A PEC da Lava Jato sobre a lista tríplice para PGR

A PEC da Lava Jato sobre a lista tríplice para PGR augusto aras sergio moro deltan dallagnol alvaro dias podemos
Foto: Isac Nóbrega
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Os revoltosos deltanistas do bunker de Curitiba não se dão por vencidos. Diante das imensas dificuldades em que se encontram desde que o STF autorizou o Procurador Geral da República a ter acesso à montanha de processos e documentos que a Lava Jato chamava de seus, a “Operação” reagiu mobilizando o seu braço parlamentar para propor que a Constituição seja alterada. Sim, a Lava Jato não gosta da Constituição tal como ela está. A Lava Jato acha que o Presidente da República não deve ter a prerrogativa de submeter livremente um nome à aprovação do Senado para o preenchimento do cargo de Procurador Geral da República. Afinal, o Presidente da República foi apenas eleito pelo povão e pode errar na indicação, como o Senado pode errar na aprovação. Para evitar o erro, a Lava Jato, por meio do seu braço parlamentar, apresenta uma solução genial e infalível: a corporação se reúne e impõe ao Presidente três nomes para que ele escolha um. Pronto!

O nome da bruxaria é lista tríplice.

A mudança pretendida na Constituição está numa PEC apresentada por senadores no dia 16 de julho, em plena pandemia do coronavírus. Na justificação da PEC, os senadores reportam-se a uma nota da ANPR – Associação Nacional dos Procuradores da República, que tem o domínio do fato da proposição. Segundo a Nota, a lista tríplice “foi observada e considerada desde 2003, por uma razão: é um meio eficaz para dar transparência ao processo de escolha do procurador-geral da República.”

Desde 2003? Interessante! Ou seja, o lavajatismo que dar dignidade constitucional às “boas práticas” tuiuiús no MPF do período de Lula e Dilma? Para que o distinto leitor saiba parte do que aconteceu com o Ministério Público no referido período, inclusive os obscuros descaminhos nas “eleições” eletrônicas das famosas listas tríplices, recomendo o artigo publicado aqui no Disparada, em 14 de junho, sob o título “Augusto Aras: agente da subversão bolsonarista ou anjo vingador do ethos republicano?”

Desde 2003, então? Que saudade é essa que suas excelências senatoriais têm do MPF que “brilhou” desde 2003? Afinal, a hipertrofia mórbida do Ministério Público se deu desde 2003. O desbordamento vaidoso e celerado de grande parte dos seus membros de alto coturno deu-se desde 2003. Por que a nostalgia daquele MPF “idílico”?

O que incomoda aos arautos das listas tríplices no MPF de 2020? Acaso importuna os heróis da ANPR e seu braço parlamentar que o país saiba agora, pela voz de Augusto Aras, que o volume de informações armazenadas à disposição da Lava Jato, a joia mais preciosa das listas tríplices, some inacreditáveis 350 terabytes, enquanto todo o “resto” do MPF guarde 40 terabytes; que a Lava Jato tenha 50 mil documentos invisíveis à Corregedoria-Geral; que 38 mil brasileiros tenham seus dados (quais dados?) nos servidores da Lava Jato e que ninguém saiba porque nem para que. Ninguém, nem mesmo a alta direção do MPF, nem mesmo o Procurador Geral da República, o que o levou a denominar a Lava Jato de “caixa de segredos”.

Ou talvez incomode ao lavajatismo e seu dispositivo parlamentar que o Brasil tenha sido informado pelo PGR Augusto Aras que as famosas listas tríplices que invariavelmente “elegiam” tuiuiús de alta plumagem durante a “Era de Ouro” do “republicanismo” corporativo-udenista “de esquerda” (desde 2003!) eram fraudáveis, segundo constatou a CGU e o setor de perícias do MPF. É possível que também cause algum desconforto a Suas Excelências que o distinto público tenha sido informado que o sistema eletrônico fraudável e inauditável não era usado apenas para “eleger” as infalíveis listas tríplices, mas também para distribuir processos entre os procuradores “da República”.

Vale observar quem são os 27 senadores que assinaram a PEC. O núcleo ideológico (para usar um jargão lavajatista) é o Podemos de Álvaro Dias. A ligação da Lava Jato com Álvaro Dias é antiga e notória como já se escreveu aqui. No entorno, assinaturas esperadas (os senadores da Rede Randolfe e Contarato, por exemplo), outras inesperadas (Paim, por exemplo, o único petista). Nenhuma assinatura do PDT.

Por que essa PEC numa hora dessas se não para que a Lava Jato, hoje nas cordas, ganhe algum oxigênio e busque desesperadamente recuperar o protagonismo e o antigo prestígio que lhe escorre pelas mãos? Não precisamos mudar a Constituição para que ela se amolde à Lava Jato, senhores senadores. Mas, como disse o insuspeito Estadão em editorial de 30/07/2020, talvez seja uma boa hora “para que haja alguma providência institucional para obrigar a Lava Jato a se reintegrar à ordem constitucional vigente, começando por explicar o que faz com a montanha de dados que amealhou sabe-se lá com que propósito.”

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Foto: Isac Nóbrega