É lenda que o PT distribuiu renda no Brasil

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Uma das grandes lendas urbanas da política brasileira é a de que houve inédita e significativa distribuição de renda durante os governos do PT.

Um dia, ao ouvir isso mais uma vez, perguntei ao meu interlocutor por que pelo menos parte das 40 milhões, 50 milhões ou 60 milhões de pessoas (as estimativas variam) que saíram da pobreza não se mobilizou para defender o governo do PT durante o ano e meio que durou o processo de impedimento de Dilma Rousseff.

Ele hesitou e eu mesmo respondi: “Porque essas pessoas não existem.”

Até hoje, essa minha afirmação provoca surpresa e incredulidade, como se fosse fruto de algum sectarismo político. Não é. Eu adoraria que tal distribuição tivesse sido verdadeira, pois dediquei minha vida a ela. Estudei o tema com espírito aberto e fiz um texto longo sobre ele, em meados de 2016. O primeiro título que dei foi “Muito barulho por nada”. Na introdução, escrevi:

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Processos de distribuição de renda não são inéditos no país. O mais substancial deles ocorreu entre 1946 e 1964, e foi interrompido pelo golpe militar. A Constituição de 1988 criou as condições preliminares para que ele fosse retomado, em diferentes ritmos, nas décadas de 1990 e 2000.

Esse ciclo recente de distribuição sem reformas foi superficial e já terminou. Desde 2013 está em curso uma reversão dos ganhos obtidos, o que não deve nos surpreender. Nesse período, a economia brasileira experimentou retrocessos importantes em seu grau de complexidade e em sua inserção no sistema internacional. A indústria se enfraqueceu e a pauta de exportações se reprimarizou. O trabalho qualificado, base de um aumento sustentável da renda, regrediu.

Um modelo econômico com essas características não pode sustentar por muito tempo um aumento na renda da maioria da população. Ancorado em gastos bancados diretamente pelo Estado, o processo distributivo, tal como foi conduzido, contribuiu para a crise fiscal que vivemos hoje, agravada pelo aumento dos juros, as desonerações tributárias e a recessão.

Nosso estudo demonstra também que o desempenho brasileiro durante a primeira década do século XXI nada teve de excepcional: apenas acompanhamos o movimento geral da América Latina, igualmente beneficiada pela alta internacional nos preços das commodities. Comparados com o mundo, transitamos da quarta para a quinta posição no ranking de países com pior distribuição de renda.

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Quem quiser compreender a metodologia que usei e os resultados a que cheguei, clique neste link. É um texto longo, mas politicamente relevante. É anterior ao trabalho de Thomas Piketty que chegou às mesmas conclusões.

Por: Cesar Benjamin.