O PT virou o partido do medo. O Lula que se apresentou ao país em 1989 dizendo que a esperança ia vencer o medo, agora se apresenta dizendo que o medo do fascismo tem que vencer a esperança de um novo modelo de desenvolvimento.
Assim como em 2018, está claro para todos que o alvo preferencial do PT nessas eleições é a candidatura Ciro. No entanto, não é claro para todos o motivo disso, uma vez que Lula se apresenta não como candidato, mas como presidente eleito.
Mas os motivos são vários.
O primeiro é que a candidatura de Lula depende de ser a única opção à Bolsonaro. Como as pesquisas indicam, Lula é o candidato que tem a maior margem de “voto mole”, ou seja, diferença entre voto espontâneo e estimulado. Já Bolsonaro, a menor. As manifestações de rua também demonstraram que o eleitor de Bolsonaro é hoje muitíssimo mais mobilizado. Isso faz muita diferença em cenário de voto facultativo, como hoje é o voto de fato no Brasil. É exatamente o eleitor menos convicto e o mais pobre, perfil do voto mole de Lula, que tende a não ir votar. Apostando em um discurso baseado apenas no medo e na defesa abstrata da democracia, Lula contribui para essa perigosa desmobilização e falta de esperança nas eleições. Certamente um cenário de segundo turno, hoje, agora, traria uma abstenção imensa e uma diferença de votos entre Bolsonaro e Lula muito menor, no mínimo, do que as pesquisas apresentam. Quem poderá então prever esse quadro em cima da eleição, depois da campanha de desconstrução bolsonarista?
O segundo motivo é o potencial de uma candidatura Ciro. É o Ipespe que indica que só Ciro tem um potencial de voto semelhante ao de Lula. Considerando o desconhecimento dos candidatos, o potencial é igual. Dos candidatos, Ciro tem a menor rejeição, uma rejeição baixa, muito menor do que as de Bolsonaro e Lula, em qualquer forma de medi-la (absoluta ou com várias escolhas). E não é só isso. Ciro lidera de longe a “segunda opção de voto”, o que indica não só seu potencial de crescimento, mas também seu potencial no segundo turno. Temos que lembrar que, quando falamos de voto decidido, temos ainda 45% de indecisos. Ao se consolidar como o único candidato “nem-nem”, pode herdar esse potencial de voto e crescer arrastando partidos que não vão optar por Lula ou Bolsonaro, fortalecendo sua campanha na TV com João Santana e nos estados com palanques regionais. Se hoje a candidatura Ciro – segundo todos os institutos de pesquisa à exceção do Datafolha – já garante a ocorrência de um segundo turno, seu eventual crescimento, que se daria preferencialmente em cima dos votos de Lula, pode ameaçar a ida ao segundo turno de Bolsonaro.
O terceiro motivo é o desmonte do mito Lula. O PT teme o poder de Ciro de desconstruir em algumas frases as mentiras construídas pelo partido agora e sempre, mentiras essas que foram as verdadeiras responsáveis pela criação do monstro do bolsonarismo. A suposta diminuição da desigualdade que nunca ocorreu, o suposto paraíso econômico que nunca ocorreu, as supostas absolvições que nunca ocorreram. Não só o período PT, mas o próprio Lula corre o risco de ser inapelavelmente desmontado nos debates, quer vá a eles, quer fuja deles. O PT sabe que se Ciro for candidato nestas eleições, Lula sairá com o carimbo do modelo econômico que desgraçou o Brasil na testa, ainda mais com Alckmin na chapa, representando o consórcio petucano que desgraçou nosso país.
O quarto motivo é que, com Ciro candidato, mesmo que ele perca, quer Lula ganhe quer não ganhe as eleições, o Brasil terá um novo líder inconteste da oposição depois delas. Se for ao segundo turno e vencer, um Lula de quase 80 anos e desmoralizado assumirá um governo fraco e sem qualquer margem de manobra dada a situação econômica do país e o antipetismo. Como o compromisso dele é com a manutenção do modelo, ele assistiria sua explosão bem em seu colo.
Se for ao segundo turno e perder, o modelo explodirá no colo de Bolsonaro e a liderança da oposição estará nas mãos de Ciro, pois Lula não terá sequer mais idade ou perspectiva para seguir adiante.
É por isso que o PT não pode deixar que Ciro seja candidato. O problema é que eles não têm poder para isso.
Se você que leu até aqui acha razoáveis essas explicações, convoco para que se dedique à campanha de Ciro como se não houvesse amanhã.
Não somos favoritos, mas nossa chance existe. Sempre haverá um amanhã. Mas se Ciro não vencer, a gente não vai gostar nada deste.
