Gregório Duvivier e os tabus religiosos

Gregorio Duvivier e os tabus religiosos
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Nenhum humorista deveria ter seu trabalho artístico perseguido ou mesmo podado porque mexeu com tabus religiosos. É algo obviamente obscurantista. No entanto, convenhamos, isto não é lá algo muito chocante e novo em termos artísticos, a não ser para um público composto por pessoas mais simples, definitivamente não para o grosso do público do Gregório Duvivier, que frequentou a universidade pública brasileira e habita bairros mais ricos.

Essas pessoas para quem o Duvivier fala estão apenas reforçando suas crenças, gozando narcisicamente, talvez até revelando um recalque contra o “povão” bruto e menos instruído. Então, em termos artísticos, eu acho meio blé, manjado. É tipo fazer putaria na USP achando que isto causará algum impacto, como imaginam alguns grupos teatrais universitários.

A classe média-alta brasileira, principalmente sua juventude, não é carola, mas hedonista, como em boa parte dos países ocidentais e das capitais globalizadas, aliás. Quero ver fazer piada que estilize de modo constrangedor agências humanitárias, a ONU, a filantropia. Isto, sim, “quebraria um tabu”. Aliás, talvez por isso esses humoristas de direita cresçam tanto: soam mais subversivos.

Dito isto, em termos políticos — e escrevo isto porque Duvivier intervém politicamente, faz parte do debate de opinião e imagina sua própria arte como política, creio –, estas brincadeiras (não vejo nada mais do que isto) são simplesmente desastrosas, separam os intelectuais da maioria do povo, exatamente o que todo bolsonarismo deseja, interditando qualquer forma de aliança com as bases populares culturalmente conservadoras. É pura pirraça inconsequente, denotando falta de qualquer orientação política com intenções, de fato, populares.