A contra-elite bolsonarista e seu destino

A contra-elite bolsonarista e seu destino
Sergio LIMA / AFP)
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Os Bolsonaro se apresentaram como a vitória do outsider sujo e feio na política, onde, segundo eles, teria até então dominado um establishment que não refletiria o “autêntico povo brasileiro”, que seria tão conservador, deseducado, atrevido e violento quanto eles.

Todas suas ações desde o primeiro dia no poder confirmam que sua maior preocupação foi sempre a de constituir uma espécie de “contra-elite” exclusivamente sua, que pudesse dali por diante ser o seu “partido”, o seu “pessoal”.

Para se enraizaram do nada de onde vieram, os Bolsonaro replicaram o método para os demais subsistemas sociais. Abriram as portas e cofres a todos os empresários “feios e sujos” dispostos a fazer o mesmo. Daí essas aberrações: Havan, Madero, Ogronegócio, Prevent, etc

A pandemia foi encarada toda apenas por essa ótica: oportunidade de negócios para enriquecer os amigos e aliados da família Bolsonaro – o tal empresariado “feio e sujo”, arrivista. Todos esses personagens obscuros que desfilam pela CPI da Pandemia receberiam milhões de reais do Tesouro para nos encher de cloroquina ou vacinas indianas.

Os tentáculos do arrivismo reacionário bolsonarista se estenderam para cooptar militares, advogados públicos, artistas tipo B ou C e docentes “pela liberdade”. A eles se entregou a direção do Estado na saúde, educação, cultura, ciência, irmanados na mesma escola da inépcia, da mediocridade e do revanchismo.

A moeda de troca desses segmentos foi a da fidelidade total ao populismo reacionário e subversivo dos Bolsonaro. Corrupção, aparelhamento, afronta às autoridades, falta de transparência, ignorância da lei, má fé no trato administrativo, truculência – tudo era permitido no novo Reich tuiteiro que duraria mil anos.

Esse reinado de sujeira teria sido impossível sem a crença messiânica típica dos reacionários de que o novo reinado poria abaixo às instituições sem resistência. Daí a certeza da impunidade dos crimes dos “feios, sujos e ressentidos” que teriam logrado restaurar a era de ouro do Brasil – o regime militar ou o século 17, das missões e bandeirantes.

Parece no fim que os tais reacionários foram tão ingênuos na crença de sua “revolução” como a primeira geração de socialistas do século 19. Não só os reacionários não são o “autêntico” povo (que não existe), nem sua “revolução” seria permanente. Não passaram sequer pelo teste de serem governo, incapazes de se adaptarem à rotina institucional. O resultado desastroso ser aí, percebido pela população.

O ciclo das aventuras e das tropelias iniciado em 2013 acabou. A inadaptidão à normalidade decidirá da sorte dos “sujos e feios” eleitos e cooptados desde 2018. Haverá uma forte depuração no ano que vem, que já começou nas eleições do ano passado. Os adaptáveis ficarão. A grande maioria, porém, descerá de volta à obscuridade, e se verá às voltas com a justiça.

Por Christian Edward Cyril Lynch