Lula será o candidato do sistema; e Ciro, o do povo

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Por Bruno Machado – Quando Lula foi acusado e, pouco depois, preso por corrupção, a maior parte da sociedade o considerou culpado por acreditar que uma investigação judicial sobre um candidato à presidência seria neutra e desligada de tendências históricas e disputas sociais pelo poder.

Apesar disso, parte minoritária da sociedade brasileira, já na época, apontou as intenções políticas da persecução contra Lula evidentes em um país fortemente liderado pela elite econômica, que implantou a ditadura militar, colocou Collor no poder e trocou Dilma por Temer, para ficarmos só na história mais recente do Brasil. Da mesma forma que não havia Poder Judiciário neutro em todos esses momentos históricos, evidentemente não haveria com Lula ou com nenhum tema de relevância na disputa pelo poder no país.

O Judiciário exerce poder político

Como já apontado por Wright Mills, o Judiciário é apenas um braço do poder político, junto com o executivo, o legislativo, os partidos políticos e outras formas de organização da sociedade. Acontece que não se pode considerar o poder político como único regente em um mundo controlado pelo dinheiro e pelas armas. Sem considerar os poderes econômicos e militares, uma análise do poder político isolado se torna fraca, e quando essa análise exclui o Judiciário do poder político, considerando-o técnico e neutro, chega-se a uma análise tão superficial que se pode chamar inútil.

Mais do que isso, se a criminalização de Lula foi política, influenciada também pelos poderes econômicos e militares (nacionais e internacionais), seu processo de descriminação também é. Engana-se quem aponta o Supremo Tribunal Federal apenas como uma instituição de ação tardia. O Supremo apenas subscreve decisões já tomadas pelas forças políticas, econômicas e militares em disputa pelo Brasil. Se Lula foi condenado, era porque convinha às forças que detinham mais poder sobre o Brasil e se será inocentado será pelo mesmo motivo.
Seja o objetivo manter uma aparência de seriedade das ferramentas institucionais (o STF e o Judiciário como um todo) ou por interesses diretos em uma candidatura de Lula.

A mídia escolheu Bolsonaro ao venerar Guedes

Nas eleições de 2018, a mídia de massa, representante da elite econômica brasileira, demostrou de forma nem tão velada um apoio a Jair Bolsonaro. Para isso, ressaltava os supostos pontos fortes de Guedes e sua agenda que tiraria o país da crise e o colocaria em uma rota de crescimento, ao mesmo tempo que deteriorava de todas as formas a imagem do PT e de Haddad, que representava Lula na eleição. Hoje, essa mesma mídia reconhece majoritariamente que errou em sua “escolha muito difícil”, mas não é por isso que deve mudar de lado.

As manchetes dos jornais de grande veiculação ressaltam a importância das reformas liberais e austeras de Paulo Guedes ao mesmo tempo em que atacam o negacionismo científico de Bolsonaro e seu desejo de derrubar a democracia por dentro para governar com os militares.

Faria Lima e EUA temem os quartéis e a destruição da Amazônia, respectivamente

A elite econômica, que tem seus interesses expostos nos jornais, parece temer o avanço de poder dos militares no governo, roubando espaço antes conquistado por essa elite econômica, a Faria Lima teme os quartéis. A recente atitude das Forças Armadas ao não punir Pazuello deu um recado: estamos com Bolsonaro. Dessa forma, entre Lula e Bolsonaro, dessa vez a mídia, a elite econômica e portanto o sistema e a ordem devem ter Lula como seu candidato, já que candidatos de centro-direita terão poucas chances de ir ao segundo turno.

Do ponto de vista internacional, Bolsonaro foi eleito por conta do antipetismo vindo da Lava Jato, operação policial hoje claramente enviesada e com possível apoio dos EUA para afastar o Brasil de planos de desenvolvimento tecnológico, independência energética e alinhamento com o BRICS. Mas hoje, a prioridade dos EUA é manter a Amazônia viva e Lula não representa um grande risco ao imperialismo, já que historicamente manteve uma postura neutra quanto a isso. Além disso, manchetes duras contra Bolsonaro nos grandes jornais dos EUA e do UK demonstram que a elite econômica de lá está insatisfeita com seu representante no Brasil, não só por conta da Amazônia mas pela imagem extremamente negativa que Bolsonaro conquistou no mundo ao gerir um genocídio.

Nesse cenário, Ciro estaria mais próximo dos interesses dos trabalhadores do que Lula

Se Lula vier a ser o candidato do sistema, o significado prático desse fato seria a manutenção de toda estrutura de poder e renda existente no país. Restaria a população escolher entre sua manutenção com leves amenizações que um governo petista traria aos retrocessos de Bolsonaro ou um projeto de esquerda nacionalista voltado a redução de desigualdades e desenvolvimento econômico do país, que é o projeto de Ciro e do PDT. Por conta dessa diferença, nesse possível cenário, Ciro parece se aproximar muito mais dos interesses populares do que Lula, ainda que venha a ser uma candidatura composta pela centro-esquerda até a centro-direita.

Por: Bruno Machado.