Cuidado com os idos de Outubro: Shakespeare, Lacerda e Leite

Cuidado com os idos de Outubro Shakespeare, Lacerda e Leite
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Sim, o título do texto é não por acaso. Na tragédia de Shakespeare, César não escutou os avisos da conspiração. E aqui registro: Eduardo Leite.

Mas para chegar no governador do Rio Grande do Sul, vamos ter que falar do ex-governador do antigo Estado da Guanabara.

Carlos Frederico Werneck de Lacerda.

Neto de Sebastião de Lacerda, latifundiário e abolicionista da então riquíssima Vassouras (RJ), é filho do comunista Mauricio Lacerda. Aliás, seu nome composto foi em homenagem a Karl Marx e Friederich Engels.

Exatamente. Lacerda nasceu no berço comunista e foi até membro da Aliança Nacional-Libertadora. O talentoso jovem jornalista rompe e mergulha profundamente no Liberalismo ainda nos anos 1930. A máxima maoísta de não trair a marca de sua classe fez sentido: como – quase – todo rico, sobretudo brasileiro, foi mais um a se tornar canalha.

Carlos Lacerda, portanto, foi o maior nome da direita brasileira. Culto e articulado, conspirou como poucos contra a Democracia que ele dizia defender; contra os direitos do povo que dizia representar; contra a soberania do Brasil que dizia amar.

E a fração mais astuta da elite nacional sempre procurou líderes da direita que saibam manusear os diferentes garfos e facas. Uma direita que fala em francês, visita galerias de arte em Nova York e tenha tesão numa definição tasca e vazia dessa tal Liberdade – não pude evitar o trocadilho com o clássico de Só Pra Contrariar, a trilha sonora desse texto.

O último príncipe dessa direita ilibada, fina e que dá bicudas em pobres foi o Fernando Henrique Cardoso. O príncipe também teve seu início na esquerda paulista. Seu pai foi um general trabalhista e nacionalista, um grande deputado federal. FHC começa o governo dizendo que acabaria com a Era Vargas. Nesse caso e no de Lacerda, Sigmund Freud dá gargalhadas no outro plano.

FHC é do partido de Eduardo Leite, o PSDB. Um partido que pegou um Brasil minimamente estabilizado – com várias contradições – e que entregou com mais desemprego, fome, apagão e entrega do patrimônio nacional em nome da “modernidade”.

O saldo do PSDB na presidência foi tão ruim que Lula, em 2002, vence em 26 dos 27 estados no segundo turno. O candidato do governo, José Serra (QUE TAMBÉM COMEÇOU NA ESQUERDA!), estava escondendo o próprio Príncipe da Sociologia durante a campanha.

E, desde então, o PSDB nunca mais venceu nenhuma eleição nacional. Em 2018, o governador de SP, Geraldo Alckmin, perdeu no seu estado – e no Brasil – pro Ciro Gomes, que se criou no interior do Ceará.

E depois desse estrago todo, os jornalões, ligados ao que tem de pior no Brasil, querem inflar o Bolsonarismo sem Bolsonaro: as prévias do PSDB!

Numa competição de quem privatizaria mais rápido a Petrobras e quem bateria em mais pobres, Eduardo Leite é o querido da vez contra o chucro João Doria.

Na linha de Lacerda, a elite nacional – com aval das potências estrangeiras – busca a direita cheirosa, ilibada.

Mas, ao menos, Lacerda, enquanto matava pessoas em situação de rua e ateava fogo em favelas, construiu mais de 200 escolas – contudo, não mais que as 6.000 que Brizola estava construindo na mesma data.

Eduardo Leite vive com uma aprovação modesta de 33%. Não entregou nada ao Rio Grande do Sul. No máximo, entregou empresa pública pelo preço de um carro.

Entretanto, nunca se pode duvidar da capacidade da direita de fabricar nomes aleatórios. Não que seja, por hora, uma ameaça concreta para as eleições de 2022, mas o governador gaúcho tem todos os atributos para liderar nas próximas décadas esse perfil canalha e ardiloso.

O campo progressista tem a tarefa de liderar a oposição que derrube Jair Bolsonaro o quanto antes, por razões democráticas, nacionalistas e populares. Portanto, dialogar com setores de centro e direita não só é permitido como necessário. Mas isso não pode supervalorizar quadros que falam de uma democracia sem direitos do povo.

Eduardo Leite, nos próximos anos, tem de tudo para ter certo protagonismo nessa direita que se acha Brutus. Aliás, quem traduziu a tragédia de Shakespeare só podia ter sido ele: Carlos Lacerda. Uma direita que cita “amo mais a Roma”, mas tem horror a Roma, Remo, Romulo e, claro, horror ao Brasil.