A sinfonia do passado

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Ontem e hoje dois artigos de Roberto Amaral de Luiz Carlos Bresser-Pereira mostram a mudança de discurso no lulismo e de estratégia de Lula. Diante de sua nova condenação e da impossibilidade de repetir o script fraudulento de 2018, por absoluta falta de atores dispostos a fingir que acreditam, Lula abandona o discurso da radicalização e da candidatura em 2022 pelo da unificação das forças democráticas.

Com isso, já sai de cena “ali na esquina”, como previ duas semanas atrás, o Lula radical e esquerdista e entra o “líder da unidade democrática nacional”.

O objetivo obviamente não é essa unidade, mas impedir a todo custo a implosão da hegemonia petista no campo progressista que se desenha com a nova frente sem o PT: PDT-PSB-Rede-PV. Essa frente tem o potencial de atrair eventualmente em alguns lugares o centrão e também o PCdoB, consolidando o isolamento de Lula e do PT.

O obstáculo de Lula, no entanto, é óbvio: a maioria dos atores políticos nacionais não quer conversa com ele, que dirá, aliança.

Para isso, acena ao PMDB que é a única porta, quebrada, que se mantém entreaberta para ele em nome de uma frente ampla. Percebendo que não tem mais capacidade de impor sua candidatura ou liderança ao campo progressista, vai tentar impedir a perda absoluta de poder sobre ele tentando desmontar a aliança PDT-PSB-Rede-PV que se articula em torno do ideário desenvolvimentista e é claro, lutando com todas as forças para enfraquecer Ciro Gomes, que é agora contra quem disputa.

Para isso tenta emular seu discurso e acenar momentaneamente a pessoas de fora do PT, como Dino ou Requião, indicando um possível apoio futuro. Não é a primeira vez que Lula usa Requião como seu peão para tentar evitar que ele ajude a reaglutinar um polo desenvolvimentista, o que surpreende é que não seja a última, pois Requião parece alimentar uma esperança infinita de que o Lula algum dia o apoie para presidente no PMDB. Só ele e mais ninguém na classe política.

Dentro desse quadro, a prioridade de Lula agora é implodir essa nova frente em São Paulo, impedindo Marta Suplicy de ir para o PDT. O que quer que Marta peça para Lula em troca de sua não filiação ao PDT ele dará, menos uma coisa: a prefeitura de São Paulo. Qualquer candidato apoiado por Lula para a prefeitura nunca mais vencerá ali.

E esse é o grande detalhe que falta na estratégia do velho Lula. O Brazil de hoje, não é mais o Brasil, o PT não é mais o PT, o Lula não é mais o Lula.

Peso insuportável a amarrar a esquerda e o campo democrático no Brasil, maior elemento de sustentação do governo Bolsonaro pela negação, o PT vai ter que se conformar com um papel secundário na frente democrática que venha a ser criada nesse país ou ficar fora da foto.

Tudo o que Lula tem a oferecer ao Brasil hoje é a tentativa de reedição da chapa PT-PMDB e com ela de toda a quadrilha associada que foi dizimada nas últimas eleições.

Isso é tudo o que a defesa da política e da democracia não precisam.

Uma juventude atônita com a ruína de suas vidas e de seu futuro causada pela irresponsabilidade de Lula e do PMDB tem que ler tradicionais quadros políticos do campo progressista repetirem que eles não têm outra opção que não aceitar a “liderança” de Lula e um futuro igual ao passado.

Mas Bolsonaro está aí exatamente porque para os jovens hoje Lula é o passado, e o PT, um passado recente terrível, o de Dilma.

E eles não querem ser enterrados com o faraó Lula em sua pirâmide de Queóps, seja em Curitiba ou em qualquer outra penitenciária.

Eles querem e merecem ter a vida e o país que essa geração que exige Lula não foi capaz de legar para eles.