e legitimar um governo que assumiu para fazer o contrário do que prometeu e perpetuar o saque do povo brasileiro pelo sistema financeiro.

vandâlos atacam Itamaraty em 2013
vandâlos atacam Itamaraty em 2013

A democracia brasileira está em frangalhos, cada dia mais esfarrapados, não por causa de dona Fátima ou do cagão, mas de um Judiciário discricionário que vive como a nobreza de um país de miseráveis, nadando nos frutos de nosso trabalho acima da lei e do teto constitucional e julgando seres humanos conforme sua conveniência, e não conforme a lei.

Por causa de um STF que por três vezes se recusou a cumprir a decisão do Congresso de modernizar nossas urnas e conduziu as eleições com parcialidade inédita, e, principalmente, por causa de governantes como Lula que se elegem para perpetuar um modelo que nos tornou a quinta nação que menos cresceu no mundo nos últimos 30 anos.

Uma narrativa grotesca, um clipe cringe com artistas desmoralizados e um museu ao nada não salvarão nossa democracia. Nossas instituições e representantes eleitos respeitando a lei, o direito e a vontade popular são sua única salvação.

Amarelo pela democracia
Amarelo pela democracia