Teremos que seguir sem Carlos Lessa

Carlos Lessa e a Alma Brasileira
O economista Carlos Lessa. Foto: Roberto Corradini-SECS
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O Brasil ficou mais pobre intelectual e eticamente hoje. A passagem do professor Carlos Lessa é um acontecimento de grande significado. Estivesse o país em situação de normalidade emocional, ética e intelectual, o tema teria maior repercussão. Lessa era, sem favor, o maior economista brasileiro vivo. Reitor da UFRJ, professor do Instituto Rio Branco, professor da Cepal e do Instituto Latino-americano de Pesquisas (Ilpes-Onu), Lessa deixa uma legião de amigos e admiradores.

Carlos Franciso Theodoro Machado Ribeiro de Lessa tinha um nome grande, mas um coração muito maior. Quero deixar um registro da humanidade desse grande homem, visceral nas suas convicções de amor ao Brasil. Em 2010, assim que eu saí da presidência da Ferroeste, a empresa proprietária de uma ferrovia construída pelo Exército brasileiro durante o primeiro dos três governos do Requião no Paraná, Lessa convidou-me para hospedar-me na sua bela casa no Rio de Janeiro, junto à sua amável família, onde, durante uma semana, traçamos um plano de ação política com o objetivo de levantar as sociedades dos Estados do Sul, Mato Grosso do Sul, Paraguai, Argentina e Bolívia em torno do sonho do projeto de desenvolvimento regional a partir do modal ferroviário, ao qual dediquei oito anos da minha vida: a Ferrosul – Ferrovia da Integração do Sul. O ponto inicial seria a publicação de um livro de autoria dele e minha, retratando a experiência vitoriosa do Paraná, sob o comando de Requião, de resgatar para o controle do Estado a ferrovia que havia sido privatizada num leilão manipulado.

Circunstâncias pessoais adiaram o projeto. O livro será escrito no seu tempo e dedicado a esse grande brasileiro. Mais do que o livro, o projeto da Ferrosul ainda haverá de ser realizado para o bem do Cone Sul da América do Sul e, dado que aquela região haverá de alimentar o mundo, também para o bem da humanidade.

Um registro mais. Quando estava na casa do Lessa, visitou-me um amigo paraguaio, Emilio Báez Maldonado, um visionário e realizador, que havia sido vice-ministro da Defesa do Paraguai, e que comigo partilhava o sonho de uma América do Sul forte e unida. Maldonado estava acompanhado do seu filho mais novo, Agustín, então um menino. Agustín, para a surpresa minha e do próprio pai, era apaixonado pela arte oriental, em especial chinesa. E Lessa tinha praticamente um museu de arte chinesa na sua casa. Foi lindo de ver o velho professor, maravilhado com as perguntas incessantes do menino, conduzindo-o peça por peça e discorrendo sobre elas com entusiasmo e carinho de mestre.

Para quem não sabe quem foi o professor Carlos Lessa, recomendo a do texto objetivo, sintético, primoroso, que o amigo Arthur Koblitz, presidente da Associação dos Funcionários do BNDES publicou ao grande mestre de tantos brasileiros.

A nós nos cabe seguir sem Carlos Lessa e honrar a sua memória, lutando pelo Brasil.