
O lançamento do manifesto das forças “de centro” nesta semana mostra o crescente desconforto que setores do conservadorismo ultraliberal sentem ao serem identificados como representantes da direita no espectro político.
Mais do que razões pretensamente éticas, o que guia essa gente é um cálculo eleitoral frio. O raciocínio parece ser o de que a direita pura e dura – Bolsonaro – já atingiu um patamar consolidado de 20% nas preferências eleitorais e que esse contingente não está mais em disputa.
A tarefa agora passa a ser livrar-se da frente golpista identificada com um governo para lá de impopular. O passo imediato é conquistar paneleiros arrependidos e um eleitorado que vai da fronteira com a extrema direita até franjas dos apoiadores de Ciro e de Lula.
Os signatários do texto desenvolvem uma espécie de “rightwashing“. Em português claro, seria um banho de loja numa direita que um dia se pretendeu limpinha e livre de fracassos monumentais como os governos FHC, cuja lembrança já anda meio enevoada.
Ocorre que o “Manifesto por um polo reformista e democrático”, com acenos à direita e à esquerda, é apenas um arrazoado de lugares-comuns colhidos no bosque das boas intenções. Tendo como objetivo afunilar a penca de presidenciáveis do mercadismo galopante, o texto não logra encontrar o enunciado do título: um polo, ou um nome de consenso com viabilidade eleitoral.
Quem seria o candidato? Alckmin esfalfa-se em luta interna entre o tucanato, Cristóvão sequer ousa voos mais altos, Aloísio Nunes é a encarnação do temerismo e FHC – o velho sábio da aldeia – sabe que seu tempo passou. Pode ser que esses motivos tenham transformado o ato de lançamento em fiasco espetacular.
Destinado – pelo que se depreende da linguagem altissonante – a ser uma marca profunda na conjuntura – quiçá na História – o pretensioso documento corre o risco de ficar como mais um panfleto de campanha a ser esquecido na semana seguinte.
Por Gilberto Maringoni