Guerra na Ucrânia: A crise no leste europeu e seus efeitos no Brasil

Guerra na Ucrânia A crise no leste europeu e seus efeitos no Brasil rússia (1)
Botão Siga o Disparada no Google News

Trabalhadores do Brasil, vivemos em tempos confusos e incertos. O destino sorri para o Brasil de forma bastante enigmática. A guerra na Ucrânia e os ocorridos recentes no leste europeu e seus desdobramentos no sistema internacional e na economia global empurram o Brasil cada vez mais para um ponto de não retorno, cuja estratégia brasileira em política internacional tenta evitar a qualquer custo, sem muito sucesso, diante de uma gigantesca pressão internacional. Neste artigo iremos tratar sobre como tais eventos podem impactar no futuro do Brasil e na qualidade de vida dos trabalhadores brasileiros.

Em primeiro lugar, é preciso dizer de forma clara e firme: não, esse conflito não começou agora. Pelo contrário, se desenrola desde muito tempo, e se escalou no leste europeu de forma drástica a partir do ano de 2014. Para pedir por paz, sem ser um hipócrita, é necessário compreender isso. Esta é uma situação particularmente delicada que demarca perfeitamente como evoluiu ao longo dos anos a ordem internacional construída pelos EUA após a Segunda Guerra Mundial, com participação de seus aliados do ocidente europeu, em oposição a União Soviética, dando vazão a divisão que conhecemos no sistema internacional em vigor durante a Guerra Fria na segunda metade do século XX.

Contudo,‌ ‌após‌ ‌a‌ ‌dissolução‌ ‌da‌ ‌União‌ ‌Soviética‌ ‌no‌ ‌final‌ ‌do‌ ‌século‌ ‌XX,‌ ‌um‌ ‌evento‌ ‌muito‌ ‌traumático‌ ‌para‌ ‌todo‌ ‌o‌ ‌leste‌ ‌europeu,‌ ‌a‌ ‌bipolaridade‌ ‌no‌ ‌sistema‌ ‌internacional‌ ‌passa‌ ‌por‌ ‌uma‌ ‌abrupta‌ ‌transformação‌, ‌em‌ ‌uma‌ ‌unipolaridade‌ ‌dirigida‌ ‌no‌ ‌plano‌ ‌internacional‌ ‌pelos EUA,‌ ‌OTAN,‌ ‌União‌ ‌Europeia, seus aliados e parceiros ‌minoritários.‌ ‌De‌ ‌tal‌ ‌sorte,‌ ‌tal‌ ‌“unipolaridade”‌ ‌que‌ ‌coincidiu‌ ‌com‌ ‌a‌ ‌financeirização‌ ‌global‌ ‌e‌ ‌supremacia‌ ‌do‌ ‌neoliberalismo‌ ‌e‌ ‌do‌ ‌modo‌ ‌de‌ ‌produção‌ ‌capitalista‌ ‌organizado‌ ‌descentralizadamente,‌ ‌como‌ ‌o‌ ‌vivemos‌ ‌hoje,‌ ‌nunca‌ ‌funcionou‌ ‌em‌ ‌harmonia‌ ‌por‌ ‌si‌ ‌própria.‌ ‌

Pelo‌ ‌contrário,‌ ‌precisava‌ ‌de‌ ‌uma‌ ‌instituição‌ ‌que‌ ‌mantivesse‌ ‌a‌ ‌“ordem”.‌ ‌Essa, claro,‌ ‌não‌ ‌consistia‌ ‌na‌ ‌ONU,‌ ‌fórum‌ ‌global‌ ‌para‌ ‌resolução‌ ‌de‌ ‌conflitos‌ ‌diplomáticos‌ ‌entre‌ ‌as‌ ‌nações,‌ ‌mas‌ ‌na‌ ‌OTAN,‌ ‌uma‌ ‌organização‌ ‌militar‌ ‌altamente‌ ‌hierarquizada‌ ‌e‌ ‌burocratizada,‌ ‌que‌ ‌atuou ‌fora‌ ‌da‌ ‌área‌ geográfica para a qual fora idealizada, cada vez mais como uma polícia do mundo e abrindo novos mercados para a burguesia internacional e para o capital financeiro poder continuar sua rapina.

Nesse sentido, podemos contar um número imenso de intervenções militares, agressões contra a soberania nacional, desmembramento de países, derrubada de governos, sempre no sentido de policiar e reprimir povos e nações com estados-nacionais fortes que se voltam contra o bloco hegemônico, ou de abrir militarmente novos mercados para o lucro deste mesmo bloco hegemônico em sua competição com nascentes potências, os países emergentes.

É assim que podemos observar as subsequentes intervenções e operações de troca de regime no Oriente Médio, no Caribe, na África, na América Latina, e de forma particularmente perigosa, no leste europeu, próximo a um dos poucos Estados-Nacionais cuja força militar pode fazer significativa frente aos interesses do bloco hegemônico, a Rússia. É exatamente nesse contexto que se inserem os recentes ocorridos na Ucrânia.

A Ucrânia enquanto aliada histórica da Rússia, atuava como um estado tampão, protegendo a Rússia de adversários da Europa Ocidental e atuando como uma “ponte entre o ocidente e o oriente”. Após o golpe na Ucrânia, que fomentou a ascensão da extrema-direita, o país passou, da mesma forma que o Brasil após o golpe de 2016, a ter um alinhamento geopolítico oposto ao que vinha seguindo, pregando alinhamento automático com UE, EUA e OTAN.

Privilegiando os interesses de uma população do oeste da Ucrânia, mais próximo culturalmente do ocidente, em detrimento dos interesses do leste daquele país, mais próximo culturalmente da Rússia. Isso não se deu por acaso, as digitais dos EUA, com atuação de Biden diga-se, da UE, e da OTAN no processo político vivido pela Ucrânia são evidentes.

A mídia ocidental e o governo ucraniano, desde o começo da guerra civil iniciada após os desdobramentos do golpe de 2014, falam sobre “separatistas russos” para se referirem aos cidadãos da região de Donbass, que possuem origens russas. Não apenas os combatentes, e pessoas que se organizam numa infinidade de grupos paramilitares de diversas ideologias, anti-governo.

Parte fundamental do processo de desumanizar essa minoria ucraniana consistia em considerar todos “agentes russos”, reprimi-los violentamente e nunca reconhecer suas demandas ou as contradições que as geraram. Muitas pessoas comuns, crianças, idosos, estes cidadãos ucranianos, foram bombardeados desde 2014 e suas demandas por reconhecimento descredibilizadas sob a alcunha de “agentes russos”. Como algumas velhas paranoias no ocidente ainda subsistem, ninguém ligou, pois, naturalmente, “a Rússia é má” e esse absurdo pareceu uma narrativa plausível.

A Ucrânia, desde 2014, após uma forte guerra de desinformação e um golpe, rumou para um forte processo radical e agressivo de “desrussificação cultural” e valorização chauvinista do que é tido como parte da Europa ocidental, ignorando a enorme presença de descendentes e pessoas com forte ligação cultural com a Rússia em seu próprio país, além de oferecer perigo às outras minorias étnicas que vivem no país. Em qualquer lugar do ocidente geopolítico, isso seria considerado, como de fato é, eugenia.

Particularmente, o ódio ao que é “russo” é central para a extrema-direita ucraniana. Além disso, em uma identidade artificial criada inteiramente em oposição ao período soviético, o regime na Ucrânia fomentou o culto a figuras da história nacional que sabidamente colaboraram com nazistas e participaram da perseguição de judeus. Relatórios de associações judaicas da Ucrânia demonstram aumento de anti-semitismo.

A Polícia Federal e Polícia Civil brasileira prenderam neo-nazistas brasileiros desde 2016 indo para um batalhão neo-nazista formalmente integrado as Forças Armadas Ucranianas. Justamente os mesmos grupos que barbarizaram com as minorias e populações da região de Donbass. É um sinal, por exemplo, que o estado-nacional e a justiça do Brasil reconhecem que existem batalhões neonazistas nas Forças Armadas da Ucrânia e consideram isso, de certa forma, um problema para nossa segurança nacional.

Não é apenas impossível negar que exista um imenso problema com neonazismo na Ucrânia, é um absurdo para com as vítimas dessa guerra civil, que a mídia ousa insistir em continuar negando, que ocorre desde 2014. A narrativa na maior parte dos jornais do ocidente dá conta de que a Rússia “atacou a Ucrânia”, pois tem interesse em anexá-la.

Isso não é toda a verdade, é simplista, e até mesmo preconceituoso. O que interessa a parte russa, geo estrategicamente, é o fim da expansão da influência dos EUA, União Europeia e OTAN rumo a suas fronteiras. Num plano ético-moral objetivo, existe o genocídio e a eugenia, reais, praticados pelo governo da Ucrânia contra seus próprios cidadãos com ligações culturais e familiares com a Rússia.

Pode-se não gostar da decisão do Putin, e é perfeitamente possível ser contra o uso da força, mas negar que a Ucrânia tenha um grave problema com neo-nazismo entranhado em seu Estado e Forças Armadas, é mentira e canalhice para proteger justamente aqueles que fomentaram o crescimento do neo-nazismo por lá, como fazem no Oriente Médio fomentando o jihadismo para causar o caos e depois fazer a rapina: os EUA e seus aliados.

É exatamente pelo aumento da infraestrutura e do aparato militar da OTAN na fronteira da Ucrânia com a Polônia, bem como de atividades da camufladas da OTAN na própria Ucrânia, que ameaçam a Rússia, que o país mobilizou seu efetivo e não por pretensões expansionistas como afirmam por aqui os papagaios da Reuters.

Existe uma guerra forte de desinformação.

De fato, existem tropas formais russas em um bom número, contudo, ainda que seja impreciso e inconclusivo, não parece ser desprezível o número de tropas terrestres de ucranianos anti-fascistas, anti-governo e tropas das Repúblicas de Lugansk e Donetsk combatendo. Eles utilizam aparelhos militares também. Não é uma situação como a que estamos acostumados, e parece ser um pouco diferente do que é retratado na grande mídia. Existem muitas milícias militares e outros grupos nas regiões separatistas e em outras áreas da Ucrânia, é bem provável que estejam participando do esforço militar.

A campanha de mídia do ocidente quer levar a crer que TODOS contra Kiev são tropas russas. Para fazer crer que foi uma invasão formal de velho tipo. Até aqui, tudo leva a crer que não é bem isso já que existem outras forças contra o governo ucraniano, como as Repúblicas de Lugansk e Donetsk e outras forças antigoverno. O argumento russo provavelmente virá nesse sentido após o término do conflito.

De sorte que a única resolução pacífica para o confronto implicaria em concessões por parte do real agressor em toda esta situação, EUA, UE e OTAN. O bloco hegemônico. Enquanto isso, os EUA utilizam-se da estratégia de culpar o lado que reage a uma guerra que eles mesmos querem travar a qualquer custo para abrir novos mercados e mudar o paradigma da divisão de poder na Europa, como forma de tentar sustentar a unipolaridade, e estimulam o governo ucraniano a insistir numa batalha que pode se tornar um banho de sangue. Isto evidentemente não finda com a questão da Ucrânia, é um conflito de poder e interesses muito maior, relativo a nova ordem internacional.

O Brasil não pode cometer a loucura de se posicionar internacionalmente de forma equivocada em mais essa questão. O resultado é previsível de antemão. A Rússia dificilmente perderá jogando em casa no Leste-Europeu. A Rússia muito provavelmente irá alcançar seu objetivo estratégico do “grande jogo”, se afastar da OTAN e garantir sua zona de segurança. Além disso, realmente, a questão da extrema-direita militarizada em milícias, como existia na Ucrânia, deve ser resolvida.

É verdade que, como diria o filósofo Hegel, a ave de minerva só alça voo ao crepúsculo. Contudo, está lançada uma tendência para os próximos dias: Uma imensa vitória de Pirro da Rússia.

É provável que a Rússia cumpra seus objetivos estratégicos na Ucrânia, mas sob um alto custo de legitimidade. Se o desafio ao Sistema Internacional feito pela Rússia, a partir da situação criada e fomentada pelos EUA , UE e pela OTAN, era no sentido de mudar sua inserção e afirmar o início de uma divisão multipolar do poder na esfera internacional surgindo a partir dos escombros do movimento não alinhado e terceiro mundista do século XX, provavelmente conseguiu o oposto. Parece que a OTAN conservou e convergiu energia.

A decisão da Rússia, quando o mundo finalmente colocou seu foco nesse conflito após 8 anos de agressões da Ucrânia contra as populações civis da região de Donbass, e finalmente partir para a ofensiva, pode facilitar muito o trabalho dos EUA e do ocidente em minar sua legitimidade e formar uma coalizão sem precedentes, como pode ocorrer se a Finlândia realmente mudar seu posicionamento militar quanto a Rússia.

Basta perceber como o senso médio no ocidente, seguindo as mídias hegemônicas, está seguindo a narrativa dos EUA e da OTAN e imaginar o quanto a opinião pública global vai ser afetada por isso. Somos bombardeados com notícias para que acreditemos que tal operação militar russa marca o início de um confronto ou guerra, quando na verdade esse conflito já existe desde 2014 e a mídia hegemônica toma o lado dos que oprimiram minorias de forma violenta, violando direitos humanos, por cerca de 8 anos.

Pensando nas Relações Internacionais, isso é refletido nas pressões internas e externas que as diplomacias de Brasil, China e Índia recebem para condenar frontalmente e formalmente a Rússia. O que pode dificultar muito as coisas na esfera internacional daqui para frente. Não é um bom prognóstico por enquanto, essa bomba de pressão pode estourar no lado mais fraco e mais vinculado aos EUA dessa corrente, o Brasil.

É mais interessante do que nunca que a opinião pública brasileira esteja preparada e mobilizada em conjunto com a posição seguida até aqui pelo Itamaraty e mais importante que isso, sua tradição. Basta seguir nossa história e tradição que podemos ter exatamente a inserção que queremos no cenário internacional. Mas para isso, precisamos de um amplo movimento de massas. É um momento histórico que o Brasil precisa ser um dos atores principais no processo de paz, colocando as partes para conversar, sem negar voz à Rússia, e prezando ACIMA DE TUDO, pelo bem estar das populações da região do leste europeu, em detrimento dos interesses econômicos do ocidente e dos EUA em especial.

O governo e o Estado-brasileiro vem sendo pressionados para que condenem formalmente a Rússia e participem do esforço belicista contra o gigante do leste europeu. Contudo, parece existir um choque claro entre a estratégia de longo prazo do Estado-Nacional do Brasil que tem na Rússia um aliado, e a estratégia do Governo, sobretudo os mais afinados com a retórica do ocidente e do Imperialismo norte-americano, como Mourão que já deu declarações absurdas defendendo que a Rússia seja atacada. Embora tenha sofrido uma das maiores pressões de sua história, a diplomacia brasileira ainda guarda sua maior carta para assegurar reinserção da Rússia no Sistema Internacional e impedir a escalada militar da OTAN e dos EUA: A segurança alimentar. Se a cadeia de fertilizantes que o Brasil compra da Rússia, bem como outros produtos, colapsar, o país pode deixar de suprir as demandas externas, guardando o necessário para si, e ocasionando, infelizmente, em fome no mundo.

Para além disso, Bolsonaro parece ter admitido sua ignorância quanto ao caso e ter feito a opção de ficar em silêncio, corretamente mantendo a neutralidade. Fontes próximas ao governo afirmaram que esta questão será tratada pelo Itamaraty, como política de estado e não de governo. Nesse sentido, o erro de nosso inimigo, Bolsonaro, é uma bênção para todos que, diferente deste, amam o Brasil de verdade.

É importante dizer que, por mais que a mídia tente colar a imagem de Bolsonaro em Vladimir Putin, presidente da Rússia, na realidade os bolsonaristas tem muitas ligações com os neonazistas da Ucrânia. Já foram vistas bandeiras de grupos extremistas ucranianos em protestos bolsonaristas, além disso um cidadão brasileiro residente na Ucrânia que treinava milícias paramilitares de extrema direita, bolsonarista confesso, afirmou abertamente que planejava abrir uma “filial” por aqui.

Que o Brasil, que não é uma potência militar de porte global, e tem tradição de resolução diplomática de conflitos, condene qualquer resolução por uso da força, não é apenas compreensível, mas legítimo para sobreviver no Sistema Internacional. Sobretudo, contra aqueles que nos enxergam como seu quintal, e adorariam encontrar uma contradição em nosso discurso externo para justificar aumentar seu poder sobre nós.

O que é muito estranho, é a participação dos EUA , que, como faz agora a Rússia, estão acostumados a intervir no país dos outros sob o mesmo pretexto de defesa dos direitos humanos. É curioso, e de certa forma, revelador, que sejam justamente os EUA, que participaram ativamente deste processo desde 2014, que estejam encontrando legitimidade na arena internacional e liderando uma coalizão que parece não querer espaço para uma paz pactuada entre as partes.

É curiosa, também, a forma como tal as participações do Brasil na ONU têm sido retratadas na imprensa nacional. Parece que a mesma mídia que fomentou o lavajatismo e o lawfare e o golpe de 2016  já escolheu seu lado no conflito do leste europeu. Um lado que, de forma curiosa, parece representar muito bem certas forças que ingressaram na vida política brasileira após o ano de 2014, como o MBL e o ex-juiz Sérgio Moro. Algo que parece natural  quando se pensa que falamos da mesma mídia que nem parece se sentir culpada por fazer a opinião pública apoiar os abusos da lava-jato, evidentemente favoráveis aos EUA, OTAN e seus aliados, e contrários ao desenvolvimento dos BRICS. Abusos estes que incluem até mesmo a morte do ex-reitor da UFSC, que cometeu suicídio ao ser condenado injustamente e ter sua imagem destruída. A mesma mídia faz força para gerar um alinhamento aos EUA, e condenação acrítica da Rússia, que não se verifica na íntegra dos discursos feitos por nossa diplomacia até aqui. O que parece ficar claro, também nesse caso, é que o Brasil foi pressionado a tomar uma posição que não considera justa. Parecem ignorar deliberadamente uma crítica contundente feita por nossa diplomacia na segunda reunião da ONU sobre e o tema, dirigida aos EUA:

O enquadramento do uso da força contra a Ucrânia como um ato de agressão, precedente pouco utilizado neste Conselho, sinaliza ao mundo a gravidade da situação, mas também pode minimizar outros momentos em que a força foi usada contra a integridade territorial dos Estados-Membros sem reação equivalente do Conselho.”

É bem provável que, com a disseminação do tema e com a profusão midiática do ocidente, a opinião pública da União Europeia, que é liberal de esquerda, ache aceitável pagar um preço muito mais elevado por diversos produtos. Se isso acontecer, os EUA, principal culpado e estimulador da instabilidade na região do leste europeu desde antes do golpe sofrido pela Ucrânia em 2014, vão lucrar valores absurdos fornecendo mercadorias para a Europa. A Rússia, muito embora consiga sobreviver de forma autônoma com as sanções, irá reduzir seu ritmo de crescimento econômico, e pode ficar vulnerável a sabotagem internas, a curto prazo pela mídia, a médio e longo prazo por insatisfação caso as sanções prejudiquem o desenvolvimento da economia. E o Brasil? Como se insere nisso?

Ao Brasil, historicamente pressionado por suas relações desiguais e assimétricas com os países da Europa e com os Estados Unidos, interessa o fim da unipolaridade, como uma forma de ter condições e possibilidades de construção de um projeto autônomo de nação. A multipolaridade interessa ao Brasil, no sentido que ela permite que nosso país se aproveite do fim da velha ordem, no alvorecer da nova ordem, ainda sem forma, para postular por uma melhor posição na divisão política e econômica no globo.

Para além disso, o Brasil tem compromissos e um claro alinhamento de longo prazo com seus parceiros dos BRICS, para a construção de um mundo multipolar, isto é, onde o poder é dividido em uma série de polos, e não assegurado apenas por uma única potência hegemônica que submete todas as outras. Isso não é uma questão de Governo.

É importante perceber que as conversas para a existência de um alinhamento de Estado de tal sorte começa no no começo do período Lula, se manteve com Dilma e Temer, e mesmo aos trancos e barrancos se manteve neste atual momento decisivo, um período de maior fragilidade internacional do Brasil, após o atentado grave cometido contra a imagem do país, conhecido como “governo Bolsonaro”. Até mesmo setores militares entendem que, embora sejam favoráveis aos EUA, o Brasil deve estrategicamente manter os BRICS como prioridade por razões materiais óbvias: Os BRICS tem muito mais a oferecer para nós.

Guerra na Ucrânia A crise no leste europeu e seus efeitos no Brasil rússia (1)

Nesse sentido, vivemos um período histórico que é como uma espécie de período de transição, entre o velho e o novo. A velha ordem não morreu, mas a nova ordem existe em germe, mas ainda não foi estabelecida. A história não é feita por tendências, é feita por ações, pela luta de classes e pela contradição imperialista vivida entre países desenvolvidos e países subdesenvolvidos. Em outras palavras, se na prática já existe o germe da “multipolaridade” existindo neste momento, este pode ser “abortado” ou obstaculizado de forma violenta. A jogada da Rússia acelerou todo um processo que corre de forma gradual há anos. Para o Brasil, que sempre manteve uma postura “teatral” de neutralidade, por saber que o império do norte nos sobrepuja, existem diversos cenários possíveis:

– O Brasil pode não ter protagonismo algum no processo de formação na nova ordem global e se posicionar automaticamente junto aos EUA.

Nesse caso, se a unipolaridade continuar, seguiremos sendo vassalos da potência hegemônica.

Caso a multipolaridade vença, nesse caso, por não termos protagonismo algum neste processo, nossa inserção continuará sendo ruim. Podemos, portanto, mesmo num mundo multipolar seguir sendo vassalos dos EUA, nesse cenário hipotético atuando como potência regional militar e econômica, e não mais potência hegemônica.

– O Brasil pode ter protagonismo no processo de formação da nova ordem se alinhando aos países BRICS.

Caso a multipolaridade vença, teremos muito mais chance, por intermédio de alianças, de nos libertar da influência dos EUA. Contudo, nesse caso, isso também significaria que passará a existir um novo bloco mundial hegemônico, com novas contradições, novas dependências e novas submissões. Se hoje certos países não podem ser considerados plenamente imperialistas, com a existência de um mundo plenamente multipolar e o declínio dos EUA e ascensão de outras potências, tal situação pode mudar O Brasil, portanto, caso exista uma vitória da multipolaridade, deve estar atento a contradição de não se tornar dependente do novo eixo do poder, a pretexto de se libertar do antigo, que está muito mais próximo geograficamente de nós.

Caso a unipolaridade vença, nesse caso de apoio a aliança dos BRICS o Brasil certamente teria sofrido uma imensa derrota, e provavelmente pagaria um preço incalculável como “espólio de guerra” aos EUA e seus aliados, que continuariam a ser a potência hegemônica.

A questão é, o Brasil não está em seu melhor momento para “escolher tal dilema”. São escolhas muito difíceis e devem ser estudadas, talvez por anos. Por isso, nosso país deve manter a postura de neutralidade diplomática oficial, condenando o uso da força, condenando a violação aos direitos humanos perpetrada pelo governo ucraniano, respeitando as demandas de ambas as partes, sua estratégia natural e tradicional até aqui. Isto é o melhor para o Brasil para a classe trabalhadora brasileira, o melhor para a Ucrânia e para a classe trabalhadora da Ucrânia, e para a Rússia e para a classe trabalhadora da Rússia. Qualquer postura diferente desta, é um canto da sereia que chama para o belicismo disfarçado de bom mocismo.”. Contudo, ainda devemos refletir sobre uma escolha que teremos que fazer no futuro

SOBRE A ESCOLHA QUE O BRASIL DEVERÁ FAZER EM ALGUM MOMENTO:

Nesse sentido, se o movimento de Putin precipita uma batalha que já ocorria gradualmente na economia e no sistema internacional, entre a unipolaridade de EUA, OTAN e UE, e a possibilidade de multipolaridade representada pelos BRICS.  Ocorre que o Brasil, que seguia uma linha clara de, por estar embaixo dos EUA conciliar com este, enquanto fazia a estratégia dos BRICS, tomou um golpe em 2016 que nos colocou muito mais próximos da órbita dos EUA políticamente, economicamente e socialmente. O movimento recente de Putin no cenário internacional obriga o Brasil a três alternativas urgentes:

1: Apoiar para que o conflito não escale, pregar a condenação do uso da força, mas pactuar para beneficiar a Rússia em sua reinserção no Sistema Internacional. É isso que fazemos agora, não apenas por nossa aliança de longo prazo com a Rússia, mas porque o Itamaraty compreende, corretamente, que a neutralidade nos beneficia pois não nos obriga a tomar uma escolha que não podemos tomar no momento.

Por isso, se o Brasil não quiser ser obrigado a sair de sua política de ambiguidade com o bloco hegemônico (EUA, UE, OTAN) e com o bloco contestador da ordem global (BRICS) deve ser o país do mundo que mais luta por uma paz real, e não uma paz demagógica e discursiva. Os efeitos disso já demonstram afetar o agronegócio.

Contudo, se essa batalha escalar, teremos de fazer uma escolha.

2: Nos resignar a unipolaridade de forma covarde, e apoiar EUA, OTAN e UE, para continuarmos sendo a fazenda do mundo, e curral de mão de obra para os países desenvolvidos na divisão internacional do trabalho.

3: Ou defendemos abertamente a multipolaridade, que é não apenas pauta nossa, mas um dos maiores legados de nossa política externa trabalhista – socialista da década de 60, construindo o movimento terceiro mundista não alinhado ao lado de países como a China, cujos BRICS são um desenvolvimento.

Não se trata aqui de fazer parte de um novo consórcio imperial hegemônico sobre os escombros da velha ordem. O Brasil nunca deveria entrar estrategicamente pensando em nada que não seja: reunir condições internas e externas para que sua população viva bem sem explorar outros países e povos.

Lutemos o máximo que der pela paz, pois o conflito não é bom para ninguém. É ruim sobretudo para o povo ucraniano, mas pode ser desastroso para o Brasil. Contudo, se isso não for possível e realmente houver uma escalada, não tenham dúvida de qual lado ficar.

O lado que permite o Brasil se desenvolver de forma autônoma sem ser quintal de nenhuma potência imperialista que nos sacaneia há mais de 100 anos nos dando golpes. Essa é a única possibilidade onde existe chance real e duradoura de construir por nossas próprias mãos um Brasil novo, socialista à sua maneira, desde que a classe trabalhadora tenha força para sobrepujar a classe dominante vassala ao imperialismo, pois nessa nova Ordem Internacional, os EUA perderam muito poder.

E AÍ, JÁ ESTAMOS PRONTOS PARA CONVERSAR SOBRE O QUE FIZERAM CONOSCO EM 2016?

O golpe de 2016 não foi contra o PT, não foi contra a esquerda, foi contra o Brasil. Foi para nos tirar de nossa posição dos BRICS, após a crise de 2008, e para nos tirar da defesa da construção de um mundo multipolar. Foi para impedir que construíssemos o banco dos BRICS e ajudarmos a resolver o problema do financiamento, competindo com o FMI, para países de terceiro-mundo. Foi contra o futuro do povo brasileiro, livre e autônomo. O golpe visava desarticular o Brasil enquanto maior representante diplomático dos BRICS e segunda maior potência econômica do bloco.

Não por acaso jogaram essa ideologia ultra-liberal tacanha para cima de nós, seja em sua versão de esquerda liberal, seja a versão liberal na economia conservador nos costumes. Tudo para que nós aceitemos a hegemonia decrépita do neoliberalismo e seus dogmas e para forçar que nossa opinião pública justificasse um alinhamento cada vez maior com EUA, UE, e OTAN que na verdade vinha de cima para baixo, e não pela vontade de meia dúzia de liberais de sapatênis protestando.

O povo brasileiro precisa tomar seu destino nas próprias mãos e rápido. A janela de transformações foi aberta antes do que estávamos esperando. Por isso:

O Brasil não pode deixar de responder a questão nacional, precisamos afirmar nossa cultura e nacionalidade diversa, de forma respeitosa, precisa de uma projeto nacional de desenvolvimento para organizar seu terreno interno e voltar a crescer e gerar empregos, precisa de planificação e planejamento na economia para acabar com a “anarquia da produção”, precisa retomar com o programa nuclear, precisa abolir os dogmas neoliberais, precisa conter as perdas internacionais, precisa resolver sua questão de distribuição agrária, precisa resolver suas questões sociais internas mais profundas, se reindustrializar, refundar forças armadas e realmente investir nelas.

Mas sobretudo precisa de forma urgente ajudar a organizar o mundo-latino, a américa do sul, e o mundo-lusófono para que nossos irmãos e hermanos consigam resistir às pressões desse novo mundo, precisa se realinhar com os BRICS.

Poucas pessoas entendem isso, mas vou dizer: Qualquer país do Oriente Médio e da Ásia prefere fazer negócios com o Brasil e ter em nós um grande parceiro no ocidente do que com os EUA. Eles sabem que nós não temos como projetar poder sobre eles. Isso só não ocorre tanto no oriente pela projeção do imperialismo norte-americano na Ásia tomando mercados na base da força. Mas é evidente que boa parte dos países na Ásia não querem nem a China, nem a Índia, nem a Rússia e nem os EUA, isso seria uma ótima forma do Brasil se inserir nos mercados menores (mas nem por isso piores) da Ásia.

Desde 2016 o ponto central do golpe que sofremos é esse: nós abdicamos de nosso papel de liderança no cenário internacional para com os países de terceiro mundo que sempre viram no Brasil um gigantesco aliado silencioso, e não existe vácuo na política.

SOBRE OS DESDOBRAMENTOS EM OUTRAS REGIÕES:

Dois pontos não óbvio mas que são mais do que importantes para observarmos nesse momento:

Qual será a posição do Japão, que já começou a ameaçar se utilizar do isolamento internacional da Rússia para tentar lhe tomar territórios navais (ilhas) que ambas as nações disputam.

O que irá ocorrer na Sérvia. A OTAN, a UE e os EUA observam a Sérvia nesse momento, após manifestações de apoio a Rússia, mesmo sob bloqueio midiático, por parte de algumas camadas da população sérvia que saíram para as ruas cantando “Sérvios e Russos são irmãos”. O bloco do ocidente parece querer aumentar sua presença no Kosovo para manter a ex-república da saudosa Iugoslávia na coleira.

SOBRE A MÍDIA, A DIPLOMACIA BRASILEIRA, E A TENTATIVA DE ISOLAMENTO DA RÚSSIA NO SISTEMA INTERNACIONAL:

A atitude da diplomacia brasileira de não boicotar o diplomata russo na ONU foi honrada e representa bem a tradição do Itamaraty. Condenar o uso da força é legítimo, mas está claro que querem isolar a Rússia de forma desproporcional a tudo que já foi feito no Sistema Internacional.  Isso só se torna mais hipócrita quando percebemos que as violações cometidas contra os direitos humanos pelo governo ucraniano estão sendo varridas para baixo do tapete pela mídia ocidental e pela opinião pública. Afirmo sem rodeios: O que está acontecendo não é justo, e essa injustiça, só pode escalonar com as tensões militares. A injustiça é combustível da revolta, não existe paz com injustiça.

Por que a FIFA nunca baniu os EUA que invade e bombardeia a todos? Por que nunca tiraram os EUA do Swift? Por que nunca puniram os EUA pela invasão e ocupação do Iraque?

Se o que ocorre hoje com a Federação Russa fosse uma reação justa, a verdade é que nunca teríamos visto nenhum time esportivo norte-americano competir na vida. O boicote que vem sendo feito contra a Federação Russa, há muito, no âmbito esportivo, é algo asqueroso, fruto dos escombros mais estúpidos da Guerra Fria. Esse tipo de punição não é contra o governo russo, é contra as pessoas do país, é contra a nacionalidade russa como um todo.

Para além disso, mídia ocidental parece seguir muito bem o mesmo critério do governo eugenista de Kiev para determinar quem é ucraniano e quem não é:

É a favor do governo, do ocidente, da UE e da OTAN ou beneficia a propaganda destes? Então é ucraniano.

É a favor do separatismo de Donbass, das minorias russas e contra as medidas radicais de apagamento cultural e religioso? Então não é ucraniano, é “agente russo”, “sabotador russo”, “russo”, “do lado russo”, “separatista russo”.

O mais triste é saber que esse é justamente o núcleo central da política de extermínio e castração cultural que o governo de Kiev pratica desde 2014, sendo reproduzido e naturalizado por aqui.

Simplificando: pessoas morrem desde 2014 sob o manto desse argumento russofóbico e preconceituoso de que todos os ucranianos que lutam por seus direitos suprimidos desde 2014 são “agentes russos”, “sabotadores russos”, “terroristas russos” ou simplesmente “separatistas pró-Rússia”.

SURFISTA TEM QUE SER MALANDRO SENÃO TOMA CALDO:

Políticos que hoje surfam na onda da Ucrânia, tiram foto com bandeira de partido neo-fascista ucraniano etc., devem ir se preparando para muitas explicações no futuro.

O conflito uma hora vai acabar, e será insustentável defender o regime ucraniano se a Rússia sair vitoriosa e reunir mais provas sobre as violações dos direitos humanos e sobre a eugenia praticadas pelo governo ucraniano contra as populações de Donbass. Mesmo que não fosse assim, já existem provas substanciais hoje, e como todos sabem, políticos tem equipes de assessoria para pesquisar justamente esse tipo de coisa. É impossível mentir sobre isso para sempre e muita gente vai se dar mal surfando a onda errada.

No século passado, aconteceu a mesma coisa na década de 30 até o fim da segunda guerra mundial, por todo o ocidente…

SOBRE AS SANÇÕES SOFRIDAS POR RÚSSIA E BIELORÚSSIA E SEUS IMPACTOS PARA O BRASIL:

Se a demanda energética da Europa foi respeitada durante as sanções econômicas contra a Rússia, as demandas brasileiras parecem ter sido ignoradas. Em entrevista dura e sincera, o embaixador da Bielorrússia Sergey Lukashevich, explica que o Brasil já sofre com problemas para obter fertilizantes, por bloqueio de parceiros dos EUA, UE E OTAN contra a Bielorrússia, o que pode impactar em nossas safras, e causar um grave problema de segurança alimentar no globo se o conflito demorar mais e escalar.

VIDA LONGA AO POVO LIVRE E FORTE DAS REPÚBLICAS POPULARES DE DONESTK E LUGANSK! – A HISTÓRIA QUE A HISTÓRIA NÃO CONTA:

Trabalhadores do Brasil, o mundo vive hoje uma situação drástica. Os acontecimentos no leste europeu empurram o mundo e o Brasil para uma posição cada vez mais difícil. Redes de mídia em todo ocidente afirmam para nós que este conflito começou há pouco tempo e que partiu de uma agressão unilateral da Federação Russa. Nessa parte do artigo explicaremos sobre as Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk e sobre por que a situação é muito diferente da que é retratada pelos veículos de imprensa.

Guerra na Ucrânia A crise no leste europeu e seus efeitos no Brasil rússia (1)

Como todos sabem a Ucrânia sofreu um golpe em 2014, que mudou seu alinhamento geopolítico, se antes os governos desde a independência do país lançavam mão de uma cooperação com a Rússia e com o Ocidente ao mesmo tempo e utilizavam a posição geográfica da Ucrânia para ser “a ponte entre Europa ocidental e Eurásia”, após o golpe ficou claro que as forças que reformaram o Estado-Nacional ucraniano buscavam alinhamento com EUA, UE e OTAN, beneficiando os interesses de uma população da Ucrânia ocidental, em detrimento dos interesses, cultura e história das populações da Ucrânia oriental, sobretudo das populações ucranianas de Donbass com fortes ligações históricas com a Rússia.

O governo implantado assumiu feições ultra-nacionalistas, mas não num caráter meramente defensivo como estamos acostumados no terceiro-mundo. Tal governo formado sob forte influência da extrema-direita ucraniana, passou a fazer revisionismo histórico com memórias importantes para o povo da Ucrânia, colocou no centro da ideologia da Identidade Nacional figuras como Bandera, ucranianos que colaboraram com o Nazismo no século XX e perseguiram russos e judeus. Tal ideologia passou a ser ensinada em escolas e passou a fazer parte do aparato reprodutor do Estado. A ideologia “bandeirista”, núcleo da extrema-direita na Ucrânia, passou a ser a ideologia do Estado-Nacional ucraniano enquanto este era governado sob os interesses de UE, OTAN e EUA. Como afirmam os relatórios do Ministério das Relações Exteriores da Federação Russa, Moscou, 2020 sobre a situação dos direitos humanos na Ucrânia:

“Ao mesmo tempo, ideias nacionalistas e xenófobas são implantadas em programas de educação patriótica da juventude, em particular a russofobia agressiva, bem como ideologias de glorificação dos cúmplices nazistas. A Estratégia de Educação Patriótica Nacional para 2020–2025, assinada por Pyotr Poroshenko em maio de 2019, dois dias antes do final de seu mandato presidencial, foi adotada para servir de pilar para este trabalho. O documento prevê o desenvolvimento de valores entre as gerações mais jovens com base em exemplos herdados, em particular, dos Sich Riflemen, unidades do Carpathian Sich — organização paramilitar criada em Carpatho-Ucrânia em 1938–1939 — e da UIA. As pessoas que participam da АТО (Anti-Terrorist Operation Zone) e da operação das Forças Unidas em Donbass também devem se tornar modelos. Os currículos de história para as séries 5–9 e 10–11 das escolas secundárias e instituições de ensino superior aprovados pelo Ministério da Saúde e Ciência são projetados para construir um entendimento entre os alunos do período soviético como um momento de “ocupação” das terras ucranianas. Os alunos são obrigados, entre outros, a fazer uma avaliação bem fundamentada do papel de Stepan Bandera, Andrey Melnik, Roman Shukhevych e outros nacionalistas do “movimento de libertação ucraniano”.

Nas escolas da Ucrânia há também uma disciplina obrigatória para as séries 10 e 11, “Defesa da Ucrânia” (até fevereiro de 2020 era chamada “Defesa da Pátria”, o nome foi alterado por iniciativa da Ministra da Educação e Ciência Anna Novosad, pois carrega o “legado do paradigma soviético”). Nos anos da liderança “Maidan” este assunto adquiriu um forte viés nacionalista. Por exemplo, conforme os currículos adotados pelo Ministério da Educação e Ciência, os professores são instruídos a usar uniforme militar nas aulas. Os livros aprovados pelo Ministério incluem informações sobre a Rússia como um “adversário militar”, e os chefes da OUN/UIA Bandera e Shukhevych foram chamados “líderes distintos do movimento de independência nacional”.

As autoridades ucranianas são coniventes com as ações de massa dos radicais para glorificar os colaboracionistas, que se assemelham aos eventos de massa nazistas. Por exemplo, anualmente, em 1 de janeiro (o aniversário do líder da OUN, Stepan Bandera) e em 14 de outubro (a data do estabelecimento da UIA), grupos nacionalistas radicais da All-Ukrainian Union “Svoboda”, C14, Pravyi Sektor, OUN, etc. realizam procissões com tochas em várias cidades do país.

Vale ressaltar que as atuais autoridades ucranianas acreditam que essas ações cumprem plenamente os objetivos da política de Estado para a educação das gerações mais jovens. Por exemplo, no contexto das procissões regulares de tochas realizadas em homenagem a Stepan Bandera em 1.º de janeiro de 2020 em Kiev, Lvov, Odessa e Dnipropetrovsk, o secretário de imprensa do presidente ucraniano Vladimir Zelensky disse que os eventos estavam alinhados com uma prioridade política para “restaurar e preservar a memória nacional“.

As autoridades ucranianas envolvem grupos e organizações radicais e ultranacionalistas de direita (incluindo Svododa e С14) em “trabalho de educação patriótica” com jovens, com certos grupos recebendo apoio do Estado. Há acampamentos de verão para crianças, festivais e jogos de guerra de campo dedicados a cúmplices nazistas ucranianos e criminosos de guerra (por exemplo, um festival em homenagem a Dmitry Dontsov, o ideólogo do nacionalismo ucraniano, e as trilhas Banderstadt, Taras Borovets e os festivais de Under the Cover of Tryzub; o acampamento militar e patriótico da juventude de Khorunzhiy, os acampamentos de verão para crianças de Zagrada e Unizh Smithy, e os jogos de guerra Jura e Gurby-Antonovtsy, etc.).”

O Governo da Ucrânia, prosseguiu e passou uma lei que comparava Comunismo/socialismo e Nazismo, dizendo publicamente que a intenção seria a de “proibir os totalitarismos”, na prática, contudo, comunismo/socialismo foram proibidos, mas o “Bandeirismo” e símbolos provenientes destes, permaneceram e foram estimulados pelo Estado-Nacional ucraniano. Mesmo símbolos relacionados a batalhões nazistas menos conhecidos, continuaram a ser permitidos, enquanto todos os símbolos socialistas passaram a ser perseguidos fortemente. Cabe ressaltar, que quase tudo o que foi feito pelo Governo da Ucrânia tentou ser feito no Brasil no governo Bolsonaro, mas por uma série de fatores a extrema-direita brasileira não foi tão adiante quanto a ucraniana. Segue mais um trecho dos mesmos documentos anteriormente citado:

O apoio oficial de Kiev ao neonazismo não se limita a declarações públicas de funcionários públicos. O Instituto Ucraniano de Memória Nacional (UINR) está empenhando-se ativamente neste campo. Mesmo sob seu diretor anterior, Vladimir Viatrovych, que era conhecido por suas visões russofóbicas e nacionalistas, o Instituto trabalhou em várias áreas, incluindo a promoção de iniciativas legislativas para glorificar os cúmplices nazistas e imortalizar a memória dos participantes do “movimento de libertação” ucraniano. Por exemplo, a publicação de literatura “patriótica” relevante e recomendações metodológicas para instituições de ensino secundário e superior, bem como para a realização de várias atividades e festivais relevantes com a participação de veteranos do Exército Insurgente Ucraniano (UIA), participantes da chamada Operação Antiterrorista (ATO) no sudeste da Ucrânia e historiadores locais “pró-Bandera”, incluindo o festival de Banderstadt dedicado aos cúmplices nazistas. Apologistas do nacionalismo ucraniano como Symon Petliura, Yevgeny Konovalets, Stepan Bandera, Roman Shukhevych, Yaroslav Stetsko, Andrey Melnik, etc. foram e ainda são persistentemente impostos à sociedade como diretrizes morais. Quando a liderança do UINR mudou após a nomeação de Anton Drobovych em dezembro de 2019, a política do revisionismo histórico não sofreu mudanças significativas. Em 2020, na véspera de 9 de maio, o novo diretor gravou um vídeo por ocasião do Dia da Memória e Reconciliação celebrado em 8 de maio[10] e do 75º aniversário da Vitória sobre o Nazismo. Além das tentativas habituais das atuais autoridades ucranianas de apresentar os colaboracionistas ucranianos como combatentes contra o nazismo, Anton Drobovych essencialmente igualou o Dia da Memória e da Reconciliação ao Dia da Vitória sobre o Nazismo na Segunda Guerra Mundial e proclamou que eles “não simbolizam o triunfo dos vencedores sobre os vencidos.

Ele também observou que, naquela época, os ucranianos lutavam pelos “interesses de outras pessoas” e que os verdadeiros heróis eram os membros do movimento de libertação nacional que “lutavam pela independência” de ambos os regimes totalitários[11]. Foi sob a nova liderança da UINR de Anton Drobovych que mais um passo para a glorificação dos cúmplices nazistas foi dado, quando em 23 de setembro de 2020, o Sexto Tribunal Administrativo de Apelação de Kiev decidiu a favor da UINR e revogou a decisão do Distrito Administrativo Tribunal que reconheceu de fato os símbolos da Divisão SS Galicia como nazistas[12].”

Nesse contexto, tendo no ódio ao que é russo um dos motores para tal ideologia, e na ode ao que é ocidental como superior, melhor, mais forte, mais evoluído, não demorou para que as leis do Estado-Nacional começassem a ser formadas no sentido de perseguir as minorias ucranianas que tinham fortes ligações culturais não apenas com a Rússia, mas com o legado da URSS. A língua Russa deixou de ser ensinada como segunda língua e seus falantes começaram a ser perseguidos, a Igreja Ortodoxa e seus fiéis, tradição importante de povos eslavos, passaram também a ser perseguidos. Judeus ucranianos também passaram a sentir uma escalada de perseguição e preconceito.

Com a perseguição às minorias e aos movimentos políticos de esquerda, sindicatos, movimentos socialistas, foi natural que todos esses grupos se encontrassem com uma causa comum. Para além disso a Federação Russa já via como grande problema a situação desde o golpe na Ucrânia. De forma que, essas minorias da região de Donbass, os comunistas e socialistas ucranianos, o movimento sindical e populares que discordavam das ações do governo, com apoio da Rússia, resumidamente pois foi um processo mais longo, declararam a formação de duas Repúblicas Populares na região de Donbass.

Meus irmãos, sobretudo socialistas, comunistas, trabalhistas, isso não é pouca coisa. Se tratam das primeiras Repúblicas Populares, forma de organização de governo socialista nos moldes que conhecemos, criadas neste século. Claramente se utilizam das contradições entre Rússia e China vs EUA, UE e OTAN, para conseguirem assegurar o território e a autonomia do poder político na região. Tais Repúblicas têm muitos problemas e contradições internas, evidentemente todo o contexto é muito precário e existe, em muitos casos, uma frente ampla inconclusiva.  Contudo, inegavelmente são um fenômeno mais do que importante no período histórico em que vivemos. São o único paradigma de algo parecido neste século.

Guerra na Ucrânia A crise no leste europeu e seus efeitos no Brasil rússia (1)
Cidadãos das Repúblicas Populares de Lugansk e Donetsk celebrando o reconhecimento de sua independência por parte da Federação Russa.

São estas pessoas que morrem feito moscas de 2014 até aqui lutando por terra, liberdade, comida, bens materiais, e sobretudo, pelo direito de existir. São essas pessoas que o Estado-Nacional ucraniano mata de forma indiscriminada e joga em valas comuns desde 2014, que o Estado-Nacional da Ucrânia bombardeia, e joga seus piores neonazistas em cima para matar a população civil e fazer uma “limpeza étnica”. As mídias nos dizem que esse conflito começou há pouco tempo, e elas fazem isso porque tem um critério claro: O sofrimento das pessoas de Donbass não importa, o sofrimento que importa, dentro de todo esse contexto de supremacia ocidental, supremacia europeia, é apenas o sofrimento dos ucranianos pró-governo, que é genocida e eugenista.

Se não é dever de socialistas e comunistas apoiarem Estados-Nacionais burgueses em suas guerras por interesses estratégicos capitalistas, é nossa obrigação defender o povo de Donbass. Como nos disse o marxista Walter Benjamin:

Tese VI”: “Articular historicamente o passado não significa conhecê-lo “como ele de fato foi”. Significa apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um perigo. Cabe ao materialismo histórico fixar uma imagem do passado, como ela se apresenta, no momento do perigo, ao sujeito histórico, sem que ele tenha consciência disso. O perigo ameaça tanto a existência da tradição como os que a recebem. Para ambos, o perigo é o mesmo: entregar-se às classes dominantes, como seu instrumento. Em cada época, é preciso arrancar a tradição ao conformismo, que quer apoderar-se dela. Pois o Messias não vem apenas como salvador; ele vem também como o vencedor do Anticristo. O dom de despertar no passado as centelhas da esperança é privilégio exclusivo do historiador convencido de que também os mortos não estarão em segurança se o inimigo vencer. E esse inimigo não tem cessado de vencer.

Tese VIII”: “A tradição dos oprimidos nos ensina que o “estado de exceção” em que vivemos é na verdade a regra geral. Precisamos construir um conceito de história que corresponda a essa verdade. Nesse momento, perceberemos que nossa tarefa é originar um verdadeiro estado de exceção; com isso, nossa posição ficará mais forte na luta contra o fascismo. Este se beneficia da circunstância de que seus adversários o enfrentam em nome do progresso, considerado como uma norma histórica. O assombro com o fato de que os episódios que vivemos no séculos XX “ainda” sejam possíveis, não é um assombro filosófico. Ele não gera nenhum conhecimento, a não ser o conhecimento de que a concepção de história da qual emana semelhante assombro é insustentável.”

Portanto, afirmamos:

TODO SOCIALISTA BRASILEIRO DEVERIA SER A FAVOR DA PAZ ENTRE OS POVOS. MAS A PAZ SÓ VAI EXISTIR NA REGIÃO QUANDO O POVO DE DONBASS FOR LIVRE, QUANDO PARAR DE SER EXTERMINADO PELO GOVERNO DA UCRÂNIA. PEDIR PAZ E IGNORAR ISSO É PEDIR PARA QUE ESSAS REPÚBLICAS SEJAM SUPRIMIDAS E SUA POPULAÇÃO CONTINUE A SER MORTA E BARBARIZADA COMO VEM SENDO DESDE 2014.

Fontes e links úteis:

Relatórios do Ministério das Relações Exteriores da Federação Russa, Moscou, 2020 sobre a situação dos direitos humanos na Ucrânia: https://www.mid.ru/…/humanitarian_cooperation/1448658/…
Tradução do mesmo documento acima: https://acoisapublicabrasileira.wordpress.com/2022/03/03/situacao-dos-direitos-humanos-na-ucrania-relatorio-do-ministerio-das-relacoes-exteriores-da-federacao-russa-moscou-2020/

Sobre Bolsonaristas com ligações com grupos paramilitares na Ucrânia: https://revistaforum.com.br/politica/2020/6/1/bolsonarista-com-bandeira-neonazista-treina-grupos-paramilitares-76188.html

Relatórios de violação dos direitos humanos na Ucrânia de 2013- 2014:

Tradução do Primeiro Livro Branco: https://campagnani.github.io/LivroBrancoU…/11-2013_03-2014

Tradução do Segundo Livro Branco: https://campagnani.github.io/LivroBrancoU…/04-2014_06-2014

Tradução do Terceiro Livro Branco: https://campagnani.github.io/LivroBrancoU…/07-2014_11-2014

Publicação do governo de Kiev sobre “sabotadores pró-rússia”: https://www.facebook.com/kyivcity.gov.ua/posts/330122579146357

Sobre o neonazismo na Ucrânia: https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/Politica/noticia/2022/02/batalhao-de-azov-o-grupo-ucraniano-de-extrema-direita-na-mira-de-putin.html

https://gauchazh.clicrbs.com.br/especiais/neonazismonors/militantes-do-rs-na-ucrania.html

https://www.brasildefato.com.br/2021/05/13/como-os-eua-utilizam-do-neonazismo-na-ucrania-para-isolar-a-russia

https://br.noticias.yahoo.com/milicias-neonazistas-da-ucrania-se-preparam-para-a-guerra-contra-a-russia-221857537.html

https://veja.abril.com.br/brasil/policia-faz-operacao-contra-grupo-neonazista-no-rs/

Professor John J. Mearsheimer, da Universidade de Chicago, nos EUA, explica papel da OTAN em causar tal conflito atual na Ucrânia: https://youtu.be/JrMiSQAGOS4

Ex-procurador da Ucrânia se diz comovido por ver “pessoas europeias com cabelos loiros e olhos azuis sendo mortas” na guerra: https://www.pragmatismopolitico.com.br/…/e-muito…

Imigrantes negros na Ucrânia dizem ser alvo de racismo e barrados em trens ao tentar fugir: https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2022/02/pessoas-negras-na-ucrania-dizem-ser-alvo-de-racismo-e-barradas-em-trens-ao-tentar-fugir.shtml

Sobre o suicídio do reitor da UFSC: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2021/12/suicidio-do-reitor-luiz-carlos-cancellier-foi-um-ato-politico-diz-paulo-markun.shtml

The war on Donbass: why we must all stand against fascism:
https://www.workers.org/2022/03/62144/

[2014]Donetsk’s pro-Russia rebels celebrate expelling ‘fascist Ukrainian junta’:https://www.theguardian.com/world/2014/sep/08/donetsk-pro-russia-rebels-ukrainian-junta

Site do Ministério das Relações Exteriores da República Popular de Donetsk[ Domínio virtual da antiga URSS]: https://mid-dnr.su/en/

O Japão alegou pela primeira vez que a Rússia havia ocupado o sul das Ilhas Curilas[jornal ucraniano]: https://narodna-pravda.ua/2022/02/28/v-yaponiyi-vpershe-zayavyly-shho-rosiya-okupuvala-pivdenni-kuryly/

In conversation with Dmitri Kovalevich[ comunista ucraniano explica toda a situação em entrevista]: https://www.internationalmagz.com/articles/conversation-with-dmitri-kovalevich

Sputnik Sérvia – Governo ucraniano libera prisioneiros de extrema direita para lutar no Donbass: https://rs.sputniknews.com/20220223/ekskluzivno-iz-donbasa-osvetnicki-odred-desnog-sektora-na-specijalnom-zadatku-1134682115.html?fbclid=IwAR2oxVlFW68AnimaiD1t3p49x-M1eBuZogWl8o33W0ZFlWOaAyhmlz43LXo

Comunista ucraniano acusa cobertura ocidental de utilizar imagens de outros conflitos militares: https://www.facebook.com/dmitri.kovalevich.94/posts/460772849083320

Comunista ucraniano afirma que neonazistas do batalhão azov fazem civis ucranianos de minorias reféns, e que usam armas britânicas: https://www.facebook.com/dmitri.kovalevich.94/posts/458069249353680

Diplomacia brasileira não participa de boicote à Rússia: https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2022/03/diplomatas-boicotam-chanceler-russo-na-onu-brasil-nao-participa-de-protesto.shtml

Bibliografia:

A Segunda Guerra Fria – Moniz Bandeira.
Desordem Mundial – Moniz Bandeira.
Teses sobre a história – Walter Benjamin.