Sanções ao petróleo russo alteram toda a geopolítica

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Por André Luiz Dos Reis – EUA vai anunciar a proibição da importação de petróleo russo. A Austrália já anunciou. É bem possível que Japão e Inglaterra façam o mesmo, e mais alguns aliados ferrenhos dos norte-americanos. Mas a Rússia acabou de se adiantar aos europeus, e garantiu que fecha o fornecimento de gás para a Alemanha se a UE imitar a brincadeira norte-americana.

Os EUA querem cortar todo acesso da Rússia a dólares. [como o BC está sufocado com o cerco às reservas internacionais, e o país saiu do Swift, ele depende como nunca das exportações de commodities, dentre as quais petróleo e gás se destacam.]

A questão é que a Europa é refém do petróleo e do gás russo. Não todos os países da Europa, mas alguns bastante centrais pra economia do continente, como Alemanha e Itália. Não existe possibilidade desses dois países simplesmente pararem de importar esses produtos.

Não duvido nada que o barril de petróleo feche o dia em uns duzentos dólares. O movimento de Biden, se não for seguido de modo subserviente por um número grande de países, corre o risco de ser um tiro no pé, porque os preços estão subindo de modo acelerado e descabido. O que significa que a Rússia consegue mais dólares pelo simples fato das matérias primas estarem mais caras.

É um terrível jogo de xadrez. É uma guerra quase total, que só não pode ser chamada assim porque a OTAN não vai cometer a loucura de colocar tropas na Ucrânia.

O jogo é saber quem pisca primeiro. Quem apita antes. Como eu disse ontem, Washington está preferindo atear fogo no circo global, provocando a maior hecatombe econômica desde a crise do petróleo, nos anos 1970, do que permitir que os russos refaçam seu espaço geoestratégico na Ucrânia.

E nem estamos parando pra pensar a sério, ainda, nas consequências políticas internas em cada país europeu.

O mundo que vai sair desse conflito será completamente diferente.

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Além dos problemas no mercado de energia, as sanções ocidentais tem afetado drasticamente certas companhias aéreas europeias. Mas isto não é nada quando comparado às previsões de colapso da produção de grãos nos próximos meses.

Boa parte dos fertilizantes necessários à agricultura europeia não estão sendo entregues, justamente em uma época capital para o plantio. A crise pode bater forte caso esse cenário se mantenha por um pouco mais de tempo.

Outra área em risco são as de produtos com tecnologia sofisticada, como semicondutores e chips de computador, que dependem de matérias primas cujo mercado mundial é dominado pela Rússia e são usadas em praticamente todos os processadores do planeta [incluindo as líderes Intel e AMD].

Ou seja, o conflito atual entre Rússia e EUA vai bater forte, muito forte na Europa. E os norte-americanos correm o risco de acelerar a desdolarização, que pode ter atingido um ponto de não retorno.

Na minha opinião, a grande vencedora a médio prazo é a China. Pode sofrer um ou outro contratempo por causa da crise econômica mundial, em particular a hecatombe que pode vitimar a Europa, mas no jogo maior é indiscutível que e o polo de poder [poque se trata agora de um mundo cada vez mais multipolar] que sairá mais fortalecido.

Por André Luiz Dos Reis