A ciranda em curto-circuito

A ciranda em curto-circuito
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Uma coisa interessante que a pandemia trouxe é ver esses pós-mods, construtivistas sociais, que pregam a não-superioridade epistêmica da ciência e a relatividade da própria verdade, defendendo a ciência biológica contra o “terraplanismo”, a cloroquina e o negacionismo.

Sendo eles, como sabemos bem, os maiores negacionistas do “mercado epistêmico”, como diria o William Gomes.

Gente que defende que a ciência moderna é “colonialista”, “machista”, “essencialista”.

Mas não houve conversão, é só jogo político mesmo, como tudo, para eles.

Quando os bolsonaristas falam em “ideologia de gênero”, muitas vezes é só a forma ignorante de se referir ao caldeirão de sandices contraditórias, negadoras do papel da biologia e sem nenhum fundamento científico que constitui parte dos “estudos” nessa área, que tem o apelido de “grievance studies” nos EUA.

O silêncio dos cientistas sobre vários desses absurdos empíricos e teóricos, por medo da reação autoritária e violenta desses praticantes nas universidades, deu lugar a voz alta e ignorante do bolsonarismo, que foi a única a enfrentar os exageros e fez deles a caricatura de todo um campo de estudo.

O negacionismo do Bolsonarismo é a contraparte do negacionismo dos construtivistas sociais, cirandeiros, pósmodernos, identitários, como quer que você queira os chamar. Só que como eu alertei há quatro anos atrás, agora, é um negacionismo de maiorias.

Afinal de contas, se tudo é construção social, em sociedade, prevalecerá a construção da maioria, não das minorias.

Isso é matemático, mas matemática, também não é o forte desse pessoal.

A verdadeira polarização entre bolsonarismo e petismo é sobre o culto à personalidade de seus mitos e o tipo de negacionismo que predominará no campo da linguagem.

Já no campo da realidade há acordo entre eles. Neoliberalismo com renda mínima, desindustrialização, bancos bem alimentados.

Bem vindo ao mundo governado pelo “relativismo”.

Como dizia Platão há 2500 anos, a consequência prática do relativismo é que “justiça” passa a ser o interesse do mais forte.

  1. Achei a intenção e a ideia geral boas, o texto achei agressivo demais e faltou cuidado em separar os bons e os maus estudos. Há componente biológico e há componente social, falando de forma tosca: quanto mais complexa a cultura, maior o peso social (que acaba moldando as formas por onde damos vazão ao biológico). Ainda falta muito para sabermos exatamente a medida das coisas, por isso o caos neste campo de estudos. O pós-modernismo, apesar de não ser uno, é mesmo um conjunto de teorias bem problemáticas, piora tudo que toca. Só que também devemos ter postura crítica diante da ciência, até para fazê-la, porque o nosso conhecimento se dá com acúmulos e rupturas para mais acúmulos. Claro, postura crítica com estudos, argumentos e evidências, não postura crítica de relativismo cognitivo e ceticismo niilista.

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