A relação entre o PT, os sindicatos e os meios estudantis e de juventude

A relacao entre o PT os sindicatos e os meios estudantis e de juventude
Botão Siga o Disparada no Google News

Existem duas características da história do PT que me parecem um tanto singulares e, do que pude ler e escutar, ainda não devidamente estudadas pelos interessados.

A primeira envolve a relação entre o sindicalismo e o partido.

A tese famosa do Lenin acerca das causas da domesticação reformista na social-democracia alemã aponta como principais responsáveis para as burocracias sindicais, dependentes dos super-lucros extraídos do imperialismo sobre as colônias, mas, além disto, inerentemente condicionadas à melhoria de vida no curto-prazo típica da luta econômica. O sindicalismo foi um vetor de moderação no SPD, mas também nos partidos comunistas ocidentais de massa — como o PCF — no século XX. Os setores mais vinculados à rotina sindical nestes partidos eram os menos propensos ao radicalismo.

Isto ocorre no PT? De certa forma, ao longo dos anos 90, a CUT cumpriu bem este papel prescrito pelos clássicos: de lá que surgem as primeiras propostas de aliança entre capital e trabalho, a defesa do “mundo da produção” em prol do desenvolvimento, que viriam a caracterizar a estratégia petista principalmente a partir de 95, mas mais fortemente ainda depois de 2002.

Ocorre que nos últimos tempos, há uma inversão curiosa. Em 2015, o sindicalismo cutista defendia uma posição contrária ao ajuste fiscal de Dilma/Levy, rompendo momentamente com os próprios representantes da tendência majoritária do partido. Agora, na crise da pandemia, a luta pelo auxílio emergencial de 600 reais — a única bandeira capaz de permitir um isolamento social realmente eficaz — vem sendo encampada com muita mais ênfase pelo mundo sindical, em estado de saúde calamitoso mas ainda assim mais dinâmico que o mundo da oposição parlamentar. Que fenômeno de desacoplamento do PT com seu próprio leito original é este?

Outra curiosidade vem dos meios estudantis e de juventude. Historicamente, daí surgem cismas à esquerda e tendências de revolta e radicalismo contra a paralisa e o acomodamento de partidos de esquerda.

Ora, quem quer que tenha conhecido a JPT sabe que isto definitivamente não vale para o partido. Muitas vezes, pelo contrário, as tendências mais direitistas e oportunistas possuem maior força aí do que entre os que estão fora da organização específica da juventude. Um fenômeno curioso de jovens querendo ser ainda mais pragmáticos e pertencentes à “vida adulta”, com suas gestões responsáveis e tranquilas feitas por pessoas de terno e gravata, do que os mais velhos.

Apenas um exemplo: lembro que as tentativas de maior aproximação com o Partido Democrata norte-americano vinham de um ex-membro destacado da juventude do partido.

Por isto, reforço: estas duas determinações, aparentemente fora do script da história previsível dos partidos de esquerda reformistas do Ocidente, mereciam maior atenção e esforço de compreensão e explicação.