A Brasilidade de Hélio Jaguaribe

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Foto: Nelson Pérez / Valo
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“O problema do nacionalismo, com todas as suas implicações, constitui a questão fundamental com que ora se defronta o Brasil, cujo futuro será decisivamente condicionado pelas opções que adotar, ante as várias alternativas que nessa perspectiva se abrem para o país. Este trabalho é uma contribuição ao esclarecimento de tal problema”. (JAGUARIBE, Hélio. A Atualidade do Nacionalismo Brasileiro. Brasília: FUNAG, 2013, p. 13.)

Dotado de um sentimento de brasilidade atuante Hélio Jaguaribe Gomes de Matos (1923-2018) foi um dos mais produtivos pensadores do Brasil no século XX. Por abordar em seus trabalhos diversas áreas do pensamento, atribuir-lhe o ofício de sociólogo, cientista político, dentre outros, é restringir o alcance de seus feitos. Efetivamente, imagino, lhe cai bem denominá-lo como um intérprete do Brasil, patamar bem difícil de se atingir devido à complexidade do objeto a ser interpretado. E para tanto, Jaguaribe, além de vasta obra e destacada carreira acadêmica, fundou e geriu institutos e partido político, administrou empresa, atuou em esfera relevante do Estado, enfim, agiu como um teórico voltado para a práxis.

Nascido no Rio de Janeiro, ainda Capital Federal, concluiu o curso de Direito pela PUC em 1946. Depois do curso jurídico expandiu seus estudos para os campos da sociologia, economia, relações internacionais, filosofia. Já em 1949 organizava o grupo da “5ª Página”, desde 24 de julho, ao qual era equivalente a um sup 5ª página do Jornal do Commercio, publicado aos domingos. Essa foi início do movimento que culmina no ISEB. Nos dizeres de Jaguaribe, o “ISEB constituiu no aperfeiçoamento institucional de um movimentos de ideias”, cujos antecessores imediatos foram o Grupo de Itatiaia, agrupamento de intelectuais oriundos de São Paulo e do Rio de Janeiro que se reuniam periodicamente no Parque de Itatiaia, situado no sul fluminense, e depois disso, no Instituto Brasileiro de Economia, Sociologia e Política (IBESP).

O ISEB logrou ser um dos centros de intelligentsia influente na História do País. A partir dele e da elaboração multidisciplinar da reflexão nele produzida, notadamente pela influência do pensamento de Karl Mannheim, surge o nacional desenvolvimentismo, concepção que visava interpretar a realidade brasileira e constituir uma visão política para transformá-lo. No período de 1955-1958, o Instituto Superior de Estudos Brasileiros foi dirigido por Jaguaribe e estava pautado por uma preocupação metodológica que almejava constituir instrumentos analíticos e concepções teóricas que tivessem por base a singularidade da sociedade brasileira em seu tempo histórico específico, e com isso não aderisse ao dualismo entre positivismo e marxismo.

Neste momento em que o distinto brasileiro falece aos 95 anos de idade, o País passa por uma das mais graves crises de seu processo civilizatório, ao qual exige, não apenas ações concretas, mas também, conhecimento para práxis eficiente. Hélio Jaguaribe, além de associar essas características, tinha uma brasilidade muito bem descrita por seu colega de ISEB, Ignacio Rangel: “quem ainda não sabe que o Brasil é useiro e vezeiro em acertar por equívoco, não sabe da missa a metade. Se estivermos certos no fundamental – ou seja, acreditarmos no País – iremos corrigindo os erros currente calamo” (ao correr da pena, ou seja, naturalmente).

E nisto Hélio acreditava. Cria, profundamente, no País.

 

Por Adami Campos (IEB-USP)
Advogado e Cientista Político

 

Publicações na imprensa sobre Hélio Jaguaribe

1) Nexo Jornal: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/09/10/Quem-foiHelio-Jaguaribe.-E-suas-ideias-para-opa%C3%ADs?utm_campaign=anexo&utm_source=anexo

2) Folha de S. Paulo: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/09/sociologo-ecientista-politico-helio-jaguaribe-morre-no-rio-aos-95-anos.shtml

3) Valor Econômico: https://www.valor.com.br/brasil/5824325/expoente -dopensamento-brasileiro-do-seculo-xx-helio-jaguaribe-morre-aos-95