A precarização neoliberal e a solidariedade negativa desde a eleição de Trump

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Quando Trump foi eleito, teve um artigo à época que me chamou atenção. Infelizmente, perdi a referência. Ele dizia que o niilismo da avacalhação que irrigava a eleição de Trump estava, de certo modo, ligado a uma condição de frustração introjetada que invertia a demanda por uma vida melhor.

Explicando: é como se, diante tanta frustração ou fracasso, a solidariedade social tivesse se convertido no seu oposto: em vez de querer que o outro esteja bem como eu, quero que o outro esteja mal como eu.

O efeito da precarização neoliberal é produzir espécie de solidariedade negativa, em que não desejo que nós, como classe trabalhadora, alcancemos melhores condições de trabalho, mas sim fico na marcação cerrada dos “privilégios” do outro em comparação à minha vida dura. No final, não estou querendo melhorar a condição de todos, mas generalizar a miséria da batalha cotidiana como condição universal.

Lembrei disso quando vi, nos últimos dias, vários casos — não foi um só, foram pelo menos 3, mas me lembro de vários de cabeça — de questionamento de pessoas que requereram valores considerados altos, diante da média nacional, para seu trabalho.

Acho que isso é fazer trabalho sujo para o neoliberalismo. O trabalhador decide quanto quer cobrar e paga quem quer. Não cabe a ninguém questionar isso.

Se tem algo que não barganho na vida, é pelo serviço do outro. Não posso pagar, não pago. Mas dizer para quem quer que seja — eletricista, cabeleireiro, psicanalista, professor, engenheiro — que seu trabalho é “muito caro” é ofensivo e equivocado.