Ciro Gomes deve liderar campo progressista

ciro gomes sentado falando em palestra
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As eleições ainda parecem um pouco distantes no momento embora estejamos a menos de cinco meses da realização do pleito no seu primeiro turno. Como é tradicional, as coisas começam a esquentar apenas após a Copa do Mundo. É quando temos praticamente as candidaturas definidas, as alianças se forjam e começam as inserções no rádio e na televisão. Até lá ficamos com esse jogo de bastidor e com as tendências que se apresentam, que têm importância e definem como as candidaturas largarão, porém não são totalmente representativas de como elas vão se delinear. Ainda mais agora quando a direita está fragmentada e perde votos para a candidatura de Bolsonaro, que não tem uma base partidária sólida, representa uma opção exótica por se colocar no campo da extrema-direita num país que após a redemocratização tais opções sempre ocuparam apenas a margem, mas tem um eleitorado que pelo menos nas pesquisas tem se apresentado de maneira bastante fiel, mantendo-o sempre na segunda posição atrás de Lula e mesmo liderando sem a presença do ex-presidente.

Lula também é figura importante nesse quebra-cabeça. A perseguição que sofre pelo Partido da Lava-Jato, que se move como uma força política com base e orientação anti-política colocou o líder nas pesquisas em situação bastante complicada. Preso e sem poder participar desse processo de construção da sua candidatura, com bases e alianças, o ex-presidente viu seus índices na última pesquisa Datafolha caírem sem porém reduzir o seu apoio. Há um aparente entendimento por parte do eleitorado que o Lula acabará sendo impedido de participar do pleito presidencial. Essa crença é também de alguma maneira compartilhada pelo próprio PT, que vê em alguns dos seus principais quadros, como o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad e o ex-governador da Bahia Jaques Wagner, ventilar ou a possibilidade de um apoio ao candidato à presidência pelo PDT Ciro Gomes ou com ele se reunir pra construir uma ponte programática — que pode eventualmente resultar num apoio mais à frente.

O próprio Ciro é um caso interessante a ser analisado nesse imbróglio todo que é a situação política do País nos últimos anos. Ainda que tenha sido sempre um quadro importante na política brasileira desde o processo da redemocratização, em 2014 pouco se falou no nome do ex-governador do Ceará, que saiu com recorde de aprovação, e ex-ministro da Integração Nacional dos bem sucedidos anos do governo Lula. Mas diante do golpe parlamentar então em curso contra a ex-presidente Dilma Rousseff e a escalada reacionária, Ciro Gomes voltou aos holofotes se colocando de maneira bastante assertiva e contundente contra o estado de coisas que se avizinhava. Encampando um discurso contra os golpistas e as medidas aurtericidas praticadas pelo governo Temer, o que aliás não é algo novo em seu histórico político, vide a sua oposição aos governos FHC diante da privataria praticada e da publicação do livro no já longíquo ano de 1996 “O próximo passo — uma alternativa prática ao neoliberalismo”, que é ainda bastante atual e serve como um alerta para os engodos de um discurso aparentemente muito bonito mas que apresentou problemas bastente graves no Brasil e no continente sulamericano quando aplicado de forma acrítica nos anos 90, Ciro tomou a dianteira do campo progressista e construiu-se como alternativa bastante palatável.

Ciro aliás conseguiu algo até improvável em um período de extrema polarização e em um país pouco afeito a debates mais programáticos, que é construir sua candidatura discutindo os problemas estruturais e criando convergência sobre temas tão urgentes quanto complexos. O seu posicionamento no tabuleiro das eleições ainda se viu mais valorizado diante do declínio de Joaquim Barbosa na última semana, que potencialmente poderia tornar ainda mais incerto todo o processo angariando votos tanto da direita quanto da base eleitoral lulista. Sem Lula e Barbosa, o presidenciável do PDT ganhou protagonismo no campo progressista. Na direita os dois nomes que se apresentam com mais força são Jair Bolsonaro e Geraldo Alckmin, que hoje encontra muitas dificuldades pra alavancar-se nas pesquisas e não tem conseguido desidratar Bolsonaro, porém tendo a seu favor o fato de que contará com uma máquina eleitoral muito mais forte, o apoio da grande mídia, de parte da banca além de ter uma posição mais moderada diante das posições extremistas do seu colega de campo ideológico, o que pode lhe ajudar na corrida presidencial. Seja Alckmin ou Bolsonaro do lado da direita, o nome do campo progressista deverá ser mesmo, por mérito próprio, Ciro Gomes.