Tucanos, entre beijos e abraços pandêmicos

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Por Vina Guerrero – Hoje, ao sair de casa para votar o segundo turno da capital paulista, vi por todos os lados adesivos da campanha de Boulos e Erundina, que lhe emprestava credibilidade ao pleito. Moro na Vila Mariana, reduto de tucanos e atualmente de bolsonaristas. Senti uma resma de esperança da vitória psolista na região, mas em momento algum ignorei o voto das periferias e suas vozes.

As periferias dariam, e deram, votos a Bruno Covas, por obra do apoio de Marta Suplicy que, ao contrário do que alguns afirmavam em grupelhos de zapzap, não acabou tragicamente sua vida política, emprestando a Covas o mesmo crédito que Erundina creditou a Guilherme. A periferia seguiria também os votos da base de apoio de vereadores eleitos em primeiro turno, com destaque para Milton Leite, Isaac Félix, Jorge Jesus, entre tantos outros. O cientista político padrão apostava na pendulação do voto, o que não ocorreu. As urnas deram dois votos para Covas para cada um dos votos em Boulos. A vitória seria ainda maior caso a abstenção não fosse recorde hoje (30,8%). A maior parte das pessoas que deixou de votar, principalmente idosos, preferencialmente escolheriam Bruno Covas.

As últimas informações dão conta que a recepção de correligionários tucanos a Bruno Covas e João Dória foi recheada de beijos e abraços, quase todos com máscaras abaixadas nos queixos, totalmente contrária às orientações de epidemiologistas, inclusive os dos governos tucanos.

Esse, definitivamente, é o primeiro ato de um governo reeleito que pouco caso fez da pandemia. É algo simbólico e demonstra o total descaso com a saúde pública de todos os nossos municipais e, duvido que seria tão diferente caso Boulos (ou qualquer outro candidato) tivesse saído vencedor das urnas.

Não vi qualquer candidato de São Paulo questionar Bruno Covas sobre a quantidade de contagiados e de mortos na cidade. A cidade chegou a ter pouco mais de 10% dos mortos do país e não tem os mesmos 10% dos habitantes do Brasil. O mesmo se dá para o estado de São Paulo, com mais de 25% dos casos e que também não contém 25% do número de irmãos nacionais. Esses números não deixam Covas nem Dória muito atrás de Bolsonaro em negligência pública e lesa pátria.

Sinceramente, as urnas deram algumas respostas para nós. Nas periferias, mas também no centro, campeiam eventos, festas, encontros, aglomerações e para alguns a pandemia simplesmente deixou de existir. Por que votariam em outro candidato e não em Covas/Dória que fez tão pouco caso da pandemia? A população da capital, carente de conhecimentos científicos críveis e de escolaridade mínima, preferiu seguir à risca das máximas tucanas, das falas pausadas, do contato visual passivo agressivo de Covas, de seu uso de trampolim político para o Palácio dos Bandeirantes ou para Brasília. Fez votar nos candidatos do uso de homens placa e de outras inconformidades das regras eleitorais estabelecidas pelo TSE. Talvez até esses populares tenham comemorado de mãos dadas a vitória de seu escolhido, como tivessem escolhido o time certo para torcer.

A política tem dessas coisas de pisar no barro da inconsistência dos que se apresentam de maneira leviana. Enquanto os garotos apresentam suas insígnias partidárias irrelevantes, não raro carteiram em cima de companheiros disputando internamente o que não tem para mostrar externamente, enquanto insistem em discutir o sexo dos anjos no zap zap e não fazer o necessário trabalho de base e, o sistema recebe mais quatro anos para agir ao custo de muito dinheiro, posições (agora sim) relevantes e forte pragmatismo eleitoral.

Ficamos a ver navios por hoje, eles não e ainda trocaram beijos, abraços e aglomeraram no calor humano da pandemia o demonstrativo do que será seu governo de sangue azul e bico amarelo. Sem mais por hoje.

Por Vina Guerrero

  1. A redação desse site esquerdista, fala como se toda a população da capital, fosse carente de conhecimentos científicos críveis e de escolaridade mínima por que deixou de votar no radical e extremista líder do MTST Guilherme Boulos, vocês esquerdistas comunistas não aprendem mesmo, santa ignorância.

  2. Não quero ser desrespeitoso com o articulista, mas me parece que o mesmo tem a arrogância e o aburguesamento de classe média típico do esquerdismo brasileiro.

    “A população da capital, carente de conhecimentos científicos críveis e de escolaridade mínima, preferiu seguir à risca das máximas tucanas, das falas pausadas, do contato visual passivo agressivo de Covas, de seu uso de trampolim político para o Palácio dos Bandeirantes ou para Brasília. Fez votar nos candidatos do uso de homens placa e de outras inconformidades das regras eleitorais estabelecidas pelo TSE. Talvez até esses populares tenham comemorado de mãos dadas a vitória de seu escolhido, como tivessem escolhido o time certo para torcer.”

    Pegando esse trecho que ponho em destaque, eu faço a pergunta: a culpa agora é do povo que não votou nos candidatos do espectro político do articulista? É como se fosse um boxeador que se sente injustiçado de em ter a guarda baixa, agora culpa o adversário de ter lhe golpeado e lhe levado a nocaute.

    Acredito eu que vale muito mais na humildade da compreensão das escolhas do povo brasileiro, de compreender suas decisões e saber que, de uma forma ou de outra, sempre há sabedoria nas suas escolhas, e se não tiver sabedoria nenhuma naquele aparente momento de estupidez, saberá aprender a dar a resposta. Essas eleições, tudo isso ficou bem claro.

    Apesar da sua avalanche de mentiras, desinformações e culto a personalidade, sempre instigando as facetas mais primitivas da condição humana e do povo brasileiro, agora ficou claro que as massas não aguentam serem o tempo inteiro movidas pelo fígado, pois estão vendo que o bolsonarismo sempre apelará para o espetáculo chulo para despistar e enganar a sua incompetência e seu espírito aventureiro. Ficou claro que o povo brasileiro não dará aval a uma esquerda desmoralizada, burra e ignorante, que continua a insistir num culto a personalidade de um personalista desmoralizado que por onde passou dando seus depoimentos de apoio político, tornou -se um Midas invertido. Está claro cada vez mais que nosso povo busca estabilidade e conformidade diante do espetáculo de pornochanchada que a política brasileira se tornou e o fará não é porq carece de maiores pontos de QI, mas o fará porquê a fome, o desencanto, o desemprego, a falta de perspectiva e futuro estão batendo à porta e viram o cinismo com o qual suas vidas foram tratadas diante de um claro psicopata que sabendo mascarar suas mentiras pela rede de desinformação que alimentou na quadrilha que são seus filhos, ele próprio e seus cupinchas mais devotos, representa o que há de mais podre e repugnante do que já é praticado na vida pública brasileira, mas num grau ainda maior do que desde sempre já foi feito pelo PP, PMDB, DEM ou PSDB da vida, mas com uma lógica de crime, de baixeza e uma lógica de delinquência juvenil o qual as oligarquias e a classe política tradicional sempre manteve as aparências e toda a construção de imagens personalistas e do pragmatismo da entrega de resultados mínimos perante suas comunidades que lhes garante a perpetuação de seus ciclos políticos e a renovação dos mesmos através de sua parentela.

    Ficou claro mais do que nunca da punição que essas eleições se tornaram não só ao descaso causado pela acefalia do Executivo diante do COVID, como também o próprio cinismo e indiferença pela vida de pessoas que genuinamente acreditaram que um escroque e sua gangue fariam a diferença na transformação da vida brasileira. Essa ilusão pode não ser nutrida pra quem é acadêmico, de classe média, bem cuidado, de ambientes familiares bem estruturados e de estímulo a vida intelectual e suas potencialidades mais íntimas enquanto ser humano.

    Ao povão, mas ao povão mesmo, seja ele do Coque, do Calabetão, Bairro da Paz, Capão Redondo ou Irajá, aí meu amigo, a história muda completamente. Uma certa esquerdinha ainda não consegue entender a relevância da questão nacional, da linguagem universal e da mentalidade de nosso povo: a aversão ao radicalismo, apesar de ser afeito a ideia da epítome da honra militar (hoje deformada graças a ditadura), da ideia de compreensão da resolução prática problemas, sem tanta tergiversação, idiossincrasias recauchutadas de meios e ambientes acadêmicos de baixo nível que nada tem a ver com nosso tecido social, dando a ideia de uma terapia de grupo de intelectuais de classe média que não raro, se coloca numa situação do mais completo grotesco e exposição ao ridículo.

    Fica claro mais uma vez a incapacidade da esquerda da compreensão do próprio povo e do próprio país e da própria falta de meios para fazer uma candidatura viável para 2022, esta que será uma aventura claramente quixotesca, pois não há tampouco um discurso teórico no debate público que leve o Trabalhismo (que ainda é difuso vago e se confunde somente na figura de Ciro Gomes, que não é nem de longe alguém que militou nessa bandeira e seus referenciais teóricos, ainda seguem obscuros e desconhecidos na própria esquerda) e a ideologia nacional ao debate: a intelectualidade brasileira ainda vive da vida acadêmica como uma trincheira contra a ditadura, numa campanha de destruição do espírito cívico que nossa história pode e deve ser, dos grandes momentos dos grandes personagens da nossa história, e não raro, a esquerda brasileira é antipatriótica e não compreende o mínimo das imagens e da simbologia de nosso povo e sem ter nada a ele dizer, voltada para a interpretação e compreensão de referenciais do Hemisfério Norte desmoralizados ou de qualidade duvidosa, repudiando pouca ou nenhuma ideia de aprofundamento nos saberes de seus próprios compatriotas. A direita incorre nas suas patriotadas, apesar de vazias, apesar de jurar amor ao Brasil prestando continência a outra nação, apesar de alegar amor ao Brasil, com súplicas de invasão militar de potências estrangeiras, mas não renega ao apelo aos valores mais profundos de uma nação, a bandeira e suas cores, pois sabe que por mais grotesco que seja o discurso, sabe que haverá uma leva de mentecaptos intelectualmente colonizados e que ainda vivem sua forma de pensar como se fossem os tempos da Copa de 1970 e nisso, a direita sempre apelará ao discurso de conformidade, de estabilidade, que naturalmente, não é de natureza da esquerda, que é em geral, revolucionária, contestatória e enfrentamento de uma ordem vigente.

    Ao articulista, também faço a pergunta: acha mesmo que o discurso tem a oferecer é realmente vencedor? Em geral, a esquerda só fala ou para si própria ou vale – se da veneração ao seu líder mais recente desmoralizado. Em geral, o que existe é que a esquerda é irrelevante e pouco compreende a heterogeneidade do país. As cidades médias e de interior possuem esquerdas que copiam os discursos de megalópole, de um sentido clássico de classe operária que não existe mais, em jargões pernósticos e confusos até para intelectuais, que dirá a grande massa. Em certos casos, o sertão da Borborema, do Seridó ou a Chapada Diamantina são tratados como se fossem o ABC paulista na greve de São Bernardo de 1979.

    O cinema, o teatro, a música e a literatura no Brasil ou estão numa posição marginal, atrelada as bandeiras importadas do identitarismo ou estão atreladas ao esquerdismo liberal do qual o PT cuidou para ser a única maneira de se interpretar o Brasil e tudo aquilo que está ligado as tradições do trabalhismo e mesmo de um ideário nacionalista foi estigmatizado, taxado de arcaico e posto de lado. Moniz Bandeira foi praticamente posto pra fora do clube do Bolinha da USP; as ideias de Anísio Teixeira foram colocadas ao esquecimento; Glauber Rocha foi combatido duramente pela própria classe artística que pelo carreirismo de ocasião e da destruição do cinema brasileiro e de seu posterior monopólio, inclusive de linguagem, feito pela Globo. Brizola então, dispensa comentários, e nem menciono Darcy Ribeiro, que desde então todo o seu legado é tratado como se nada fosse e simplesmente colocado de lado por um identitarismo negro raivoso e colonizado, que é a própria negação de seus próceres no passado e uma ecologia difusa que não trata o indígena senão de uma forma idílica, cheia de humanismos mas burra e sem nada a oferecer fora de seus chavões vazios. Mais ignorado que o negro ou nordestino, é o indígena e a região norte.

    Ainda existirão teimosos que não querem enxergar, mas a política identitária e o seu proselitismo tem duração e repercussão limitadíssima: só se faz maioria com discurso identitário nas grandes cidades, em um voto de legislativo, que se caracteriza por ser nichado, segmentado e aí há a chance de se provocar um voto de opinião, jovem demais para ser subornado e essa representatividade identitária tem de se deparar com questões de segurança pública, responsabilidade fiscal, funcionalismo público, greves, lei orçamentária anual: tudo o que gente adulta tem de enfrentar. Nosso sistema político é de presidencialismo, é o Executivo que, apesar de estar em segundo lugar pelas palavras do Constituinte, é quem dá as regras e o voto de Executivo é obrigatoriamente forçado a congregar nossa sociedade.

    No meio disso tudo, a quem ama e crê no futuro do Brasil, só haverá um meio apenas de tudo isso ser vencido. Temos de retornar a uma linguagem e um entendimento de alto nível que se iniciou no Império e foi até o golpe de 1964. Temos de retornar a um entendimento nacionalista, crítico e edificador do nosso povo, sobre nosso povo e para nosso povo, de forma que nossa história e nossa narrativa sejam de engrandecimento, exaltação e oferta de valor agregado ao nosso povo. Que nossa nação entenda que a história do Brasil é também de virtudes, grandezas e acertos, também daqueles que são figuras centrais da vida pátria, e não só de figuras marginais e periféricas que são elevadas para serem o símbolo correção das ignomínias do mundo, que na visão de um certo esquerdismo liberal tupiniquim, foram criadas pelo pior povo do pior país do mundo, o Brasil. Por essas e muitas outras razões, o petismo, o hegemonismo intelectual paulista e o lulopetismo tem de ser destruídos.

    Temos de retornar as nossas raízes e a construção de uma agenda político cultural e econômica brasileira, latino americana e lusófona.

    E se quisermos que isso seja realmente viável, ainda teremos de lidar com a desonra que hoje são as Forças Armadas brasileiras e o seu bunker maior, o serviço secreto brasileiro. Mas isso, já é assunto para outro texto.

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