PT está preocupado com a abstenção no eleitorado lulista

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Um espectro ronda o comitê de campanha de Lula, o espectro da abstenção. O PT está apavorado com a possível disparidade entre as intenções de votos de Lula nas pesquisas e a efetivação dessa votação nas urnas no dia 2 de outubro.

O motivo é que uma coisa é responder em quem votaria quando um funcionário do Datafolha bate na porta da sua casa ou liga no seu celular, outra coisa muito diferente é sair de casa, pegar um trem ou um ônibus, ficar na fila de um colégio eleitoral, e apertar um número na urna eletrônica.

Tanto a institucionalidade jurídica como a estrutura tecnológica comunicacional e a economia política do sistema eleitoral brasileiro mudaram muito nos últimos anos. Mas principalmente a disposição psicológica da população para votar mudou.

As abstenções têm crescido muito nas últimas eleições presidenciais brasileiras. O principal fator é que o voto no Brasil, na prática, é facultativo devido à facilidade da justificativa que quase não onera o eleitor com uma multa irrisória. Mas também existe uma rejeição cada vez maior da população ao sistema político e eleitoral. O povo não quer saber de partidos e muito menos de sair de casa para garantir empregos para políticos que presume, a priori, todos corruptos.

Em 2006, as abstenções foram 16,8%; em 2010, subiram para 18,1%; em 2014, chegaram a 19,4%; e em 2018, 20,3% dos eleitores brasileiros não compareceram às urnas. Essa tendência deve se confirmar em 2022, e o maior prejudicado é o PT, partido tido por símbolo da corrupção devido aos sucessivos escândalos dos governos petistas. Mas não é só isso.

O principal problema da campanha petista é que os votos de Lula são “inerciais”. O tema da eleição é a rejeição a Bolsonaro, e Lula se coloca como o “anti-Bolsonaro” com a gigantesca máquina de comunicação do PT e apoio da Globo, Folha, Estadão, UOL, e toda a mídia oligopolista do establishment liberal.  Portanto, os votos de Lula não são convictos no programa econômico de Henrique Meirelles, na política cultural de Paula Lavigne, e na agenda identitária de Djamilla Ribeiro. Pelo contrário, a grande intenção de votos de Lula, na maioria da população, se dá apesar do projeto progressista neoliberal. O voto em Lula é desanimado e calcado apenas na rejeição a Bolsonaro.

Historicamente a abstenção nas classes D e E é o dobro da que ocorre nas classes mais altas. E isso, por si só, já é motivo de grande preocupação entre os estrategistas da campanha de Lula. Mas tem outro dado que os deixa ainda mais preocupados: nas camadas mais populares a menor abstenção é exatamente entre os evangélicos, que rejeitam a candidatura de Lula em sua imensa maioria. Muitas igrejas na periferia fazem vigílias na véspera da eleição. E os estrategistas do PT e da grande mídia também sabem que os institutos de pesquisas subestimam muito a representação dos evangélicos na população brasileira. O último censo foi em 2010 e de lá pra cá o crescimento do número de evangélicos foi exponencial, mas não temos dados oficiais para medir esse fenômeno. Em 2010 o censo dava 54% de católicos e 22% de evangélicos. Esses números estão muito longe de expressar a realidade atual.

Por outro lado, os votos de Bolsonaro são movidos pela paixão ao líder carismático, que representa certos valores religiosos e morais do brasileiro médio das periferias e, principalmente, de classes médias e altas reacionárias antipetistas. É um voto animadíssimo, raivoso e engajado. Fenômeno similar ocorre com as intenções de voto de Ciro Gomes, por menor que apareça nas pesquisas, com a diferença de contar com eleitores engajados pela campanha altamente politizadora do candidato que herdou a tradição política trabalhista de Getúlio Vargas e Leonel Brizola e se consolidou como a terceira força nacional.

Portanto, as abstenções devem diminuir a votação de Lula e aumentar os percentuais proporcionais de seus adversários. Os caciques e marqueteiros petistas estão preocupadíssimos e colocaram uma campanha de estímulo ao voto e combate às abstenções. É preciso conferir se o povo vai se empolgar com a campanha de medo do “fascismo malvadão”, que, aliás, muitas vezes não sabe nem o que é “fascismo”.  Se vai levar isso em conta no dia 2 de outubro, ou se vai ficar em casa vendo TV, entediado com a perspectiva de continuidade da mesma política econômica e social dos últimos 30 anos, ou se vai se emopolgar em escolher se sua renda mínima será chamada de “Auxílio Brasil” ou “Bolsa Família”.

  1. Em 2018 fui bloqueado pelo Brasil 247 (apesar de raramente ter feito comentários por lá) porque defendi a necessidade de o PT e toda esquerda apoiar a candidatura de Ciro para impedir a vitória de Bolsonaro. Portanto, me sinto bastante decepcionado, embora nada mais me surpreenda quando se trata de políticos do campo tradicional, institucional, ao ver Ciro Gomes empenhado na destruição dos petistas (e dos comunistas, como eu, de forma implicita), tomando para si a tarefa inconclusa dos lavajatistas instruídos pela CIA. Cheguei à conclusão de que Ciro jamais foi um aliado de Lula. Tratava-se provavelmente de puro oportunismo ou, o que seria realmente repugnante, de infiltração com o propósito de obter informações a partir de dentro dos governos petistas para subsidiar uma estratégia de combate ao PT e sua influência. Ciro se apresenta como “de esquerda” com o único propósito de substituir a Lula, Brizola, etc, no imaginário político, mas como uma farsa, uma caricatura dessa imagem. Não, por acaso, cultiva a propaganda conservadora que iguala Hitler e Mussolini à Marx e Lênin, o fascismo ao comunismo, apresentando-se como distinto desses opostos, puro, o dono da verdeira verdade, o escolhido pelos deuses do Olimpo. Para que essa imagem produza os efeitos esperados, não tem pudor em sugerir que Lula e o PT são comunistas, pegando carona na propaganda de gente como o padre fake provocador do PTB. A defesa da candidatura de Ciro a fiz também no âmbito familiar, sem conseguir, entretanto, convencer os meus irmãos e primos (o que geralmente não ocorre). Desta vez, tenho que admitir, eles é que estavam certos.

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