A carne de ouro da Casagrande e o pós-Malufismo

A carne de ouro da Casagrande e o pos-Malufismo
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Tarcisio de Freitas está se posicionando para tornar-se o lider da direita. Após dizer que nunca foi Bolsonarista raiz, o ex-bolsonarista raiz – aconselhado pelo Secretário Geral do País, Gilberto Kassab – botou suas asinhas de fora. Montou um time de sua confiança, chutou a bunda dos bolsonaristas que não lhe eram conveniente e cooptou os poucos que lhe interessavam. É a volta do malufismo tão amado em São Paulo. Engenheiros com fome de poder, sedentos por obras infindáveis e dizendo-se “técnicos”. Estivessemos em tempos normais, a chance de funcionar era grande.

Ocorre que no Brasil de 2022, estamos divididos entre lunáticos e falsos beatos do políticamente correto, que se esbofetam por um espólio fálido. É a agrolandia dos barões da soja e suas duplas sertanejas contra a elite falida pós tropical do Leblon. Não há espaço para o debate público. É o eterno embate público. Kassab sabe disso e planeja lançar seu pupilo apenas em 2030, num pós Brasil ainda mais quebrado e precisando de um Malufão que bote ordem na bagaça. Enquanto isso o PSD se prepara para engalfinhar o que sobrou de MDB, PSDB e demais siglas da direita moderada. Kassab tem fome e o Brasil sempre lhe desce bem.

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No país das polemicas vazias, em meio às orgias farofeiras televisionadas em reality show, goleadas de futebol e um presidente depressivo, um assunto dominou as manchetes do twitter: jogadores da canarinho apareceram em vídeo degustando a iguaria comum aos sheiks: carne temperada com ouro.

Imediatamente os justiceiros das redes sociais correram para atacar o que julgaram ser “uma afronta ao povo que passa fome” e outras baboseiras do tipo. É evidente que temperar um alimento com ouro é indigesto, mas não é uma causa social. O que esperar de duas duzias de ex-meninos pobres, atualmente milionários, sem nenhum senso estético que transceda as experiências básicas da vida? Que esbanjem e caguem, literalmente, dinheiro. Em algum momento era esperado que eles comprassem um Magritte? No máximo uma fundaçãozinha aqui e acolá, pra lavar dinheiro e pagar menos imposto. Inclusive dessa forma nós ganhamos 5 copas do mundo. O maior detrator da “geração da (carne) de ouro” é um ex-jogador também pouco cartesiano.

Walter Casagrande Jr é uma figura complexa. Do boêmio jogador ao comentarista confuso; do vencedor da cruel guerra contra o vício ao implicante colunista do UOL, Casão coleciona desafetos da mesma maneira que coleciona anedotas. Seus comentários desconexos na rede Globo e suas colunas quase maldosas o botaram na mira da inescrupulosa mafia boleira, que utilizou-se de seu vício para combater suas opiniões. Como se nenhum dos jogadores tivessem enchido as narinas de cocaína em noitadas na Barra da Tijuca.

Casagrande travou sua principal batalha quando acusou os campeões do penta de serem burocratas à serviço da FIFA. Verdade seja dita, ele não mentiu. A questão é de expectativa: em qual momento esperavamos algo diferente? Antes disso, o comentarista errou feio ao louvar a contusão de Neymar, nosso principal jogador, criando antipatia de toda a classe boleira. Quando acertou na crítica, só quem estava lá para ouvi-lo eram os que pouco acompanham futebol. Dos vícios, o pior é o da soberba. E ambos os lados estão entupidos desta.

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Bolsonaro está com depressão. Já vinha tomando muito Rivotril desde o começo da pandemia, mas era relutante ao tratamento completo. É o que dizem seus assessores, que esperavam a altivez de um homem com 50 milhões de votos. Com o capitão deteriorando-se em erisipelas, choros compulsivos e solidão, a debandada é geral. No mundo político, de 4 em 4 anos, os atores precisam se preocupar com os próximos 4. Artur Lira já abraçou Lula, Waldemar idem, Ciro Nogueira esbraveja na imprensa enquanto manda “oi sumido” pro presidente eleito.

Caso Bolsonaro queira continuar comandando o campo conservador, deverar tratar-se. Rei morto é rei posto – e isso se aplica até as coroas mais consistentes. Soar espontaneo pode funcionar para a base fanatizada, mas para o mundo político, mostra apenas fraqueza.

Há sempre um aliado ambicioso pronto para tomar-lhe as visceras – como o imperador romano Tarcisio, que era apenas um mero ajudante da côrte e virou imperador. Ao rei Jair, restarão as últimas palavras de outro imperador, Julius:

– Et tu, Brutus?