Limitações da estratégia de Bannon

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Por Christian Lynch – Muito se fala da genialidade da estratégia de Bannon para ocupar espaço na mídia e manter mobilizada a base extremista do líder populista. Mas, a essa altura, está claro o quão limitada ela é em geral e principalmente no Brasil.

Primeiro, o discurso antiestablishment funciona melhor na oposição do que na situação. Porque o governo extremista é tão ruim, formado por arrivistas lacradores que não administram nada, que tende a ser rejeitado na eleição seguinte. Como aconteceu com Trump.

Segundo, trata-se de uma estratégia muito dependente do contexto institucional americano. Lá o sistema é bipartidario (país rachado em duas identidades políticas básicas) e com voto distrital (polarização também no nível micro). As instituições fomentam a bipolaridade.
Ora, num país de sistema fragmentado partidariamente e de voto proporcional de lista aberta como o Brasil, a estratégia de Bannon só funciona mais ou menos em eleição majoritária (executivo) e não proporcional (legislativo).

A intensa polarização aqui foi um produto circunstancial da longa situação petista e dos escândalos de corrupção e da lava-jato que desmoralizaram o sistema. Nossa estrutura institucional não fomenta ou organiza a polarização. Com o recuo do lavajatismo, o extremismo reflui também.

Outra diferença aqui é que Lula também é maior do que o PT: ele é muito mais versátil e atrai muito voto que não é petista. O próprio antipetismo está recuando porque o problema virou Bolsonaro, que está no poder com sua ruinosa administração.

Por fim, as desigualdades no Brasil, sendo bem maiores que nos EUA, fazem com que uma larga parcela da população esteja mais preocupada com comida, saúde e educação do que com costumes. O Estado é visto por uma vasta parcela do eleitorado, menos como problema do que como solução.

Como o papel do Estado no Brasil é muito maior do que nos EUA, e o governo federal do que os estaduais ou municipais, o discurso de que o intervencionismo do Estado tem que acabar para ceder lugar de novo às igrejas e às famílias têm bem menos apelo.

Por tudo, acredito que a estratégia de Bannon, já limitada quando o líder está no poder, me parece ainda mais limitada no Brasil. A entrega de Bolsonaro ao centrão, a incapacidade de criar partido próprio, o golpismo falho, a impopularidade renitente, são evidências disso.

Por: Christian Edward Cyril Lynch.