Domex

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A volta da coluna precisava ser a altura, com uma das melhores obras do ano. Domex, escrita e desenhada por Gustavo Piqueira, autor de “Ar-condicionado”, e designer gráfico (o que imprime o visual próprio da HQ), Domex fala de Domex. Simples, não? Mas é isso mesmo.

Domex é um androide no maior estilo anos oitenta, com jaqueta de couro, motona (não aparece na história, mas com certeza ele tem uma), topete e óculos escuros, que surge para quebrar a única coisa que ninguém se importa em ter por inteiro, o climão. Numa conversa cheia de alfinetadas entre um pai e um filho inominados e com uma relação distante e um abismo cultural típico entre as gerações, bate à porta, junto com outras grandes figuras do imaginário comum oitentista, um androide criado pelo pai, homem hoje já calejado pela vida, em suas histórias em quadrinhos feitas na longínqua juventude e agora chamadas de cafonas pelo filho.

A história é desenvolvida por diálogos kafkianos entre pai e filho enquanto esperam uma pizza, e as interrupções turronas e ingênuas do androide para cada novo visitante que surge tocando a campainha. Entre eles; garotas de hentais, um índio, um negro e o general Ernesto Geisel. Essas figuras estereotipadas surgem, dividindo páginas com o traço simples do autor, em forma de colagens de álbuns populares das décadas de setenta e oitenta e nos fazem questionar certos exageros, mas mostrando possibilidades de anacronismos surgirem nesses questionamentos à obras de outras épocas. Uma HQ nacional excelente e com certeza que irá aparecer nas listas de melhores do ano de diversos portais especializados.