A tentativa de 2013 em Cuba

A tentativa de 2013 em Cuba
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Neste domingo 11 de julho, a Ilha Rebelde foi sacudida por manifestações reacionárias contra a liderança da Revolução que por 60 anos garante um caminho soberano, democrático e socialista para a nação caribenha. Assim como o junho de 2013 no Brasil, tecnologias estrangeiras e organizações sediadas e financiadas pelos países imperialistas procuraram disseminar o caos por meio de ações de rua supostamente espontâneas. Entretanto, as diferenças entre Brasil e Cuba levaram a resultados bastante distintos entre os dois países.

Segundo o informe de Giordana García Sojo para o CELAG, as manifestações começaram em San Antonio de los Baños, a 26 km da capital Havana, puxadas e organizadas principalmente pelas redes sociais. Cerca de uma semana antes do início dos protestos, já circulava a hashtag “#SOSCuba”, impulsionada por influencers e bots nas principais páginas estadunidenses. Quando a ação coordenada disfarçada de manifestações espontâneas eclodiu, uma amplíssima cobertura midiática imperialista bombardeou o mundo inteiro com imagens hiperbólicas mostrando o suposto caráter “popular e massivo” das manifestações. As fake news dos grandes jornalões como BBC, El Pais, NY Times (e seus vassalos brasileiros, evidentemente) foram conjugadas com outras notícias falsas emanadas de bots e outros instrumentos de desinformação na internet. Algumas contas usaram imagens de manifestações em outros países como se estivessem acontecendo em Cuba, como denunciou o presidente do México, Lopez Obrador.

Para o completo choque de uma direita acostumada com a hipocrisia da democracia formal em nosso regime colonial, o presidente Miguel Diaz-Canel foi pessoalmente até a localidade das manifestações para dialogar com suas lideranças, rasgando completamente as mentiras a respeito do suposto caráter autoritário do governo revolucionário. Os manifestantes mostravam descontentamento com muitos problemas concretos enfrentados por Cuba e que são realidades fatuais, como os cortes de energia elétrica e a escassez parcial de alimentos e medicamentos. Essas pautas objetivas foram combinadas com uma genérica denúncia contra a “ditadura” de caráter ideológico com o óbvio intuito de buscar enfraquecer o governo e o sistema democrático-socialista.

No mesmo dia, o Partido Comunista levantou manifestações em defesa do governo democrático da ilha. Além disso, a liderança revolucionária demonstrou como os problemas que foram pautados pelos protestos eram causados pelo criminoso embargo imposto pelo império estadunidense. Neste sentido, o ministro de Minas e Energia, Liván Arronte Cruz, explicou os esforços para reparar as instalações afetadas pelas restrições de compra de insumos – uma das principais demandas objetivas dos protestos.

A agressão imperialista oriunda dos Estados Unidos age por duas vias. Por um lado, o embargo cria os problemas econômicos que provocam descontentamento na população. Por outro, organizações mantidas pelo imperialismo procuram disseminar o caos.

De fato, a situação em Cuba agravou-se nos últimos anos. O governo de Trump recrudesceu as medidas impostas pelo embargo, que não recuaram nenhum centímetro após a eleição do suposto progressista Joe Biden. Em seus últimos dias na Casa Branca, Trump incluiu Cuba entre as nações “patrocinadoras do terrorismo”, o que dificultou as remessas de dólares dos trabalhadores cubanos que moram nos Estados Unidos para seus familiares na ilha. Ademais, o país caribenho vinha num processo de inserção soberana na economia mundial, procurando atrair capital estrangeiro para o incremento de alguns setores econômicos, como o turismo. O recrudescimento do embargo tinha entre seus objetivos atrapalhar esse movimento. A pandemia funcionou como um catalisador acelerando os efeitos negativos da agressão econômica estadunidense: em 2020, o PIB da ilha caiu mais de 11%.

No entanto, as manifestações estão longe de serem espontâneas. Como denunciou o ministro das Relações Exteriores Rodrigues Parrilla no Granma, a hashtag #SOSCuba já havia sido empregada durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, quando a comunidade internacional condenou amplamente o genocídio econômico perpetrado pelo Império Estadunidense. Oferecendo várias provas para suas declarações, Parrilla mostrou que uma empresa estadunidense mantida com recursos do governo estadual da Flórida chamada “ProActivo Miami Incorporations” estava por trás da convocatória das manifestações. Como é sabido, o estado sulista dos EUA é a base da maioria das agressões contra a ilha.

García Sojo enfatizou que o antecedente direto das manifestações deste final de semana partiu do reacionário “Movimento San Isidoro” que, no final do ano passado, colocou cerca de 300 pessoas em frente ao Ministério da Cultura do governo revolucionário. Esta organização, que conta com a presença de um funcionário estadunidense chamado Timothy Zúñiga-Brown, está no cerne da tentativa de desestabilizar a democracia cubana neste domingo.

A organização dos atos deixa claro que seu objetivo é destruir a soberania democrática e socialista do povo cubano, disfarçado com um pedido para o império estadunidense de uma “intervenção humanitária”, tal como a feita na Líbia para restaurar o tráfico de escravos. Não à toa, Rodrigues Parrilla corretamente afirmou que quem pede essa intervenção “não somente violam as leis de Cuba, como também pedir uma intervenção humanitária em Cuba é pedir uma intervenção militar estadunidense”.

É claro que Cuba tem problemas; afinal é um movimento real e concreto, não uma abstração existente no sonho de intelectuais. Nestes momentos de agressão, suas fragilidades saltam aos olhos. A dependência econômica em relação às remessas de seus imigrantes nos Estados Unidos, a baixa produção de alimentos na ilha e de modo geral a falta de indústrias no país são exploradas pelos inimigos do povo cubano para atacar sua soberania rebelde. Mesmo com esses problemas endêmicos, Cuba foi capaz de proteger sua população contra a pandemia e desenvolver duas vacinas internacionalmente reconhecidas por sua eficiência – muito diferente de nosso governo colonial. Isso sem mencionar seu reconhecido sistema de saúde e de educação, invejado até mesmo pelos países de primeiro mundo.

Contudo, mais do que as fragilidades, a agressão de 11 de julho mostrou as forças do processo revolucionário cubano. Diferente do caso brasileiro em 2013 quando a esquerda foi utilizada como massa de manobra de um golpe de estado de caráter colonial contra um fraco governo social-liberal, os progressistas cubanos, organizados e estruturados em um Partido de tipo leninista, não foram submetidos pelo imperialismo. Muito pelo contrário: mantiveram elevado o nível de consciência de classe e nacional, denunciando o embargo como a verdadeira razão por trás das dificuldades enfrentadas pela ilha. Suas lideranças não se acovardaram fazendo concessão atrás de concessão contra os inimigos de Cuba, como Dilma o fez com a indicação de Levy e a entrega do Campo de Libra, entre tantas outros erros. O presidente e ministros prestaram esclarecimentos para os trabalhadores cubanos e ajudaram a compor os protestos em defesa de sua democracia.

O modus operandi do imperialismo moderno é bastante evidente. Primeiro, adotam medidas de guerra econômica para penalizar a população e devastar as estruturas produtivas, a fim de quebrar a unidade do movimento anti-imperialista. Segundo, patrocinam organizações clandestinas supostamente “democráticas” que preparam as bases para a desestabilização. Terceiro, utilizando entre outros meios tecnologias de redes sociais, insuflam manifestações para promover o caos nos países alvos. Exatamente passo a passo a descrição do que ocorreu em junho de 2013 no Brasil. Como disse Rodrigues Parrilla sobre as manifestações:

“É uma operação política. É uma agressão do governo dos Estados Unidos, que hoje não precisa de mísseis, nem fuzileiros navais, e que tem uma enorme capacidade para ações de guerra não convencional”.

Que o campo nacional-popular brasileiro saiba extrair valiosas lições da heroica defesa do povo cubano. Pois neste momento temos de encabeçar grandes mobilizações de rua como a que foi convocada para 24 de julho em muitas capitais brasileiras. O governo colonial de Bolsonaro é o bagaço cuspido pelo imperialismo estadunidense. O Partido Democrata dos EUA, em sua costumeira hipocrisia, está preparadíssimo para abandonar a barca furada do bolsonarismo e abraçar um projeto mais racional para o imperialismo no Brasil. Como argumentamos em outro momento, somente a organização é vacina para evitarmos os erros de 2013.