A treta gaúcha: Elis Regina e Brizola versus General Villas Bôas

A treta gaúcha Elis Regina e Brizola versus General Villas Bôas
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Qualquer nacionalismo próspero no Brasil começa com as noções de democracia e liberdade forjadas por Elis Regina.

Isso mesmo. A artista do Brasil, nosso ícone, mais reconhecida por sua voz, porém esquecida no seu aspecto organizacional. Elis foi uma pioneira ao organizar os artistas em plena ditadura militar.

Sofreu por confrontar a ditadura. Consequentemente, sofreu por também ter cedido à ditadura. Henfil fez uma caricatura injusta e desonrosa de Elis, no momento em que cedeu ao terror dos milicos, o “futuro passado” hoje possível para os bolsonaristas.  Afinal, era a vida dos filhos que estava em jogo, como explicou subliminarmente em sua última entrevista para a TV Cultura. Nessa entrevista disse que “a qualquer momento o bigodinho aparecia de novo entre nós”. Profecia? Não. Ligação com o real. Qualquer relação com o que ela disse naquela entrevista, duas semanas antes de sua morte em janeiro de 1982 e hoje não é mera coincidência.

Elis viveu a dura face do sucesso sem ter optado pelo exílio. Ficou aqui, aguentou o tranco, sendo mulher mãe, geniosa da melhor espécie, organizadora político-cultural, a expressão maior da pimenta necessária na cultura do Brasil.

Elis é a voz cantada da tragédia e da esperança em ser Tupiniquim. O fato de cantar os dilemas do país coloca a gaúcha ao lado de seu conterrâneo, Leonel Brizola, a pimenta necessária na direção política do Brasil. Aliás, Leonel Brizola dizia que o trabalhismo é uma social-democracia com pitadas revolucionárias. Escutar Elis Regina nos dá a exata dimensão de qual pimenta deveríamos perseguir.

Elis é o confronto ao machão negligente, seja ele o produtor de seus discos ou pai de seu filho. Elis é o confronto ao gorilão boçal que quer dizer para o resto do país o que é ou não é desenvolvimento. O que deve ou não deve ser a nossa concepção do Brasileyro.

Elis deve revirar do túmulo ao ver seu outro conterrâneo, o nostálgico General Villas-Boas,  esvaziador da alma pulsante do Brasileyro. Villas-Bôas em quasi mortem quer assassinar de vez a alma dinâmica do povo desta terra ao querer delimitar o que deve ou não ser discutido.

O coitado general, circundado de homens sem alma de Brasilydade, todos Brazilians,  haja visto que o próprio vice-presidente prefere citar um presidente americano que qualquer um outro que tentou dirigir essa terra.

O General que tinha até uma certa admiração antes de virar um tuitero golpista parece estar já no mundo da lua, querendo oferecer um Projeto Nacional que é só uma “bolacha de disco com o buraco no meio”, como diria Elis. Ou seja, sem vida, sem gente, sem contradição, sem, portanto, miscigenação,. Não entendeu que a miscigenação não é um produto de pacificação, mas a justa medida da construção de uma tolerância confrontadora, violenta, bruta, porém diversa e, devido a tamanha barbaridade, a edificação do Brasileyro de hoje.

O coitado do general, ao proferir um projeto nacional ôco, deveria antes disso escutar a alma do Brasileyro. Por isso, é míster que escute Elis Regina, antes de soltar abobrinhas pasteurizantes e alienadoras sobre seu próprio povo.

O General precisa ser mais Marechal Rondon e menos Mourão. Precisa ser mais Darcy Ribeiro e menos Olavo de Carvalho, a alma penada da Virgínia. Para isso, precisa aprender a feminina voz da Brasilydade que (en)cantou o Brasil.

Elis ofereceu de bom grado sua voz ao cantar Trem Azul, expressão-mór do sentido de amizade entre os mineiros.

Eis cantou o conflito de gerações e regiões em Como nossos Pais, do cearense Belchior.

Elis cantou o Cosmopolitismo Brasileyro de Cinema Olympia, o Renascimento Tupiniquim mais conhecido como Tropicália, mesmo sendo a própria intelectual do som que aqui nos referimos ter sido de início contrária à guitarra elétrica no Brasil. O General podia pegar esse exemplo para pensar como pode mudar de opinião a respeito das coisas em seu país.

Elis cantou o sertanejo com Romaria.

Se Villas Bôas quiser entender a alma do Brasileyro, que comece escutando o que sua conterrânea Elis Regina tem dizer a respeito em suas músicas. Deveria também dar uma revisitada em seu outro conterrâneo, Leonel Brizola, antes de dizer vulgaridades e proferir odes à unidade oca, que nada mais é senão uma metamorfose colonial em Brazilian.

A treta gaúcha Elis Regina e Brizola versus General Villas Bôas