The Batman: o detetive noir da era de ouro das HQs

The Batman o detetive noir da era de ouro das HQs
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Por André Luiz Dos Reis – Eu ia palestrar à vera sobre ‘The Batman’, de Matt Reeves, mas estou cansado demais pra escrever ”tratados”, então deixa eu encurtar o assunto.

O filme entrega o conceito que era pedido há tempos pelos fãs: apresenta o Homem-Morcego tal como nas HQs antigas, da ”era de ouro”. Um detetive mascarado buscando solucionar um enigma, cujas pistas estão espalhadas pela narrativa.

O filme é policial e noir, com os elementos cinzentos e introspectivos que são comuns ao gênero. Robert Pattinson está perfeito [basta abstrair o ridículo corte de cabelo emo] como um Bruce Wayne mergulhado em depressão, sem paciência pra pesquisas em tecnologia ou pra cuidar da própria fortuna, uma casca vazia que não encontra prazer e sentido nem na sua atividade de vigilante mascarado, não dá um sorriso durante o filme, e parece incapaz de qualquer contato social e afetivo — até o extremo do inverossímil, como é o caso de sua relação com o Alfred, vivido por Andy Serkis.

Aqui temos um defeito grave: Pattinson encontra o Bruce Wayne mas não o Batman. Quando coloca o uniforme, fica inexpressivo. Não existe catarse na forma da violência redentora, na vingança compensatória [perdoem a redundância].

Além disso, todo filme noir precisa de uma grande femme fatale. Zoë Kravitz é boa atriz, e sua Selina tem gravidade e bom desenvolvimento. Mas a inexistência de qualquer química sexual dela com um Pattinson vestido de Homem-Morcego acaba travando boa parte da história. A atração erótica é substituída por sentimentalismo, cicatrizes compartilhadas e algum constrangimento.

Como é comum no universo do Batman, os vilões se destacam. O Pinguim de Colin Farrell é um mafioso repugnante. O Charada de Paul Dano atinge a perfeita caracterização do terror, a genialidade e paranoia alucinatória que acompanham os casos mais bizarros de psicopatia nos EUA.

A cinematografia, a produção e a trilha sonora são os pontos altos do filme. Tem cenas que já nascem clássicas, como a fantástica perseguição de carro [na verdade, de Batmóvel].

Agora, o filme não é tudo o que está sendo vendido pelos críticos. Há problemas sim na escalação do elenco, e pelo menos no desenvolvimento de certos personagens. O Comissário Gordon, vivido por Jeffrey Wright, não tem nuances. É apenas o ‘bom policial’ que faz contraste com as instituições corruptas da cidade e cujo maior defeito é se aliar com um Vigilante.

Matt Reeves acrescentou muitas camadas na narrativa. Ele quis retratar o máximo possível da complexidade do universo de Gotham, com os dramas familiares, os maniqueísmos que se desmancham, os traumas e problemas psiquiátricos, a degeneração da sociedade, as máfias etc. Ele tem o mérito de não ter se perdido nesse emaranhado, mas tampouco conseguiu criar a tensão necessária a um clímax, ainda que tenha alongado demasiadamente o filme.

A exposição de todos esses elementos prepara uma virada para o personagem. O arco do protagonista fecha com uma conclusão algo estúpida: Wayne descobre que o Batman tem de se tornar algo mais que Vingança e Terror. Ele tem de dar esperança à cidade.

Mas é aí que o conceito de Reeves, que começa bem ao explorar o lado de detetive do Homem-Morcego, trai o personagem: o Batman não está ali pra dar esperança nenhuma pra ninguém. O Batman não é isso. Nem a trilogia de Nolan caiu neste erro crasso.

Se é pra terminar assim, melhor seria ir pra cama com a Mulher-Gato e permanecer como a tal casca vazia e sem sentido.

Por André Luiz Dos Reis