Rita Lee: a iconoclastia da música brasileira

Rita Lee a iconoclastia da musica brasileira
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São Paulo, Vila Mariana, 1947. Rita Lee Jones, o fenômeno estético do Rock Nacional, a maior artista da maior megalópole deste país. Paulistana da gema, a obra de Rita pode ser subdividida em diversas fases.

Os Mutantes foram a versão brasileira do fenômeno do Rock psicodélico iniciado com os Beatles, no lendário “Sgt Pappers Lonely Heart Club Band”. Adicionando o tropicalismo que nascia na Bahia, Os Mutantes criaram uma obra absolutamente única na música brasileira. Rita, os irmãos Baptista, Dinho Leme e Liminha foram a banda de rock mais relevante da história de nossa cultura. As cores beatlemaniacas juntaram-se ao frescor tropical. De lá nasceram álbuns genias como “A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado” e o inigualável “Mutantes e os Cometas no País dos Bauretes”. Sem contar a participação no “Tropicalia ou Panis Et Circencis”, álbum que mostrou Caetano, Gil e turma para o resto do país.

Expulsa após uma crise de burrice coletiva de seus companheiros de banda, Os Mutantes provaram que sem Rita eram apenas normais. O fracasso da obra posterior da banda é o recado claro: a ruiva era uma potência estética poderosa demais para ir embora.

Juntando-se ao lendário guitarrista Carlini, Rita partiu para o Tutti Frutti, mais influenciado pelos Rolling Stones e sua linguagem direta do que pelos britânicos de Liverpool. Com a banda lançou 5 álbuns de estúdio, com destaque para “Fruto Proibido”, álbum que contém faixas como “Ovelha Negra” e a parceria com Paulo Coelho “Esse tal de Roque Enrow”.

Em 1976 conhece o homem que seria o grande amor de sua vida e seu maior parceiro musical. O sofisticadíssimo Roberto de Carvalho. Com Roberto (e sem Tutti Frutti), Rita gravou 16 albuns de estúdio e imortalizou-se por introduzir o “Power Pop” quase erudito por essas terras. Os acordes dissonantes mostravam a influência de Roberto (um fã de bossa nova incurável) e as letras traziam uma Rita Lee que desafiava a moral imperante aos tempos finais de ditadura. Um sopro de leveza num país que ia mal.

Iconoclasta por natureza, suas entrevistas eram marcadas por rompantes beatniks, com um cinismo britânico que lhe corria as veias. Zombou da bananice brasileira, carola e subdesenvolvida.Também não poupou a si mesma, quando, perguntando ao seu marido Roberto, disse: “Sou uma mulher esquisita, ex-presidiária, ex-AA (Alcoólicos Anônimos), ex-NA (Narcóticos Anônimos), não sei cozinhar, sou cinco anos mais velha, sem peito, sem bunda e fumante. Como você me aguenta há 44 anos?””

Nós aguentaríamos mais mil deles, Rita.