O mês de janeiro do BACEN e o fim do curto Forward Guidance

O mês de janeiro do BACEN e o fim do curto Forward Guindance
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Cenário

Em janeiro de 2021, o comitê de política monetária do Banco Central optou por manter a taxa de juros básica da economia em 2,00% a.a. Decisão projetada com cautela, de olho no cenário externo e interno, devido a amplitude do aumento de novos casos de coronavírus, expressando uma preocupação sobre a aparição de novas cepas do vírus mundo a fora e o impacto que pode causar sobre a oferta e a demanda de bens.

Os países do mundo continuam mantendo um grau elevado de estímulo à economia, permitindo que haja expansão da liquidez. O mais recente (e ambicioso) desses pacotes foi anunciado pelo novo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que comunicou um pacote de estímulos de US$ 1,9 trilhão, sendo que, cerca de US$ 1 trilhão será destinado diretamente para as famílias. Antes disso, o projeto de estímulo precisará ser aprovado.

Em relação a inflação, o Banco Central mantém expectativas próximas do centro da meta para 2021, 2022 e 2023, alcançando 3,4%, 3,5% e 3,25%, respectivamente. Apesar de um apontamento significativo e que se segue nos últimos meses, de aumento nos itens que compõem a cesta básica, impulsionados especialmente pelo aumento da taxa de câmbio e a prioridade pelo consumo de bens essenciais em períodos de crise.

Observando o aumento da inflação para os anos seguintes, o BC também aposta em uma elevação dos juros para 3,75% e 4,75% a.a. em 2021 e 2022, respectivamente. Mas não seria este apontamento o de maior relevância para que o BC comece a sinalizar um aumento na taxa de juros neste próximo semestre.

A elevação curva de juros DI e a sinalização do “fim do forward guidance”, tem estado ancorado principalmente no medo pouco relevante do Banco Central do risco fiscal e o aumento do prêmio de risco “Por outro lado, um prolongamento das políticas fiscais de resposta à pandemia que piore a trajetória fiscal do país, ou frustrações em relação à continuidade das reformas, podem elevar os prêmios de risco.”

Contudo, a decisão de não subir os juros na última reunião esteve fundamentada na ociosidade do mercado de trabalho, que apesar da recuperação sazonal do último trimestre, não tem sido relevante o suficiente para demonstrar uma recuperação no consumo, de maneira que pressione a demanda, ainda mais que a manutenção de um novo auxílio emergencial está fora do radar do Ministério da Economia.

Sobre o “fim do Forward Guidance”

A discussão acerca do Forward Guidance, se iniciou em agosto de 2020, quando na ata do Copom de número 232, a “prescrição futura” era de que poderia haver espaço para novos cortes e que deveria seguir então, a melhor política situacional de estímulo monetário.

Um estudo recente do Banco Central, buscou demonstrar qual foi o efeito do FG em seus seis meses oficiais de duração. Em resumo, segundo o Estudo Especial intitulado como “Estimação dos efeitos do forward guidance na curva de juros”, o impacto foi positivo, visto que uma das características para a análise da eficácia do Forward Guidance foi o seu impacto “surpresa”.

Em outras palavras, esse cálculo sugere que o efeito do FG é equivalente a uma surpresa na Selic de 12 pontos-base (p.b.). Ou ainda, é equivalente a uma redução de 25 p.b. na Selic, quando o mercado precificava uma redução esperada de 13 p.b. (…) assim como no caso da taxa nominal, aproximadamente 60% do efeito na taxa real de dois anos foi devido ao FG. Esse cálculo sugere que o efeito do FG é equivalente a uma surpresa na Selic de 11 p.b. Ou ainda, é equivalente a uma redução de 25 p.b. na Selic, quando o mercado precificava uma redução de 14 p.b.

O impacto positivo do FG sobre a curva da taxa de juros futuro, tanto nominal quanto real, pode ser visto diante da movimentação de que o efeito surpresa foi capaz: de precificar uma redução de efetiva de 25 p.b. na Selic. Como demonstrado na imagem abaixo

O mês de janeiro do BACEN e o fim do curto Forward Guindance
FONTE: BCB

O olhar de curto e médio prazo continua pouco claro diante da incerteza que a pandemia tem demonstrado. A extensão de medidas de contenção, fechamento de fronteiras e a busca pela produção, aprovação e distribuição logística das vacinas, torna pouco clara a amplitude que as políticas fiscais dos governos serão utilizadas. A política monetária como estímulo para a atividade econômica tende a continuar sendo com grande força mesmo em períodos que precedam a pandemia.

O corte do auxílio emergencial e, consequentemente, a redução da liquidez deve fornecer impactos diretos e quase que imediatos sobre o nível de consumo do primeiro trimestre de 2021, expressando que tanto o consumo quanto o mercado de trabalho, deverão apresentar pouca probabilidade de recuperação efetiva no curto prazo.

O Copom, mesmo com bons resultados apresentados pela efetividade da FG, decidiu interromper a utilização da política como modelo para a orientação da análise monetária do Comitê, isto implica que o mesmo voltará a observar muito mais a ótica da inflação.

Por Emerson Braz

Texto publicado originalmente para o Boletim de Conjuntura do Grupo de Pesquisa sobre Desenvolvimento Econômico e Política Econômica da PUC-SP.