O duelo estético: Magritte, Lula e a “BolsoStore”

O duelo estetico Magritte Lula e a BolsoStore
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O artista belga René Magritte foi o mais bem sucedido em demonstrar a separação entre a representação artistica e seu objeto. Em sua obra mais famosa “A traição das imagens”, Magritte revolucionou a arte moderna, desenhando um cachimbo com os dizeres “isso não um cachimbo”. Parece obvio que uma pintura de cachimbo não seja um cachimbo em si, mas na prática, a maioria das pessoas são incapazes de compreender a diferença do abstrato e o concreto. A obra foi um tapa no racionalismo, que ainda cambaleante do fenômeno freudiano, tentara emplacar tudo que não fosse a expressão do “belo e moral” como “arte degenerada”.

Passando do racional para o irracional, a familia Bolsonaro teve um final de semana agitado nas redes sociais. Enquanto Carlos, o Carluxo, seguia culpando a lei Rouanet pela tragédia no Litoral Norte, seu irmão, Eduardo, começou a divulgar seu novo empreendimento: a Bolsonaro Store. Como primeiro produto, Eduardo escolheu um item não muito usual, um calendário -nos moldes daqueles que podemos encontrar em qualquer borracharia. Só que ao invés da “Feiticeira”, o consumidor terá fotos exclusivas de Jair Messias em momentos históricos. O calendário custa a bagatela de R$59,90. Aos que preferem ver a data no celular, Eduardo e staff possuem outras opções para curtir o melhor do bolsonarismo, como por exemplo a tábua de churrasco (R$109,90) – ideal para comer a picanha lulista; ou ainda a caneca de chopp (R$69,90) para a cervejinha sagrada. O bolsolulismo é uma realidade na Bolsonaro Store.

Na sessão “Sobre nós” do site, o texto começa dizendo “A Bolsonaro Store surgiu para manter vivo na memória boa parte dos feitos do Presidente Bolsonaro.”. Por alguns minutos pode-se crer que a loja vende caixões, ivermectina ou imãs de geladeira com Ianomamis desnutridos, mas o legado defendido é apenas estético. Por enquanto.

Freud, que explicava Magritte, explica Eduardo, o Édipo às avessas. Jair Messias, sua Jocasta, também teve um final de semana agitado. Ao lado de Rick (do Renner) e Pedro “Maluco” (ex-presidente da Caixa, afastado pela verdade em seu apelido), curtiam um churrasco em Miami, a nova meca do bolsonarismo. Rick, cantor, cometia uma música de nome “Filha”, que emocionou o capitão, com visíveis lágrimas nos olhos. Ao que parece, a fraquejada doeu-lhe as vísceras.

Do outro lado do duelo estético brasileiro, Lula divulgou hoje sua nova foto oficial, tirada por Ricardo Stuckert – que cada dia parece ter gostado mais da fama conquistada na posse. Se antes era um reconhecido fotógrafo no meio do jornalismo político, hoje Stuckinha (como é chamado) virou até fantasia de carnaval. Neste mandato, efetivamente está empoderado e atuará no núcleo que cuida da imagem do presidente, ao lado de Janja e Sidônio Palmeira, marketeiro. Além da imagem oficial, o fotógrafo participou da direção que culminou com Lula cuidadosamente sendo vacinado pelo vice, Geraldo Alckmin, numa cena altamente profissionalizada. O jacobinismo-reaça estético de Bolsonaro tem suas limitações técnicas. Agora, a propaganda foi entregue aos profissionais – ou quase isso.

Os próximos anos desta terra serão de repetição do fenômeno americano. Duas correntes de símbolos, narrativas e contraposições vãs. No que interessa, as coisas continuarão a ser o que sempre foram – pelo menos nos últimos 30 anos. O país troca de gerente, não de dono. Os proprietários seguem ganhando a maior taxa de juros (reais) do planeta, enquanto a miséria dá o tom dessa marcha fúnebre.

No Brasil de Lula e Bolsonaro, Magritte explica (mais que Freud). Um e outro não são o que representam. Afinal, assim como o cachimbo do pintor belga, ambos não fazem fumaça.