Sobre a entrevista do Flávio Dino falando que é da “esquerda lulista”, algumas observações precisam ser feitas. Ele está jogando certo. Apesar de não ser favorável pros trabalhistas, isso empurra o PT a abrir suas estruturas. Principalmente a CUT, MST, CMP e demais movimentos.
Aquilo que denominarei aqui de campo “trabalhista” (que seria representado pela aliança PDT, PSB, PV, Rede) tem que focar em construir as suas estruturas, não disputar as de lá. Todos os partidos que saíram da base de apoio do PT racharam e tiraram dali a sua estrutura. PC do B com a CTB, PSTU com a Conlutas, PSOL com a Intersindical. São todos rachas da CUT.
Sendo assim, não faz sentido pra esses partidos, que tem identificação com a base que se criou a partir da CUT, UNE, MST e demais movimentos sociais se deslocar demais do lulopetismo. Isto os faria sangrar ainda mais.
Foi o caso da ANEL, por exemplo, que surgiu como uma alternativa à UNE. Construída pelos partidos e movimentos à esquerda do PT, em termos táticos foi um desperdício de tempo e energia porque não conseguiu se consolidar. O PSTU, que criou a Anel, hoje está de volta na UNE.
Com o campo trabalhista a história é outra. Nós temos outra base, outra história. Historicamente nos organizamos em outras frentes e movimentos, ainda que tenhamos inserção sim dentro do campo popular como um todo. Sendo assim, para nós faz sentido esse deslocamento.
Não disputamos a hegemonia dos movimentos mais à esquerda. Não temos e nunca tivemos essa pretensão. O nosso projeto, tal qual o projeto de Getúlio, é na base policlassista, compreendendo representações tanto populares como da classe média e de setores da burguesia (o que, diga-se de passagem, foi a estratégia de vários Partidos Comunistas ao redor do mundo, tal como a China, por exemplo e do próprio Comintern durante muitos anos).
A diferença, portanto, é no fundamento. Diferentemente da esquerda tradicional, não incitamos a luta de classes no seio da sociedade com um objetivo revolucionário de transformação violenta. Acreditamos no diálogo entre as classes para a formação de uma identidade nacional.
Nas palavras de Ciro Gomes, “unindo quem trabalha a quem produz”. Essa diferença é vital não só para marcarmos a diferença nas nossas posições como também para a disputa. Admitimos sim a classe média, assim como o pequeno, o médio e por que não o grande empresário desde que exista no interior dessas classes a concepção de unidade em torno de um projeto nacional de desenvolvimento. Dino, portanto, não disputa o nosso campo. Mas é um grande aliado tático para a consolidação do projeto nacional.
Outro fator importante é a conjuntura interna do Maranhão, estado que Dino governa. É mais do que sabido que o PT e Lula sempre estiveram ao lado da família Sarney, que além de ser presidente do Senado durante os governos petistas, também teve representantes em ministérios chave como Edson Lobão, no Ministério de Minas & Energia, que tem em seu guarda-chuva a regulação de empresas do porte de Vale, Eletrobrás, Furnas, Petrobras e outras gigantes. Não seria muito difícil, portanto, concluir que uma aliança com o lulopetismo garantiria ao grupo de Dino a predominância no Maranhão contra seu grande adversário que dominou o estado por mais de quatro décadas.
Desse modo, é importante que nós, do campo trabalhista, entendamos o que está em jogo não só para nós, mas para também para queles possíveis aliados que disputamos.
Por isso, tenham mais calma. Como diria um filósofo moderno, “não joguem a água do banho fora com o bebê dentro”.