Bolsonaro e Lula disputarão 2022?

Bolsonaro e Lula disputarão 2022
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No “Pesquisa Fest” de hoje em dia é fácil se perder. Pesquisas presenciais em plena pandemia se misturam com séries históricas de pesquisas telefônicas e apresentam resultados díspares.

Como avaliar esse caos de números?

Em primeiro lugar, devemos avaliar com o truísmo preferido dos candidatos que não lideram as sondagens: “pesquisa é o retrato do momento”. É um truísmo porque é verdade óbvia.

Em segundo lugar, mais do que “pesquisas compradas”, a melhor explicação para grande parte da disparidade dos números é a diferença na metodologia. Em momento pandêmico, a circulação nas ruas está bem mais reduzida nas classes médias do que as classes D e E. Esse perfil bomba os votos de Lula e desidrata os de Ciro, como vimos na Datafolha e na Ipec. Já as pesquisas telefônicas, com a generalização do celular, se tornaram muito precisas e muito mais adequadas à construção de uma amostra representativa de uma eleição que, hoje, na prática, já é facultativa.

Enquanto pesquisas presenciais dão Lula vencendo no primeiro turno e Ciro com 7%, pesquisas telefônicas dão Lula ainda mano a mano com Bolsonaro e Ciro variando de 10% (PoderData) a 16% (Ideia-Exame). Ciro atingindo 6% de espontânea e de 14% a 16% numa pesquisa tão cuidadosa com a amostra e cortes como é a Ideia, é algo muito surpreendente, algo com o que a equipe do pré-candidato não contava antes de março do ano que vem. O particularmente animador para ele é que a pesquisa ainda conta com os candidatos tucanos ou democratas, o que indica que, uma chapa que reunisse da centro-esquerda à centro-direita, já a preço de hoje, sem acesso às massas que só vem na campanha, teria todas as condições de tirar Bolsonaro do segundo turno das eleições.

As boas notícias para Ciro não param aí. Tanto nas presenciais quanto nas telefônicas as pesquisas tem mostrado diminuição da sua rejeição e aumento no potencial de voto. O que indica que a abordagem de sua pré campanha tem sido acertada.

Mas um terremoto pode estar chegando.

A questão é que como Bolsonaro perde a perspectiva de poder muito rápido, o cenário pode atingir um ponto de inflexão que transforme as eleições de 2022 em outra coisa. Se as revelações da CPI entrarem mar a dentro do governo enquanto a popularidade de Bolsonaro desce morro abaixo, o impeachment entra no horizonte não só da oposição de direita, mas do próprio centrão e do estrato militar da direita bolsonarista.

A saída de Bolsonaro das eleições pode ser a senha para uma luta por nova hegemonia na direita, com a volta ao picadeiro de nomes como Moro, Doria, Huck e Mourão. Ao mesmo tempo, sem o fantasma de Bolsonaro, a candidatura Lula perderia todo o anabolizante e gordura da “luta contra o fascismo” e do “Fora Bolsonaro”, e as eleições passariam a ser um ajuste de contas sobre o desastre moral e econômico do petismo.

Para Ciro o melhor quadro é o de Bozo candidato, porque fecha portas à direita enquanto ele já tem se imposto como a única opção viável à polarização e acabaria chegando ao segundo turno com Lula. Apesar disso, ele é o maior ativista pró impeachment entre os pré-candidatos, ao contrário de Lula, que até agora sequer assinou um pedido.
Não surpreenderia que, na ausência ou fraqueza muito grande de Bolsonaro, quando as pesquisas começarem a dar Ciro vencendo Lula no segundo turno, a gente veja Lula pedindo o boné.

Num cenário de impeachment e queda de intenção de votos, Lula pode lançar outro poste a presidente e se retirar da disputa alegando idade avançada e “dever cumprido” de limpar o nome.

Quem viver, literalmente, verá.