Novidade na campanha de Lula desestabilizou bolsonaristas

Lula em Comício Novidade na campanha de Lula desestabilizou bolsonaristas
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Se é guerra de apostas e hipóteses entre bolhas, arrisco a seguinte conjectura: Lula pode ganhar com quatro pontos percentuais de diferença, concordando com um militante que encontrei ontem na manifestação pró-Lula em Copacabana.

Esqueçam prognósticos com base em conteúdo de propostas de políticas públicas. Campanha eleitoral nessa reta final é canelada, chute no saco e cama de gato – cada um com seus argumentos e ferramentas, aproveitando os fatos que vão surgindo na zaga do adversário e na linha de fundo. Nenhum dos dois candidatos têm condições, nessa semana, de fazer com êxito um lançamento em profundidade perto dos 90 minutos.

Porém, o nervosismo maior dos bolsonaristas justifica-se por uma novidade na campanha de Lula. Que os estrategistas em marketing político confirmem ou não algo que me parece evidente: enquanto o desgoverno continua sua velha tática dos algoritmos nas redes sociais, com imagens de atos com aglomerados em igrejas, atos oficiais e entrevistas com prefeitos, políticos, cantor sertanejo etc., a campanha petista aprimorou, de um lado, o uso das mídias digitais e, de outro, foi para a rua em massa, promovendo esses últimos comícios impressionantes país afora.

Apesar do jogo pesado do adversário, envolvendo bilhões gastos pelo governo, com uso da máquina e aliciamento de alguns prefeitos, Lula, mais uma vez, vem provando que só ele tem condições de entrar em favela de qualquer cidade brasileira ou percorrer logradouros de classes médias e endereços do mercado financeiro. Lula, sem a máquina, vem sendo mais estrondoso que Bolsonaro. Chegou a ser patética, por exemplo, a tentativa de reunir prefeitos de Minas Gerais em ato de apoio a Bolsonaro.

Verdade que massa na rua não é sinal de vitória, como aconteceu com os comícios das Diretas-Já em 1984, quando, apesar do grande clamor público pelas capitais, os políticos rejeitaram a emenda Dante de Oliveira que instituía eleições diretas para presidente da República. Fomos ter eleição só em 1989.

Agora é diferente, tratando-se de eleição majoritária, isto é, quantidade de votos a favor ou contra dos eleitores – e não dos políticos em conclaves. O que conta, portanto, não é o conjunto de elementos da chamada “democracia deliberativa”, baseada em debate de ideias. Mas sim o impacto das imagens produzidas e trabalhadas no imaginário popular. Quem está na frente nas pesquisas pode levar vantagem? Bolsonaro não falou em “data povo”? A resposta está aí com o “data povo” e as pesquisas favorecendo Lula.

Se Bolsonaro fez emergir o conservadorismo mais retrógrado, nos últimos quatro anos, usando símbolos caros que cutucam fundamente o imaginário popular, Lula ainda encarna a figura do líder ambivalente e querido pelos pobres e classes médias esclarecidas, sem falar das articulações mais sofisticadas com o chamado mercado. Lula ainda representa símbolos caros ao povo brasileiro, que, muitas vezes, não têm muito a ver com as bolhas dos analistas políticos, jornalistas e intelectuais. O povo não está ‘debatendo ideias’ nem pensando em ‘projeto nacional’, mas sim discutindo sobre o preço do feijão, do salário-mínimo, da picanha e da cerveja.

O fato evidente é esse, repito: A campanha de Lula dissemina imagens com estrondosos comícios pelo país, tanto nas redes sociais como no horário gratuito de televisão, e Bolsonaro segue suas velhas táticas mais voltadas para os robôs, porém, sem povo nas ruas – diferentemente do que conseguiu fazer no início de seu governo e até mesmo no feriado de 7 de setembro. Seu último maior aglomerado foi numa igreja lotada no último domingo. Lula, porém, tem sido sinônimo de povo nas ruas se alastrando pelas grandes capitais. É isso que está fazendo tremer os bolsonaristas.

Pode-se dizer que a campanha de Lula veio com a novidade de manusear as tecnologias de forma mais eficiente do que no passado, e Bolsonaro continuou agindo como antes, achando que o jogo está ganho pelo fato de ser governo e fazer suas ameaças costumeiras através das milícias digitais. Sem falar dos tropeços na ‘entrada da área’ dos últimos dias via Paulo Guedes e Roberto Jefferson.

Se este meu texto escamoteia desejos e preferências, não sei o que pode escamotear as análises feitas por uns e outros sobre os erros da campanha de Lula ou o conteúdo de suas propostas. Longe da decifração e do oráculo dos intelectuais, o povo está se alimentando de imagens – essa é a verdade – e discutindo aqui e ali os problemas do seu cotidiano. A conferir, portanto, os efeitos das imagens numa articulação entre o data-povo e as ‘fotografias’ feitas pelos institutos de pesquisa.

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