O tempo passou na janela e só Carolina não viu

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Ontem assisti a entrevista do Lula com o Glenn Greenwald. Pela primeira vez eu escutei o Lula falando, falando, e por trás daquela retórica impressionante que o velho tem fiquei sem sombra de dúvida de que boa parte das análises, das projeções e do próprio projeto dele para o país estão inequivocamente errados. O Lula fala pra um país de 15, 10 anos atrás.

É como se pra ele não existisse fracasso do governo Dilma, surgimento de MBL, Vem Pra Rua, crise de 2008 e colapso do neoliberalismo progressista que ele ajudou a implementar, impeachment, Partido da Lava Jato, queda dos governos progressistas em toda a América Latina. Como se não houvesse Brexit, Le Pen, Trump, Bolsonaro, Matteo Salvini. Também como se não existisse Sanders, Corbyn, Podemos, Melenchon, Ciro Gomes. Vendo ele falar parece que ele esqueceu até mesmo que está preso, e que nunca mais vai ser candidato a presidente, porque a extrema direita assumiu o poder e a direita mais moderada não topa mais o pacto que ele conseguiu em 2002, quase 20 anos atrás.

A diferença entre Cristina e Lula não é que a Cristina topou virar vice de um candidato que não polarizasse tanto. A Cristina no vídeo em que ela anunciou que seria vice do Alberto Fernández fala “tenho muito orgulho do que fizemos em 2003 a 2014, mas a Argentina precisa agora de outra coisa, um projeto mais amplo”. O Lula da prisão fala sem parar das suas conquistas de 20, 10 anos atrás, como se pra conquistar o Brasil de 2022 pudesse se repetir um discurso de 2002. Nunca tinha me ocorrido escutar o Lula, que ainda é o maior líder da esquerda brasileira, e pensar que ele está completamente fora da realidade.

Na cabeça só consegui lembrar daquela doce e triste música do Chico:

“Lá fora, amor
Uma rosa morreu
Uma festa acabou
Nosso barco partiu
Eu bem que mostrei a ela
O tempo passou na janela
Só Carolina não viu”

Por Leandro Fontes