O lavajatismo abandona o bolsonarismo que ajudou a criar

O lavajatismo abandona o bolsonarismo que ajudou a criar
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O lavajatismo, que foi uma das variáveis explicativas da vitória do Bolsonaro (há outras variáveis – “uma tempestade perfeita”), abandona o barco que escolheu! Sim, o lavajatismo escolheu o Bolsonaro, o Moro era Ministro do Bolsonaro até hoje e os procuradores durante a eleição declararam voto ao Bolsonaro. Não é tão simples assim separar o lavajatismo e o bolsonarismo. São dois lados da mesma moeda (moralismo, messianismo, antipolítica, etc.)! Inclusive, acho que a avaliação positiva do governo não deverá cair muito, apesar do aumento da rejeição. Explico.

Olhei a última pesquisa Datafolha, após a demissão do Mandetta, que vou reproduzir aqui. A avaliação do desempenho do Bolsonaro em relação ao Covid-19: Otimo/bom 36%; regular 23%; 38% ruim/ péssimo. Considerando que essa pergunta é uma proxy da avaliação do governo, vou fazer algumas apostas para a nova pesquisa.

No meio dessa instabilidade institucional, em curso desde 2016, somente é possível projetar o curto prazo, ainda mais no contexto dos impactos da pandemia. Acho que na próxima pesquisa do Datafolha, o governo Bolsonaro ficará com um avaliação ótima entre 29% e 33% (valor esperado médio de 31%), queda bem menor do que a esperado pelo analistas; regular de 16% (maior queda nesse item); e ruim/péssimo vai crescer muito 50%.

Minha hipótese: a classe média lavajatista já tinha desembarcado do Bolsonaro, por isso os panelaços nas zonas mais ricas das cidades brasileiras, aqui no Rio o Leblon e adjacências…

Caso a aprovação do Bolsonaro permaneça no patamar que projetei, evidenciará que há uma interseção muito maior entre o bolsonarimso e o lavajatismo, não destacada pelos analistas políticos. Ou seja, o Bolsonaro e o Moro disputam a mesma popularidade num mesmo segmento da população no campo da direita… Em termos de popularidade eles estão mais conectados do que imaginam… O jogo fica mais embolado com as fissuraras no campo da direita…

Caso minha hipótese esteja equivocada, implicando numa forte redução da popularidade do Bolsonaro, os militares no governo vão se movimentar e tirar o apoio ao Bolsonaro. Somente, com isso, estaria aberto o sinal para o impeachment. Desde o 2018, os militares tornaram-se atores políticos relevantes com poder de veto e de pressão política (“balançando as armas”). Sim, não temos uma democracia plena e as nossas instituições estão estilhaçadas.

Por Eduardo Costa Pinto, Professor do Instituto de Economia da UFRJ

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