O vice-versa da questão social com a defesa nacional

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Não há desenvolvimento sem defesa nacional e não pode haver defesa nacional sem desenvolvimento. Assim como é impossível pensar em cultura e ciência e tecnologia sem defesa nacional e vice-versa. E do mesmo modo, não há combate à pobreza e ao desemprego sem também defesa nacional e vice-versa.

De forma resumida, esse é o tecido de problemas costurado com fios diversos nas mensagens dadas por Bresser-Pereira, Ciro Gomes e Darc Costa como convidados palestrantes para a aula magna virtual do lançamento do Centro de Estudos do Nacionalismo Marechal Horta Barbosa na última segunda-feira.

O lançamento foi marcado por intensa visualização pelo YouTube e grande repercussão nas redes sociais. Mais de 1.200 visualizações foram registradas apenas durante uma hora e cerca de 20 minutos de evento – e até ontem mais de 4.000 visualizações e 800 curtidas foram registradas. O Centro de Estudos do Nacionalismo Marechal Horta Barbosa é vinculado ao Instituto de Estudos Estratégicos (INEST) da Universidade Federal Fluminense.

Poderíamos esmiuçar uma lista aberta de questões relacionadas à defesa nacional e que, de uma forma ou de outra, estão subjacentes ou expressas nas colocações dos palestrantes: combate ao desemprego, miséria, racismo, homofobia, desigualdades sociais e econômicas, universidades caindo aos pedaços, bem como problemas de mercado para incentivar pequenos e médios empresas, ‘uberização’ do mercado de trabalho, informalidade, dívidas dos contribuintes etc. – tudo isso e diversos outros problemas  que passam por situações estruturais das relações entre estado e sociedade, que só podem ser resolvidos se tivermos um projeto de sociedade – um projeto de nação.

Mercado algum de forma abstrata irá resolver nossos problemas, nem forças etéreas ou nebulosas de supostos ‘investidores’ não identificados, ou então um ‘sobe e desce’ de Bolsa de Valores, numa espécie de jogatina de dados de um destino fetichizado sempre incerto.

Se o preâmbulo deste texto pode parecer uma obviedade para alguns – isto é, a reciprocidade dialética dos problemas –, para muitos outros haveremos sempre de alertar que vivemos, atualmente, com o atual desgoverno, o desmonte do estado e o desmantelamento do país, sem falar das ameaças contra democracia, outra forma tautológica de falar em destruição da nação.

Sem falar também que a obviedade, muitas vezes, está tão próxima dos olhos que, muitas vezes, não é percebida – e a atenção do senso comum acaba sendo desviada para outras questões também importantes, porém, subsumidas a esta principal, que é um projeto de sociedade.

“Sustento que o desenvolvimento depende de três premissas: em primeiro lugar, alto nível de poupança nacional. Em segundo, investimento em gente. Se não superarmos o gap existente nessa área, não há salto tecnológico. E em terceiro, coordenação estratégica. Jamais um estado poderoso prosperou sem coordenação estratégica com a participação da iniciativa privada e comprometimento da universidade. A questão nacional se reúne com a questão do desenvolvimento e o combate à pobreza. O Brasil está ameaçado de ser uma ex-nação”, advertiu Ciro Gomes.

Já Bresser-Pereira destacou a importância da criação do Centro de Estudos do Nacionalismo, dizendo ser oportuna a iniciativa em meio à falta de coragem da academia de enveredar por esse tema. “A teoria da dependência associada”, defendida por FHC e Enzo Faleto é a grande culpada na aceitação, pela introjeção do imperialismo, através dos investimentos das multinacionais na indústria, na América Latina e em outros países”, afirmou Bresser.

Segundo ele, “FHC e Faleto concluíram que não havia imperialismo. Os intelectuais foram fortemente influenciados. Não perceberam o caráter colonial. Durante anos, os intelectuais perderam a ideia de nação”, destacou Bresser, lamentando o que classificou como “tragédia” o que estamos vivendo.

Darc Costa, fundador do Instituto da Brasilidade, por sua vez, observou sobre a questão da soberania. “Não será possível resolver a questão social sem resolver a questão nacional. A questão social é nosso maior problema. E essa questão passa pela reconstrução nacional. Todas as instituições nacionais vêm sendo erodidas”, afirmou Darc Costa.

Dizendo que Ciro Gomes é o único que vem se preocupando com a questão nacional, o professor elencou os cinco pilares de compromissos numa perspectiva voltada para a reconstrução do país: democracia, soberania, solidariedade (com a eliminação das desigualdades chocantes), desenvolvimento econômico e a sustentabilidade.

Se a teoria da dependência não percebeu ou compactou com o imperialismo, Helid Raphael, coordenador do centro de estudos, afirmou que o golpe de 1964 teria sido a pá de cal. “O golpe sepultou o nacionalismo na academia e na política, daí a necessidade de resgate, sem a pretensão de sermos um Iseb, aliás, o único setor que não foi anistiado”, afirmou Raphael.

A criação do Centro de Estudos do Nacionalismo Horta Barbosa é uma iniciativa do professor emérito Eurico de Lima Figueiredo, do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense, preocupado justamente com esse resgate dentro da academia. O nome do centro é uma homenagem ao militar engenheiro, líder da campanha “O petróleo é nosso”, que culminou com a criação da Petrobras em 1953 por Getúlio Vargas.

  1. Toda vez que escuto a expressão “Defesa Nacional” fico alerta.

    “Não há desenvolvimento sem defesa nacional e não pode haver defesa nacional sem desenvolvimento”. Este é exatamente o cerne do discurso proferido por Robert S. McNamara em Montreal, em 1966, e que lançou as bases para a reorientação da ideologia da defesa nacional dos EUA e seus países “aliados” – entenda-se, sob sua esfera de influência. E o Brasil da Ditadura Militar seguiu religiosamente este receituário.

    É preciso estar-se ciente de que a pauta da defesa nacional sequestra todos os demais aspectos da vida nacional – tudo, absolutamente tudo, passa a ser defesa nacional. E isso definitivamente é um problema e não uma solução. Assim foi durante a Guerra Fria, onde a conjuntura internacional de defesa contra uma ameaça comunista raptava todas as questões do país – e, por conseguinte, todas as “soluções” passavam pela tal defesa nacional. A tentativa de impedir a eleição de Jango em 1961 passava pela “defesa nacional”, o golpe de 64 foi pela “defesa nacional”, a Ditadura Militar se impunha em nome da “defesa nacional” e por aí vai. A defesa nacional, uma pauta regida pela vertente de política externa, assume o controle da política interna; o internacional torna-se nacional, a ponto de tornarem-se indistintos.

    O ponto é: precisamos reformular o conceito de defesa nacional ou criar um novo conceito que atenda as verdadeiras necessidades brasileiras. Afinal, o termo “defesa”, de defesa nacional, é contra quem ou o quê?

    Que o recém fundado instituto nos ajude nesse sentido. Fiquemos alertas.

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