A falsa ideia de que existe um ‘Partido Militar’

partido militar fardado
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A ideia de um “partido militar” que controla o país nos bastidores me parece ser um tremendo exagero. Apesar das declarações do Villas-Bôas de que ele é o bam bam bam, não é o que se verifica na prática, em que o Olavo de Carvalho e o Carluxo, para não falar de Paulo Guedes, os esculhambam em público e fica por isso mesmo. Até o Alexandre de Moraes tem poder para jogar quente com quem o esculhamba mas os militares não.

Porém, essa narrativa é conveniente aos mais diversos setores e acalentada por eles:

1) pelos próprios militares, que, assim, escondem a absoluta insignificância política em que mergulharam desde a redemocratização e justificam, perante a sociedade e eles próprios, a manutenção da sua existência e dos privilégios de que desfrutam;

2) pela grande mídia, que passa a ter pretexto para não se opor à totalidade do governo Bolsonaro, alegando haver uma “ala racional” da qual os militares fariam parte;

3) pelos liberais, que justificam o fracasso do liberalismo por um suposto “nacional-estatismo” do partido militar, pressionando assim pela destruição das Forças Armadas, que é o objetivo dos liberais. Afinal, sem Forças Armadas não há nem como começar a falar em nação;

4) pela esquerda, em particular o PT, que passa a ter uma desculpa para justificar as péssimas indicações para o STF – os ministros votaram pela prisão do Lula não porque fizessem parte, pelo menos naquele momento, do golpe lavajatista, mas porque foram “pressionados” pelo Villas-Bôas. Como se Fux, Barroso, Alexandre de Moraes, Carmen Lúcia, Fachin e Rosa Weber precisassem ser intimidados para fazerem algo do tipo.

Alguém pode perguntar: então por que há tantos militares no governo? Simples: os altos generais viram todo mundo dos altos círculos de Brasília metendo a mão na cumbuca do desmanche do país e decidiram entrar nessa também, tardiamente diga-se de passagem porque o desmanche do país vem desde 1990 pelo menos e eles só entraram em campo a partir de 2018. Alguns, como o Braga Netto, até tentaram fazer algo um pouco melhor mas foram logo calados na frente de todo mundo e meteram o rabo entre as pernas. No geral, eles estão no governo Bolsonaro da mesma forma que havia um monte de sindicalistas nos governos PT, porque fazem parte da base do governo eleito. Simples assim.

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  1. Pelo menos uma coisa me parece certa: se o golpe de estado que se prepara for aplicado pelas milícias bolsonaristas, os membros do PDT ficarão todos perplexos com a falta de respeito dos militares pelo Estado Democrático de Direito. É da natureza do reformismo ficar sem chão toda vez que a essência do Estado se manifesta como instrumento de dominação de classe. Ciro Gomes, entretanto, parece que não estaria entre os correligionários surpresos, ao advertir os golpistas de que levariam o troco no mesmo dia desse suposto golpe. Aliás, quem ficou positivamente surpreso com a resposta de Ciro Gomes foi eu, ao ouvi-lo dizer aquilo que eu também diria, pois, na minha opinião, a sociedade brasileira precisa ser mobilizada não para resistir a um golpe de estado semelhante ao de 1964, ocorrido , então, num país rural com cerca de 80 milhões de habitantes, boa parte com menos de 20 anos, mas para impedir a eclosão de uma guerra civil num pais com 220 milhões de habitantes, francamente urbano, com perfil demográfico praticamente maduro, que jamais deixaria de responder a esse golpe, tal como sugeriu Ciro, e que conheceria ações militares semelhantes às que ocorrem na Síria, com a diferença de que seriam dezenas de “Sírias” espalhadas pela faixa litorânea do Brasil, somadas às lutas no interior, travadas principalmente na Amazônia. Para que esse quadro macabro não se materialize, é preciso muito mais do que análises dos militares vertidas nas mesas de bar. O exército, de fato, não abriga um partido politico, com um projeto de poder particular, pois o que o define é o seu caráter de classe, a sua disposição ideológica de representar e defender os interesses da plutocracia, a sua identificação total com as elites dominantes, levando-o sempre a fazer uso de sua força intimidatória para fazer ameaças, e, em última análise, usando efetivamente as suas armas, em defesa dos interesses das elites. Esse fato é confirmado pela História do comportamento político do exército brasileiro (e de dezenas de outras instituições militares espalhadas pela periferia do mundo capitalista) desde o início da República. A inserção do Brasil no sistema neocolonial hegemonizado pelo imperialismo ianque tem nas instituições militares brasileiras o seu principal fundamento. As FAAs brasileiras jamais se colocarão ao lado de um projeto nacional, popular e democrático de desenvolvimento, todo programa, seja ele reformista ou revolucionário, inspirado no marxismo ou em Keynes, não importa, será pregação ao vento, incapaz de conhecer o dia de sua implementação, se não tiver em conta a resistência inevitável que os militares oferecerão à sua implementação.

  2. Desculpe-me, mas o articulista contraria os fatos e a História brasileira. Os militares são uma força política atuante desde a proclamação da República. Acreditar que estão neste governo a reboque ou só por acaso é de uma ingenuidade perigosa.
    Devolvo a tese do articulista: a negação em reconhecer os militares como força política organizada é conveniente para os segmentos progressistas que nunca se debruçaram de verdade sobre o “problema militar” e sempre tergiversaram sobre o tema. Deu no que deu. Em 1930, em 1945, em 1955, em 1961, em 1964, em 2016, em 2018…
    O partido político que não traz em seu programa uma política que apresenta soluções claras para o “problema militar” simplesmente não merece ser levado a sério.

  3. Li hoje um artigo onde um bolsonarista se dizia “paranoico” por sua opção política; fui no dicio e verifiquei a definição de tal termo, que se diz acometido de paranoia, aurelio 1999, pag. 1498, e na mesma pagina define o verbete “paranoia”, sugiro ao autor, apesar da titulação, consultar o dicionario, pois ele esta paranóico, ao publicar tanta insanidade!

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