A histeria de Olavo de Carvalho e a “Revolução Reacionária”

A histeria de Olavo de Carvalho e a Revolução Reacionária
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1. Olavo de Carvalho, há décadas, decidiu explorar politicamente o ressentimento presente em parcelas importantes da nossa população, dando-lhe sentido, orientação e expressão pública, tudo isto envolto numa “narrativa” pretensamente sustentada por uma teoria filosófica.

2. Olavo foi muito hábil em manipular o ressentimento social, dando a pessoas que até então o experimentavam de modo isolado e confuso, um sentimento de pertencimento a uma visão de mundo e a um movimento político supostamente de transformação. Muitas destas pessoas – salvas do isolamento e da confusão, e sentindo-se empoderadas desde então – ficaram-lhe profundamente gratas a ponto de o tomarem não só como professor, mas também como guru e líder político.

3. O ressentimento explorado por Olavo tem várias origens, mas a “teoria filosófica” com a qual ele o capturou é uma só: a da extrema-direita que se vale da atual crise ideológica generalizada para afirmar valores e uma visão de mundo pré-modernos.

4. O que a extrema-direita na qual se encontra Olavo de Carvalho quer é uma “revolução reacionária”, que extinga o que for possível extinguir dentre as conquistas civilizatórias da Modernidade, sejam elas nas artes, nas ciências, nas filosofias, na historiografia, na moral e nos costumes, na política… Para isto, é preciso forjar um grupo militante que atue como vanguarda: os cursos de Olavo de Carvalho tiveram, desde sempre, este objetivo.

A histeria de Olavo de Carvalho e a Revolução Reacionária

5. Dentre as fontes do ressentimento explorado por Olavo, destaco duas: (1) o contraste, na moral e nos costume, entre o conservadorismo generalizado no povo e o progressismo generalizado nas camadas intelectualizadas, e (2) a perturbação no imaginário da classe média provocada pelas políticas dos governos do PT de “inclusão social” dos pobres. Cabe lembrar, ainda, que boa parte dos ressentidos recrutados por Olavo se tornaram adultos durante os governos do PT, cuja mimetização das piores práticas do submundo da política forneceu munição para a velha demagogia direitista da “luta contra a corrupção”.

6. Olavo percebeu que, para ser exitoso o projeto de formação de uma vanguarda para a “revolução reacionária”, nas condições dadas, requeria a fusão dos desconfortos provocados pelo progressismo na moral e nos costumes, pela “inclusão social” e pela “corrupção na política”. O caminho para a fusão dos três desconfortos não era outro senão identificar uma única e mesma causa para eles. A respostas todos conhecemos: os “comunistas”.

7. “Unificando” os inimigos, no vocabulário olavista “comunistas” são os jornalistas, os intelectuais, os políticos, os militantes dos movimentos sociais e das “pautas identitárias”, os professores e os artistas não reacionários – em sua maioria defensores ou das “minorias”, ou das políticas de “inclusão social” ou dos “políticos corruptos”. Desta forma, a “revolução reacionária” projetada por Olavo de Carvalho assume uma configuração histericamente anticomunista…

8. … o que vem ao encontro dos interesses da plutocracia, engajada que está em levar às últimas consequências o programa de financeirização da economia, e os projetos de “desidratação” da Constituição de 1988 e de desmonte final da “herança varguista”.

9. Jair Bolsonaro, que nada tinha na cabeça de mais consistente, encontrou em Olavo de Carvalho, na sua pregação anticomunista e na vanguarda da “revolução reacionária” (os olavistas) um porto seguro no qual pudesse ancorar a sua extraordinária boçalidade e incompetência. Mas Olavo tem telhado de vidro e hoje, em um dos seus ataques histéricos, apavorado com os processos contra ele que começam a ser julgados, chantageou o presidente: ou Bolsonaro põe a máquina do Estado em seu auxílio, ou ele ajuda a derrubá-lo. Ridículo ou patético?

10. Na prática, o ataque histérico de Olavo não é mais do que um pedido “dramático” de grana… Mas esta bravata traz confusão às hostes do bolsonarismo, isto me parece fora de dúvida. No ataque histérico, além do pedido de grana, Olavo cobrou do presidente e dos militares a “coragem” necessária para virarem a mesa. Mas, pelo jeito, os únicos “revolucionários reacionários” nesta história são Olavo e os olavistas. Bolsonaro e os militares entreguistas da boquinha de seu governo não passam de “reformistas”. Pelo menos, por enquanto…