GUSTAVO CASTAÑON: Um cenário mutável para as eleições de 2022

eleições 2022
Botão Siga o Disparada no Google News

Como estaremos em 2022? Difícil saber se estaremos vivos, mais ainda os atores principais desse drama. Mas a preço de hoje, a nuvem que se arma no céu mostra seis forças políticas no país que parecem ter força para chegar ao segundo turno de 2022, se houver eleições:

A primeira é o bolsonarismo. Com Bolsonaro presidente ele é favorito a chegar ao segundo turno e também a perdê-lo, como era o PT nas eleições passadas. Sua reeleição é quase impossível porque os aspectos mais severos da crise causada pela gestão neoliberal de Guedes sequer começaram a ser sentidos. Se Bolsonaro morre ou sofre impeachment até o próximo ano, o bolsonarismo paradoxalmente fica mais forte. Bolsonaro se torna vítima e Mourão, mais inteligente, pilotando a máquina do governo pode descartar Guedes, fazer uma ampla aliança com a política, estancar a crise e vir favorito para 2022.

A segunda é o lulismo. Muito forte ainda nos grotões nordestinos, o lulismo mostrou que tem força para chegar ao segundo turno com Lula ou seu preposto, e nenhuma para vencê-lo. O cenário só se agravará em 2022 pois agora o PT não consegue sequer unificar a esquerda do espectro político num segundo turno contra a centro direita. A aposta para ocupar simbolicamente a esquerda portanto continua sendo em Bolsonaro, e hoje ninguém no país deve rezar mais pela saúde do presidente do que a burocracia petista. A relevância do PT hoje em grande parte depende da polarização com Bolsonaro. Caso cheguem em 2022 com alguma chance de chegar a um segundo turno com ele, tendem a unir todo o resto do país e mesmo eleitores do bolsonarismo em torno do terceiro colocado para evitar sua volta ao poder. Perder no entanto não é um problema para o PT. Eles sacrificarão o país inteiro para permanecer no papel de liderança da oposição, o que, no entanto, já estão perdendo.

A terceira força é o nacional-desenvolvimentismo, ressuscitado no Brasil por Ciro Gomes. O que se reúne confusamente sob sua liderança é tudo o que restou de forças na sociedade que ainda querem um projeto de país soberano e grande, e com alguma habilidade tende a crescer nos próximos anos tanto com eleitores desiludidos que acreditavam que Bolsonaro era nacionalista como com setores da esquerda que foram arrastados na marra por Lula e da classe média que vão se convencendo mais uma vez que neoliberalismo é colapso. Seu grande obstáculo será como sempre chegar ao segundo turno, mas dessa vez partirá de um patamar maior, e se conseguir aglutinar parte da esquerda e do centro que lhe faltou nas últimas eleições, chega como favorito. É por isso que isso não será nada fácil.

A quarta força é o tucanato tradicional e a elite nacional que começa a se aglutinar em torno da candidatura de Luciano Huck. Não é um candidato nada desprezível num cenário de polarização. Apesar de representante do oligarquismo mais cruel do mundo, o da elite brasileira, e do neoliberalismo atroz de Armínio Fraga, esse apresentador de TV virá com um sorriso no rosto, simpatia e habilidade. Vai esconder seu neoliberalismo com um discurso identitário (não econômico) de combate a desigualdade. Vai disputar o voto “nem nem” (nem Bozo nem Lula) com Ciro e ocupar simbolicamente o centro. Se mostrar força eleitoral e resiliência pode tirar o Centrão de Doria.

A quinta força é o lavajatismo, o udenismo brasileiro brasileiro que se recusa a morrer. Se desvencilhar-se rápido de Bolsonaro, Moro se torna forte candidato à presidência que atrapalhará os planos de Huck para ocupar o polo direito do voto “nem nem” e levará consigo parte significativa dos votos do bolsonarismo. O udenismo nunca venceu uma eleição no Brasil e seus candidatos tiveram desempenho pífio nas últimas eleições, mas porque grande parte de seus eleitores optaram por Bolsonaro desde o início. Seu grande obstáculo, assim como apelo eleitoral, é a oposição ferrenha de toda a classe política da extrema-esquerda à extrema-direita. É hoje o maior inimigo da democracia e da soberania brasileira e o apelo do “combate a corrupção” cada vez se torna mais fraco num país que foi devastado economicamente pelo lavajatismo.

A sexta força, e talvez no presente momento a mais fraca delas, é Dória que representa o “paulistanismo” e se aliou provisoriamente ao Centrão fisiológico. Dória pode ficar sozinho com apoio de parte da elite paulista se o Centrão resolver se dissipar entre Mourão, Huck e Ciro. Ele tem que mostrar viabilidade eleitoral e não hesitará em usar todos os recursos que a atuação nas redes faculta para destruir aquele que é a maior ameaça à viabilização de sua candidatura: Huck. É governador de São Paulo e usou as redes com maestria para se eleger duas vezes nos últimos 3 anos, não pode ser desprezado em nenhuma hipótese. No entanto, um cenário de composição entre ele e Huck criaria o candidato favorito para ocupar o polo da direita nas próximas eleições, e isso não é nada improvável.

Enfim, parece que só há uma certeza hoje acerca de 2022:

O PT vai perder no primeiro ou no segundo turno e não conseguirá sair do isolamento, em parte, porque já se acomodou novamente em seu velho papel de oposição inconsequente. Eles querem se isolar, e ninguém quer papo com eles. É a fome com a vontade de comer.