Orçamento de Biden é tapa na cara dos economistas liberais

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Em linha com seu novo New Deal, Joe Biden acaba de divulgar um ambicioso projeto de orçamento de US$ 6 trilhões. De maneira geral, o projeto prevê aumento robusto nos gastos públicos com infraestrutura, saúde e educação. Essa elevação de gastos será compensada por aumento de impostos sobre empresas e sobre os mais ricos.

Para efeito de comparação, o orçamento de 2021 do governo Bolsonaro é de US$ 0,78 trilhão, mais de seis vezes menor. Depois de meses de negociação entre Congresso e Palácio do Planalto, para respeitar o teto de gastos, Bolsonaro cortou cerca de R$ 30 bilhões em todas as áreas, incluindo saúde, infraestrutura e educação, e sancionou um orçamento “equilibrado”, que respeita as “regras de ouro” das finanças. O orçamento de Biden, ao contrário, prevê um déficit de US$ 1,84 trilhão em 2022, o equivalente a 7,8% do PIB norte-americano. Imaginem o quanto o consenso entre os jornalões e a Faria Lima não estrebucharia se nosso orçamento previsse um déficit de R$ 9,56 trilhões. Mas o problema é o vira-latismo de nossas elites: lá, tudo bem, é ambição e altivez; aqui, é “farra com dinheiro público”, “descontrole nas contas públicas” e “despreparo”.

Pela proposta de Biden, pretende-se gastar US$ 4,5 trilhões ao longo da próxima década, em infraestrutura e em programas sociais. Em 2022, serão mais de US$ 17 bilhões em investimentos em infraestrutura, em que estão incluídas reformas em rodovias, ferrovias, portos e aeroportos. Para além dos transportes, Biden investirá cerca de US$ 4,5 bilhões em substituição de canos de chumbo, usados no transporte de água em todo o país, e US$ 13 bilhões para expandir o acesso à internet banda larga. O projeto também inclui o oferecimento de creche universal, com aumento do salário dos professores, para US$ 15 por hora.

Vê-se que “infraestrutura” para Biden vai muito além de transportes (pontes, estradas, portos). Infraestrutura é o fundamento da atividade econômica, isto é, qualquer atividade econômica que sirva de base para o desenvolvimento de outras, mais complexas e mais rentáveis. No Brasil, o celebrado “Ministério da Infraestrutura” não passa do antigo “Ministério dos Transportes”, com adição de portos e aviação civil. Por aqui, simplesmente inexiste planejamento estratégico global sobre infraestrutura, que deveria incluir saneamento básico, água, energia, transportes, transporte urbano, moradia popular, creches, 5G e acesso à internet.

Para bancar seu agressivo plano, Biden quer elevar o imposto de renda das empresas, de 21% para 28%. A alíquota do imposto sobre ganhos de capital, que no Brasil é de ZERO, passaria de 23,8% para 43,4%. Os liberais brasileiros, tão fascinados pelas “instituições” norte-americanas, bem que poderiam copiar a reforma tributária de Biden, como já fizeram tantas vezes em outros casos. O engodo da reforma de Guedes que está no Congresso não chega nem perto de atacar os principais problemas da economia brasileira.

A dívida pública norte-americana chegaria a 111,8% do PIB já em 2021, para desespero da Faria Lima, superando, inclusive, os níveis da Segunda Guerra Mundial. Os valores subiriam nas décadas seguintes, até atingir 117% do PIB em 2031. Seriam os Estados Unidos irresponsáveis, despreparados e inflacionistas quando o assunto é o desenvolvimento de sua própria nação?