Ciro Gomes e a régua torta de Gabriela Prioli

Ciro Gomes e a régua torta de Gabriela Prioli
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A entrevista de Ciro a Gabriela Prioli foi excepcional. Mesmo àqueles que conhecem o discurso de Ciro eu recomendo. Foi direcionada ao público dela, que procura aprofundamento político.

O único problema da entrevista foi a “régua política” absurda que ela usou e que coloca o neoliberalismo como uma posição de centro. Segundo me disseram foi obra de um “cientista político” (eu acho essa expressão curiosa).

São eixos totalmente diferentes de posicionamento político. Vejamos;

O eixo da IGUALDADE:
A dicotomia esquerda-direita diz respeito ao grau de desigualdade econômica que a sociedade tolera. Vai do comunismo num extremo, com a social-democracia no centro e oligarquias (sejam democráticas ou não) no outro extremo.

O eixo da LIBERDADE:
A dicotomia autoritarismo-liberalismo ao grau de liberdade do indivíduo em relação ao Estado (liberal no sentido político está aqui). Vai de ditaduras coletivistas até regimes onde os direitos individuais não podem ser cerceados jamais pelo estado, o que seria, estrito senso, a ausência de Estado e a anarquia.

O eixo do MOTOR ECONÔMICO:
A dicotomia Estado-mercado diz respeito ao papel e tamanho do Estado na economia (liberal no sentido econômico está aqui). Vai do socialismo que é a planificação total e propriedade coletiva dos bens de produção num extremo, passando pelo desenvolvimentismo no centro e chegando ao neoliberalismo no outro extremo (ou o anarcocapitalismo, se alguém leva isso a sério).

A régua da Prioli desconsidera essas três dimensões de opção política colocando-as numa só, e de forma muito esquisita.

Na régua dela neoliberalismo é posição centrista, “democracia-liberal” está a esquerda, e “direita conservadora”, o que quer que isso seja, à direita dos fanáticos econômicos neoliberais.

Na verdade, alguém pode ser de centro, liberal e estatista ao mesmo tempo (exemplo é Roosevelt). Outros, de direita, autoritários e ultra liberais em economia (exemplo paradigmático é Pinochet). Outros ainda de centro-esquerda, liberais (políticos) e desenvolvimentistas (como eu acho que é Ciro).

Geralmente o termo “extrema-algo” se concede aos defensores de regimes autoritários, mas há outros tipos de extremismo, dependendo do eixo considerado.

Ao aceitar a régua torta dela, Ciro teve que se colocar à esquerda no espectro, mas a verdade é que sua posição em todos os eixos é centrista.

A régua que Gabriela Prioli usou é parte do misticismo da teocracia neoliberal, que quer vender o extremismo econômico do neoliberalismo como centrismo político.

  1. Eu concordo plenamente com esse artigo. Eu entendo da esquerda pra direita, de forma simplificada “Extrema esquerda”, esquerda, social-democrata, liberal-democrata, direita, “extrema direita”. Quando vi a régua dela, achei complicado colocar no espectro da esquerda o liberal “qualquer coisa”, considerando o liberalismo como do espectro de direita como plano de governo..

  2. Cara, neoliberalismo não existe. É um termo que sequer faz sentido. Eu nunca vi uma pessoa a favor do livre-mercado se auto-denominando “neoliberal”. Nunca vi pensadores se dizendo “neoliberais”. Por “neoliberalismo” você se refere a políticas públicas semelhantes às implementadas por Ronald Reagan e Margaret Thatcher, como privatizações, cortes de gastos, flexibilização de leis trabalhistas, redução de impostos e abertura econômica? Você acha que essas são medidas extremistas? Você acha que só um extremista colocaria o Ciro à esquerda do espectro? Se você dissesse que considera o anarcocapitalismo como extremismo, eu entenderia. Mas se você é daqueles que acha que o Paulo Guedes é um exemplo de “ultra-liberal radical”, então acho que é você quem está no extremo do espectro e ainda não se deu conta…

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