Série Santa Evita mostra a transcedência da questão nacional argentina

A serie Santa Evita da Star Plus mostra a transcedencia da questao nacional argentina
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A série Santa Evita, da Star Plus, é uma produção argentina em homenagem aos 70 anos da morte de Eva Duarte Perón. O elenco é muito bom, a protagonista é uma atriz uruguaia que atua na Argentina há muitos anos, e o ator que interpreta Juan Domingo Perón também é importante por lá.

A série é super peronista. Trata Evita e Perón como o que realmente eram, dois patriotas apaixonados pelo seu povo. E a trama é uma coisa de cinema mesmo. Eu sabia por alto, mas não conhecia os detalhes.

Ela morre em 1952 de um câncer de útero que a impediu de ser candidata a vice-presidente na “fórmula de la Pátria: Perón Eva Perón”, que seria uma chapa muito mais popular e que iria irritar muito mais os militares, a burguesia e o imperialismo.

Perón traz um médico espanhol para embalsamar Evita, e entrega o corpo para o movimento sindical protegê-la na sede da Confederación General del Trabajo de La Republica Argentina, a lendária CGT, até construírem um mausoléu especial para ela. Só isso já é um fato muito impressionante.

Mas em 1955, Perón sofre o golpe militar, os gorilas sequestram o corpo de Evita, e mandam enterrar como indigente em local escondido, para não virar um local de culto, adoração e peregrinação.

Os milicos colocam o coronel Moori Koenig no comando da operação, que havia sido ajudante de ordens da primeira-dama, apesar de ser um fanático anti-peronista. Ele fica obcecado por Evita já em vida, mas na posse do corpo, enlouquece completamente, e não cumpre a ordem de enterrar santificada líder política amada pelos argentinos.

Moori Koenig esconde o corpo na casa de um tenente da operação secreta, que acaba matando a própria esposa grávida em um acidente, quando ela tentava descobrir o que era o caixão no porão da casa dela!

Nessa confusão, os milicos descobrem que o corpo não foi enterrado, expulsam o coronel Moori Koenig, e mandam Evita para a Itália, para a Igreja Catolica esconder. As razões desse detalhe não são muito claras, mas me parece que era o medo da repercussão se a história vazasse, e até pra ter o corpo para alguma barganha política no futuro, como viria acontecer de fato.

Perón estava exilado na Espanha, e continuava sendo amado pelo povo, que cada vez mais exigia a sua volta, bem como a guerrilha urbana dos grupos mais radicais que foram pra luta armada, como os Montoneros, que chegaram a sequestrar o corpo de um dos generais golpistas para trocar pelo corpo de Evita.

O resto da história já é bem conhecido. Os milicos fazem uma abertura semi-democrática, e o peronista Héctor Cámpora é eleito presidente. Mas antes disso, eles devolvem o corpo para Perón na Espanha como gesto de um acordo com ele, para deixá-lo voltar sem mergulhar o país numa guerra civil.

A série é sobre essa epopeia do sequestro do corpo até a devolução a Perón. Mas depois fui ler algumas coisas, e tem mais detalhes sinistros ainda!

Há quem diga que Perón deixava o corpo exposto na sala dele em Madrid no exílio! E fizeram um “ritual” qualquer lá para colocar a “alma” de Evita na nova esposa dele, a Isabelita Perón, que viria a ser vice dele, e presidente depois que ele morre. Mas este pedaço da história já a decadência do peronismo e de uma nação mergulhada em uma sequência de golpes e conflitos armados internos que enfraqueceram a soberania política do povo argentino.

Depois vem o general Videla, que derruba a presidente Isabelita, com a ditadura mais sanguinária dos milicos argentinos, 30 mil mortos, Operação Condor, derrota nas Malvinas, etc.

Enfim, vale a pena demais ver essa série! Ela tenta explicar a dimensão religiosa e psicólogica que a imagem de Evita tem naquele país. Muito incrível.

Eu sinto falta de um pouco disso no Brasil com o Getúlio Vargas. Apesar das premonições da Carta Testamento, faltou a Jango e a Brizola conseguir dar um aspecto mais espiritual para memória de Vargas.

Culpa de Juscelino Kubistchek também, que devia ter consolidado a mitologia do getulismo no governo dele, inclusive no projeto de Brasília, ao invés de tentar “substituir” Getúlio como figura central da construção nacional.