124 anos de Pixinguinha

A foto mostra Pixinguinha e Louis Armstrong.
Botão Siga o Disparada no Google News

Por Nirton Venancio – Em novembro de 1957 o cantor e trompetista Louis Armstrong esteve no Brasil para uma turnê com shows em São Paulo e Rio de Janeiro, então Capital Federal. Foi recebido pelo presidente Juscelino Kubitschek, encontrou-se com o ator Grande Otelo, os cantores e compositores Dorival Caymmi, Elizeth Cardoso, Lamartine Babo, Fernando Lobo, foi homenageado com um banquete no Palácio Laranjeiras, onde cantou acompanhado por Sivuca… mas foi com o maestro, flautista, saxofonista, compositor Pixinguinha que o músico norte-americano mais afinou amizade.

A histórica foto acima, um flagrante de Luis Edgardi, da revista O Cruzeiro, simboliza bem o dia em que o jazz e o chorinho se encontraram.

Em 23 de abril, comemoram-se 124 anos do nascimento de Pixinguinha. A data foi escolhida para comemorar o Dia Nacional do Choro, gênero que mescla princípios da música africana e europeia, como a polca, e expressa uma melancolia resultante dos elementos e modulações de sons plangentes.

Quando o já denominado choro entra na nossa cena musical, era tocado por instrumentistas de bandas militares, e, principalmente, por operários da indústria têxtil e funcionários públicos. Pixinguinha trabalhava nos Correios, e tornou-se o maior compositor do gênero, apresentando-se nos cabarés da Lapa e teatros de revista, acompanhando cantores como Mário Reis e Francisco Alves, e participou de vários grupos instrumentais como Caxangá, Oito Batutas e o regional de Benedito Lacerda.

A melodia de “Carinhoso” foi composta em 1917, e posteriormente colocada letra por João de Barros. Somente nos final dos anos 30 tornou-se mais conhecida, com a gravação de Orlando Silva. Pixinguinha foi criticado por ser influenciado pela forma sincopada do jazz. Ele não se incomodou com o tom dessas observações, sabia que a variedade melódica, harmônica e rítmica de cada um dos gêneros tinha origem na cultura popular, na fascinante criatividade das comunidades negras.

Pixinguinha e Armstrong devem ter conversado muito sobre isso no encontro nos jardins do Palácio do Catete, onde a foto foi feita.

Por: Nirton Venancio.
Cineasta, roteirista, poeta e professor de literatura e cinema.

* Com adaptações, este texto será publicado no livro “Crônicas do Olhar” pela Editora Radiadora.