O sábio movimento de Ciro ao se aproximar do DEM

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Por Bruno Machado – Na última eleição, Ciro Gomes deixou clara sua oposição à elite econômica rentista, ao mesmo tempo em que mostrou apreço pela elite econômica agroexportadora. Em seu plano de governo, havia um projeto nacional de desenvolvimento, pautado na orientação do Estado para praticar política industrial, usar de compras governamentais, subsídios e tarifas para tornar a economia brasileira menos agrária e mais industrial e tecnológica.

O maior empecilho para a implementação de sua proposta, além das urnas, é a negação dessa política por toda a elite econômica brasileira, que não quer mudar a estrutura econômica do país, algo que consequentemente mudaria a estrutura de poder do Brasil também. Isso fica evidente na propaganda da ideologia liberal em toda mídia hegemônica do país.

Com sua atual aproximação com a direita liberal, ou seja com a elite econômica conservadora do país, a estratégia de Ciro parece ser convencer essa elite atual que um desenvolvimento do país pode não mudar a estrutura de poder no país, como ocorreu no desenvolvimento econômico do Japão, por exemplo. Ciro possivelmente prometeu promover o desenvolvimentismo através de estatais e programas de financiamento e compras governamentais que estariam fechados com os proprietários da elite econômica agrária atual. Essa possibilidade de uma faísca realista no projeto desenvolvimentista de Ciro pode ser considerada uma traição ao trabalhismo, ou ainda, uma mera ilusão de Ciro de que algum dia conseguirá o apoio da elite economia do país para que essa seja favorável ao desenvolvimento econômico do Brasil? Talvez não, talvez Ciro Gomes esteja certo em sua estratégia política de longo prazo para o Brasil.

Sem oposição dos militares, que são neutros quanto a Ciro e mantendo o poder da elite econômica agrária e financista em uma mudança industrial e tecnológica do Brasil, uma presidência de Ciro Gomes pode elevar a renda per capita do Brasil, colocar o país em uma rota de crescimento acima de 5% ao ano sem que seja necessária nenhuma revolução popular nas ruas ou qualquer tipo de mudança estrutural como ocorreu no bolivarianismo. Ciro parece entender muito bem que o destino do país não está apenas no poder dos cidadãos com título de eleitor, mas também na elite econômica atual e nas Forças Armadas, essas mesmas que Ciro sempre faz questão de elogiar para buscar certa proximidade e evitar um golpe caso seja eleito. De todos os candidatos a presidência do Brasil, Ciro Gomes é o mais preparado e maior conhecedor da economia e sociologia brasileiras.

É importante diferenciar o que é idealismo do que é pragmático na política. Diferentes contextos históricos e diferentes correlações de forças presentes no poder, muitas vezes, distanciam o que seria uma atitude pautada pelo idealismo de uma atitude pautada pelo pragmatismo. Se Ciro crê não poder contar somente com a forças das ruas para se eleger, e, mais ainda, para governar de forma estável, a alternativa que sobra é buscar alianças com partidos que representam o capital e detêm cadeiras no Congresso. Para afirmarmos se Ciro Gomes está mais a esquerda ou mais a direita, precisamos aguardar a existência de um presidente Ciro e, aí sim, avaliarmos os resultados obtidos considerando as condições de chegada ao poder e como o país estaria após sua saída. Se buscar apoio de partidos que representam interesses do capital (principalmente agro e bancos, como o DEM) faz de um político um direitista, então Getúlio e Lula não podem ser chamados de representantes da esquerda (o que seria um erro). Além disso, não se deve confundir estratégia eleitoral e busca de convergências que possibilitem um mandato estável, com desempenho na presidência em si.

Se Ciro e Lula se assemelham em suas buscas por proximidade com o centro (que na realidade é a direita política pois representa o capital), o que os diferencia é que Lula já governou e cometeu erros (sejam inevitáveis ou não no contexto histórico da época e perante a correlação de forças capital-trabalho existente no período de seu governo), já Ciro tem crédito e precisamos ver um governo seu na presidência para podermos fazer um julgamento pragmático sobre sua contribuição com o avanço da força do trabalho sobre a força do capital no país.

Por: Bruno Machado.