Alerto há tempos, tem quem não goste de ouvir: sobre as eleições de 2022

sobre as eleições de 2022
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Aqueles que costumeiramente tutelam a classe trabalhadora rumo ao abismo, são os primeiros a se queixar, no intuito de defender a própria imagem, quando o “Cavalo de Tróia” se torna exposto e inapelável. Alguns até simulam surpresa quanto ao fato de que o óbvio ocorre.

Quem, já tem um tempo, atesta que existe e necessidade universal de se apoiar e disputar internamente a chapa do “acordão” e do social-liberalismo, como se fosse possível disputar um projeto que já nasce definido de cima para baixo, com uma série de acordos com militares, com o mercado, com a “parte esclarecida” da burguesia submissa brasileira, com os EUA, com o judiciário, não terá direito algum de reclamar ou se queixar da morte da “esquerda anti-imperialista” ou da pequena influência da classe trabalhadora no pós eleição. Seja em caso de vitória ou de derrota de tal chapa.

A “esquerda anti-imperialista”, “esquerda nacionalista”, que ajudou a construir o Brasil que amamos, morre um pouco toda vez que ganha mais tempo e sustentação o consenso entre social-liberalismo (neoliberalismo progressista), e neoliberalismo-conservador.

É uma questão objetiva e concreta. Desde o início de tal consenso a infraestrutura brasileira e as relações de trabalho e demais relações sociais têm sido profundamente alteradas seguindo tal ideário. Isso tem uma influência direta na consciência de nossos trabalhadores e de nossa população em geral.

Para além disso, uma série de tratados internacionais, acordos e etc, tornam o Brasil conectado e dependente dos EUA, não necessariamente no sentido econômico direto, mas sobretudo no sentido cultural, político, e sobretudo, infelizmente, intelectual. Onde está a proposição de um caminho brasileiro para a redenção?

Cada ano a mais de hegemonia do consenso neoliberal, é objetivamente, pois operam também a dialética da lembrança x esquecimento em seu favor apagando a história da velha-esquerda, mais apagado e atingido e tornado cinza e distante o glorioso passado que por ser ainda presente, nos abre uma porta para o novo, redimindo os heróis e mártires do passado: o da revolução brasileira.

SOBRE A ESQUERDA LIBERAL COMO ESCADA PARA O NEO-FASCISMO:

A esquerda liberal, mesmo vivendo em um tempo onde o imperialismo é absoluto, com acirramento da globalização e da unipolaridade, se calou por cerca de 20 anos em debates mais profundos sobre o tópico.

A extrema direita se aproveitou desse vácuo, para oferecer uma resposta aos problemas de nosso tempo. Naturalmente, o fazem sob seu próprio ponto de vista, sem método, e contando mentiras e meias verdades. Esse é o caso, por exemplo, do conceito de “globalismo”, muito difundido por Olavo de Carvalho, que faz a cabeça de vários trabalhadores Brasil afora.

O Olavismo, dado o vácuo que encontrou, foi capaz de mobilizar cidadãos contra uma caricatura de globalismo imaginário, supostamente levado adiante por “marxistas culturais”, nome que esses loucos usam para chamar liberais de esquerda. Uma completa farsa, que prosperou apenas porque a esquerda, sob hegemonia liberal, se calou em sua crítica ao imperialismo, que existe e é estudado cientificamente há mais de um século. Quem terá coragem de negar isso??

ATIRE NO CARTEIRO, MAS ANTES LEIA A CARTA:

Três das grandes utopias brasileiras criadas no começo e meio do século XX foram pervertidas como retórica sem relação com teoria e prática, no final do século XX e começo do século XXI. O império da aparência sobre a relação desta com a essência marca a supremacia do consenso econômico neoliberal. Na impossibilidade de discussões econômicas por fora do consenso da ortodoxia neoliberal, seja com políticas de crédito ou sem elas, articula-se a estética.

Primeiro com FHC, sob a declaração de que estaria “matando finalmente Getúlio Vargas”, começa a morte da utopia da “Social-Democracia tropical”, que foi aviltada e destruída em corrupção de seu ideário, se tornando a “terceira-via” o social-liberalismo. Amplamente rejeitada pelo povo em sua primeira versão após o segundo mandato de FHC.

Depois foi a vez da utopia “Socialista latina” a ter sua estética e retórica a apoiar o consenso neoliberal. Mesmo melhorando a condição de vida com políticas de crédito, se viu restrito por seus acordos e pela natureza conciliatória de suas alianças, e não logrou êxito em fazer reformas profundas tendo que agir dentro dos marcos do sistema.

Isso acabou causando imenso dano na confiabilidade do ideário socialista, e um prato cheio para a propaganda da burguesia, ao manter o modelo da ortodoxia econômica, e ter estado no poder quando começou a crise global do neoliberalismo em 2008, e quando as mudanças no Sistema Internacional empurraram EUA e UE a mudar nosso papel global, optando por gerentes de turno com melhor capacidade de repressão da classe trabalhadora.

Depois foi a vez da utopia “Nacionalista”, esta totalmente pervertida e decrépita de seu conteúdo original, popular e orgânico, veio como forma estética e retórica artificial de radicalização do mesmo sistema, com a extrema direita atuando como vanguarda da contra-revolução, sob um discurso radical e anti-hegemônico.

Ocorre que boa parte dessas pessoas já se sentem traídas e frustradas, e são mais a extrema-direita hoje do que o próprio bolsonarismo. Olavo de Carvalho, o maior expoente da extrema-direita pró-liberalismo e unipolaridade, morreu.

Existem vertentes anti-liberais e estatistas da extrema direita disputando a hegemonia deste segmento da vida política nacional. E se eles oferecerem, no futuro próximo, um programa anti-liberal e anti-EUA, enquanto nossa esquerda está completamente atrelada ao consenso liberal em descrédito com trabalhadores em todo o globo? Ficaremos chupando o dedo??

Depois de brincar tanto com as utopias de nosso povo e nossa classe trabalhadora, é natural que exista uma imensa frustração contra o sistema político como um todo. Essa sim é a semente e a ferramenta que estimula o crescimento do fascismo no Brasil, pois a pulsão revolucionária é enterrada como apoio do consenso neoliberal, à esquerda, e o discurso anti-hegemônico fica apenas nas mãos da extrema-direita.

Não é possível que não se perceba, a esquerda liberal propõe continuidade, a extrema-direita propõe uma mudança, que, por mais abominável que seja, ainda cativa muitas forças populares apenas por ser contra o establishment. Será que é necessário explicar para nossa esquerda liberal que as massas têm interesses econômicos e de classe contrários aos do establishment, e que, mesmo que não saibam explicar cientificamente tal fenônmeno, tem uma tendência a se posicionar contra este?

A vitória de Biden nos EUA, e a desilusão da classe trabalhadora para com o mandato do “acordão”, não está dando forças para a extrema-direita nos EUA?

A vitória de Macron na França em seu primeiro mandato, e a desilusão da classe trabalhadora não empurraram um crescimento de Le Pen?

A vitória de Castillo no Peru, e sua traição ao programa dos trabalhadores, não está dando vazão, agora na crise dos fertilizantes, para a extrema direita tomar o poder?

Estimular a continuidade do ciclo neoliberal não só mata a revolução brasileira, mas abre as portas para a contra-revolução desfilar nas avenidas. É possível “ganhar a batalha”, mas sendo esta uma vitória de Pirro, que nos faria perder a guerra. Tudo depende, nesse caso, de como o processo irá ocorrer.