Braskem na mão do Império

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Os inimigos do Brasil agem estrategicamente. Atacam os pontos nevrálgicos de nossa economia, como a nossa indústria de base e os setores tecnológicos em que detemos qualquer espécie de vantagem. Os crimes ambientais de Mariana e Brumadinho trouxeram à nossa atenção mais uma vez as terríveis consequências de retroceder o Brasil para o status de economia de enclave. A Nação assistiu em torpor enquanto nos era subtraída a Embraer e sua tecnologia de aviação regional, essencial para o Projeto Nacional de Desenvolvimento. Ponto a ponto, o Brasil como Nação Soberana se torna cada vez mais uma miragem, um sonho esquecido de um passado remoto.

O avanço do Império sobre nosso setor petroquímico segue a passos largos. A refinaria de Pasadena, tão vilipendiada pelos liberais que a acusavam ser a “prova cabal” da ineficiência da gestão pública das estatais, agora é cobiçada pela Chevron. Roberto Castello Branco, presidente da Petrobras, anuncia para um painel de ilustres abutres financeiros sedentos pelas riquezas do Brasil que há uma janela de oportunidade única para a entrega das refinarias da petroleira nacional. Declara triunfantemente que “não existirá política de preços” para os combustíveis – eles serão determinados pelos cartéis transnacionais. Todas as decisões estratégicas da Economia do Brasil tomadas a partir de fora como nos tempos do Marquês de Pombal.

Na mira da sanha imperialista, há uma empresa de capital nacional que produz tecnologia de ponta. A Braskem é resultado do processo de consolidação do setor petroquímico brasileiro. Foi fundada em 2002 já como a maior petroquímica da América Latina a partir da fusão de seis empresas como a Copene, OPP, Trikem e outras, tendo entre seus ativos plantas oriundas do complexo programa de privatizações do setor petroquímico da Petrobras nos anos 1990. Apesar de suas contradições, o controle acionário da empresa era fundamentalmente nacional.

Em 2006, junto com a Petrobras e a poderosa holding nacional Ultrapar, adquire o Grupo Ipiranga, assumindo as atividades da Ipiranga Petroquímica. A consolidação do setor petroquímico brasileiro se completa com a aquisição da Quattor em 2010. Nesse momento, a Braskem, empresa brasileira, torna-se um player mundial, participando do grande jogo planetário em seu segmento, disputando com transnacionais colossais sediadas na Grã-Bretanha, nos Estados Unidos e até mesmo na China.

A ascensão a este seleto pelotão de elite é marcada pela entrada agressiva da empresa nos mercados protegidos dos países de primeiro mundo. A Braskem adquire ativos na área de propileno da titânica Dow Chemical, conquistando para nossa Pátria duas fábricas nos Estados Unidos e uma na Alemanha. Com esse movimento, a empresa brasileira se torna líder no mercado de propileno nos Estados Unidos.

Atualmente, a Braskem controla os três maiores polos petroquímicos do Brasil em Camaçari (BA), Mauá (SP) e Triunfo (RS) e dezenas de outros em todo território nacional. É parte essencial da cadeia industrial brasileira, fornecendo insumos químicos para fábricas de todo país. Além disso, detém forte presença no primeiro mundo, na forma de exportações de produtos acabados e detendo plantas em seus mercados fechados. A Braskem é líder na produção de resinas termoplásticas em todo o hemisfério, atendendo 70% da demanda nacional por este insumo essencial para a indústria contemporânea.

Este player mundial, este titã tupiniquim que disputa um mercado acirradíssimo e central para o capitalismo contemporâneo é integralmente controlado pelo Brasil – com todas as contradições que podem advir de nossa burguesia. 50,1% de seu capital votante é da Odebrecht e 47% da Petrobras, segundo informações da própria Braskem.

Ao que tudo indica, esta joia nacional será entregue a LyondellBasell, transnacional cuja estrutura acionária é fundamentalmente controlada por poderosos fundos de investimentos e bancos sediados no Império.

Se acompanharmos a narrativa da entrega da Braskem ao Império pelos apologetas do liberalismo, temos uma crônica da ação do imperialismo sobre o Brasil pelo inverso. A burguesia nacional – aqui na figura da família Odebrecht – está acossada pela Aliança do Coliseu que destrói toda organização pátria. Difamada pela mídia entreguista e constantemente violentada por aparelhos das corporações judiciais brasileiras em aliança com segmentos do Império, a família Odebrecht luta para conseguir vender seu principal ativo, a participação acionária na Braskem, pelo maior valor possível, de preferência recebendo parte das ações da própria LyondellBasell. A Braskem é o que “mantém a Odebrecht de pé”, pois suas ações foram oferecidas como garantias para o Itaú e Bradesco, credores do grupo destruído pela Lava-Jato.

Veja, não se trata de um “idealismo nacionalista” ou de qualquer outra ação guiada por ideologia, e sim de mera sobrevivência dos Odebrecht. Sua luta pela valorização de seu principal ativo na venda da Braskem visa a transformar a empresa de sua família em mera “companhia de participações” no molde da Bradespar. A burguesia nacional, perdendo seu país, pega novamente suas caravelas de volta para a metrópole. E como agiriam de modo de diferente? Sem apoio do Estado Nacional, é presa fácil do imperialismo. Por muito menos, Trump prendeu executivos da Huawei. Só aqui nos trópicos que entregamos nossas empresas assim. A mecânica dos fluídos nos ensina que sob pressão, as partículas tendem a seguir o caminho de menor resistência. Aqui, para os Odebrecht, é a vassalagem ao financismo internacional. Não se trata, pois, de uma defesa ou ataque à burguesia nacional, e sim de pensar a Questão Nacional estrategicamente.

A questão é que a Petrobras também quer ser paga com participação na LyondellBasell, que não deseja pagar mais de 30% de seu patrimônio líquido nessa transação. Este é o principal entrave: o controle das empresas. Aqui, entrega. Lá, dominação. Essa é a lógica do imperialismo.

Há ainda mais um fator complicador, um obstáculo para a marcha triunfal do Império: o populismo latino-americano. O colosso petroquímico tupiniquim detém uma joint venture com a Idesa no México, onde possui um contrato com a Pemex. A petroleira mexicana fornece gás natural mais barato para companhia do que para o próprio mercado doméstico. O novo presidente do México, Andrés Manuel Lopes Obrador, prometeu rever o contrato. Essa ameaça – ou no linguajar imperialista, “liability” – deixam os financistas gringos ressabiados.

Como estamos acompanhando no caso venezuelano e na Síria, a cadeia de óleo e gás é central no capitalismo contemporâneo e pauta os alvos prioritários do imperialismo. Enquanto Nação, assistimos a destruição da Sete Brasil, ao assalto imperialista a Eletrobras e tantos outros ataques que é difícil conhecer todos. Em suma: o cerco é completo.

Cabe agora indagar até quando ficaremos em transe, até quando seremos incapazes de pensar estrategicamente – até quando nos curvaremos ante nosso Destino Colonial e nos levantaremos para manifestarmos nosso Antidestino Nacional.

Quando começaremos a pensar o Brasil estrategicamente?