Vou ser sincero – os atos não foram bons

Vou ser sincero - os atos nao foram bons manifestacoes
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É preciso reavaliar a dinâmica de nossas manifestações. Os atos de ontem mostram algo inelutável: batemos no teto. Em São Paulo não ultrapassamos em presença de gente aquilo alcançado em junho-julho. E isso numa situação em que o governo está muito mais isolado e em que as condições de vida da população pioraram sensivelmente. Não consigo identificar claramente os problemas, mas, a meu ver, eles envolvem:

1. A pauta – Temos de dar ainda mais ênfase às questões concretas (comida, gás, gasolina, emprego, inflação etc.). O Fora Bolsonaro é uma chamada aglutinativa das demais, mas não as substitui;

2. Talvez seja necessário realizar atos localizados em metrópoles como São Paulo e Rio. Ninguém que vive a duas horas e meia da Paulista ou da Candelária virá tranquilo a uma manifestação com propósito difuso, ainda mais levando-se em conta o preço das passagens de ônibus, metrô e trem. Com o fim do imposto sindical, as entidades não têm mais como fretar ônibus para esse fim;

3. Será que atos simultâneos em dezenas ou centenas de cidades é a melhor fórmula? As sempre lembradas Diretas Já valeram-se de tática diversa: a cada dia, a manifestação era em uma localidade diferente. Isso possibilitou concentração de esforços, presença de lideranças nacionais na maioria dos protestos e constância na agenda. Havia vários atos ao longo de um mesmo mês.

Embora eu tenha enfatizado questões organizativas, o problema central é político, de agenda e de direção. Os atos não expressam a situação de desespero em que vive o país.

Ontem, ao chegar à Paulista, logo encontrei vários amigos e conhecidos. Senti que algo não ia bem. Manifestação em que você conhece e tem o celular de parte razoável dos presentes não é manifestação boa. Atividade de massas eficiente é aquela em que você não identifica ninguém.

P. S. 1. A cobertura do Jornal Nacional salvou o dia (!). Por estar em oposição a Bolsonaro, o informativo dos Marinho foi ao grão e destacou as demandas concretas numa cobertura impecável de seis minutos, um oceano de tempo televisivo.

P.S. 2. A ideia da construção de uma grande frente sofreu forte abalo, por obra em especial de provocadores do PCO. A vaia a Ciro e a agressão posterior são daquelas coisas próprias de sabotadores da pior direita em ação nessas horas. Acho deplorável a conduta recente do ex-presidenciável, em especial as calúnias contra Lula. Mas o PDT íntegra a coordenação dos atos. Os partidos de esquerda deveriam condenar o vandalismo, ou expulsar o PDT da coordenação. O que não dá é para fingir que nada aconteceu.