O Tibete, a China e o boicote aos Jogos Olímpicos: de qual lado você está?

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Nos últimos dias, os Estados Unidos e seus aliados tem desfechado importante ofensiva diplomática em prol da sabotagem aos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim, que ocorrerão em fevereiro de 2022. Inicialmente, os estadunidenses anunciaram que seus funcionários e representantes de governo não compareceriam ao evento. Na sequência, aliados como a Grã-Bretanha, o Canadá e a Austrália aderiram ao boicote. Dentre as alegações estadunidenses, constam a acusação de violação sistemática dos direitos humanos pelo governo chinês, especialmente contra a população uigur na província de Xinjiang. Mais recentemente, associações que recebem vultosos recursos de fundos estadunidenses patrocinaram protesto contra os jogos em frente ao Comitê Olímpico Internacional (COI), na Suíça, levantando as bandeiras de “libertação” do Tibete.

Tal estratégia diplomática não constitui novidade para o arsenal de chantagens e sanções utilizadas por Washington contra seus contendores. Hoje, em meio a uma “Nova Guerra Fria”, ataca os Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim em suposta defesa dos “direitos humanos”, ao tempo em que na Guerra Fria também travou ampla sabotagem aos Jogos Olímpicos de Moscou, em 1980, alegando oposição à invasão do Afeganistão pela União Soviética. Seja tratando-se de Afeganistão, de Xinjiang ou do Tibete, evidente é que todas essas movimentações nada possuem de altruísmo em seus conteúdos. Afinal, uma rápida reflexão sobre as questões envolvendo a população uigur e tibetana bastam para desvendar a fraude por detrás do vexatório boicote.

O Tibete, a China e o boicote aos Jogos Olímpicos
Protestos em frente ao COI, patrocinados pela Associação da Juventude Tibetana na Europa (TYAE).

Tratemos especificamente do Tibete. Afinal, ainda durante os Jogos de Olímpicos de Pequim, em 2008, a poderosa campanha Free Tibet foi impulsionada também por suspeitas organizações não-governamentais. A pergunta fundamental é de que tal campanha pretende libertar o Tibete. Afinal, sua integração ao conjunto da civilização chinesa vem de longa data, e remonta ao século XIII. A bandeira de “libertação” não surgiu dos ideais e vontades da população tibetana, mas sim dos interesses da Grã-Bretanha, que ao final do século XIX comandou ampla campanha em prol do fracionamento do território chinês, no contexto de debilidade a ao qual estava submetido o Império do Meio durante seu “Século de Humilhação”.

Foi nesse contexto em que os britânicos invadiram por duas vezes o Tibete, em 1888 e 1903, logrando a conquista de importantes vantagens comerciais sobre os lamas, emulando a métrica de tratados desiguais que impunha mundo afora. Entre a derrubada da dinastia Qing, no começo do século XX, e a vitória da revolução socialista, em 1949, o Tibete desfrutou de relativa autonomia, com os lamas sustentando um modelo aristocrático e feudal ao conjunto da população local. Baseado em uma estrutura teocrática e numa sociedade de castas, tal modelo condenava nada mais nada menos do que 95% da população à servidão, quando não à escravidão.

Mesmo após o triunfo do Partido Comunista na China, a autonomia gerencial dos lamas tibetanos foi respeitada, com base num acordo de dezessete pontos estabelecido entre o governo comunista e as classes dominantes do Tibete. Nesse, os tibetanos reconheciam a República Popular da China como sua terra natal, e as autoridades comunistas se comprometiam em conceder importante autonomia institucional para as lideranças da província. Quem rompeu com esse acordo não foi o governo chinês, mas as próprias classes dominantes tibetanas, que temorosas de ver desabar seu sistema arcaico de dominação recorreram ao apoio da CIA, da Índia e do Nepal, impulsionando a violenta e fracassada rebelião militar de 1959.

O Tibete, a China e o boicote aos Jogos Olímpicos
O Dalai-lama e o ex-presidente estadunidense, George W. Bush.

Foi esse fracasso que gerou a fuga do Dalai-lama, que dirigiu a rebelião com apoio estadunidense, ao território indiano, bem como o longínquo apoio logístico e financeiro dos serviços de inteligência dos Estados Unidos às guerrilhas e associações vinculadas com a causa da secessão tibetana. Por outro lado, foi também a rebelião que facultou aos comunistas chineses abolirem o nefasto modelo de exploração conduzido pelos lamas, decretando o fim dos resquícios de servidão e escravidão, e reconstruindo a província em consonância com o restante do país.

Apesar do fim das atividades guerrilheiras na década de 1970, o apoio dos Estados Unidos e seus aliados à causa tibetana persistiu no tempo. Foi isso que facultou ao Dalai-lama as condições para receber o Prêmio Nobel da Paz em 1989, o rápido espraiamento de associações defensoras da independência da província chinesa, a potencialização da campanha Free Tibet durante os Jogos Olímpicos de 2008, e a própria retomada destas movimentações às vésperas dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2022.

Claramente, não é a defesa da integridade e bem-estar dos tibetanos que rege o “espetáculo” por ora em voga. E basta observar a realidade para que se perceba isso. Entre 1951, ano de estabelecimento do acordo de dezessete pontos, e o começo do século XXI, a expectativa de vida da população da província saltou de cerca de 35,5 para quase 70 anos. Nessa mesma esteira, o PIB, que era de 327 milhões de yuans em 1965, já atingia em 2008 a marca de 39,59 bilhões em 2008, registrando um espetacular crescimento médio anual de mais de 12%. Se à época da reintegração absolutamente nenhum quilômetro construído de ferrovia constava em seu território, hoje cada vez mais a região é contemplada com obras de infraestrutura que interligam suas cidades e fornecem os meios para a integração econômica com o restante do país e adjacências.

O Tibete, a China e o boicote aos Jogos Olímpicos
A incrível ferrovia Tibet-Qinghai, que chega a operar em alturas de mais de 5.000 metros acima do nível do mar

Em síntese, a falsa defesa da causa do povo tibetano é o que verdadeiramente estampa as campanhas de desestabilização à China e aos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim. Absolutamente a mesma prática farsesca utilizada com relação à questão de Xinjiang, e ao conjunto dos eventos e problemáticas que abrem brechas para o ataque aos países que ousam um lugar ao sol por meios distantes dos receituários envenenados da superpotência declinante.

O povo tibetano caminha junto do governo chinês em defesa da integridade territorial e do desenvolvimento econômico e social do país. Os imperialistas de ontem e hoje caminham junto da destituída aristocracia feudal tibetana em prol do fracionamento da China. De qual lado você está?

  1. Sinceramente no meio de toda essa briga, eu fico a torcer pela briga. Que a China seja vítima das hipocrisias do Ocidente, isso é até uma obviedade, mas também não ostenta qualquer condição de mocinho, o que é sempre bom de lembrar.

    Historicamente a China é protagonista de um papel geopolítico predominante dominador, xenófobo, racista e abertamente imperialista na circunscrição e na geografia que ocupa no mundo e o Tibete foi decididamente invadido pelas tropas chinesas. O Dalai Lama, naturalmente, a defender seus interesses e de um pretenso discurso nacionalista, teria que se aliar aos norte americanos para firmar sua posição de forma significativa e decisões assim, de sair de uma gaiola e ir para outra demandam um grau de astúcia, sapiência política e luta em longo prazo que não sei se o Dalai Lama tem. As democracia ocidentais são decadentes e podres, e agora terão que utilizar a sua mais antiga e bem exitosa venda de seu maior produto: a hipocrisia. E junto a ela talvez, o ego. Fazer com que o outro sinta – se inferior por não faze parte de seu modo de vida e ainda tomar a iniciativa em adotar um tom inquisitivo e acusatório na busca de uma pretensa superioridade moral. Os Americanos não sabem lidar com o mundo sem isso, por exemplo.

    Seja lá como for, a nós brasileiros talvez não cabe maiores opiniões, exceto na parte que me interessa desse assunto que é a perspectiva do esporte como elemento de projeção ideológica e geopolítica dos países.

    Hitler promoveu uma Olimpíada para promover a raça ariana e o destaque dos Jogos foi justamente um negro norte americano que vivia sob leis de segregação racial não muito diferentes das que vivam a Alemanha. Os comitês e organizações máximas do esporte sempre foram um bunker a ser protegido pelas grandes potências da Europa Ocidental e a ela sempre estiveram sendo seviciadas.

    Veja você a quem me lê e/ou ao articulista, que a FIFA possui mais de 100 anos com mais filiados que a ONU, OMS, OMC ou OIT, só estando atrás da IAAF, por apenas um membro. Contudo, com tamanha capilaridade, apenas um único não europeu presidiu essa entidade, que foi João Havelange, que justamente foi eleito de nariz torcido por parte do inglês Stanley Rous e que fez sua base política agregando África, Ásia e Leste Europeu, contrariando as potências da Europa Ocidental e suas picuinhas de colonialismo. Nenhum outro não europeu ocupou tamanho poder e destaque no esporte como Havelange, que acabou sendo membro honorário do COI.

    O mesmo pode se aplicar a Arthur Nuzman, que foi essencialmente o sujeito que elevou o Brasil a potência olímpica do vôlei, estando em total paridade com russos e norte americanos e também um não europeu em uma posição que nunca antes existiu a alguém dessa localização do globo, podendo ser comparável a claro, Havelange.

    E o que aconteceu com eles? Foram cassados também às custas de pretextos até razoáveis, mas movidos por casuísmos e interesses e práticas de hipócritas, no que eu reputo por exemplo como uma jogada do imperialismo norte americano em também nos colocar na condição de pária como estamos agora. Lembrem – se da operação feita pelos norte americanos na ideia de “limpar a corrupção do esporte”, o lava jatismo já conhecido. Mas aí também é necessária a reflexão: será mesmo que o país que mais casos de doping da história das olimpíadas, o país em que mais atletas vieram a público confessar o seu doping e devolverem as medalhas obtidas ás custas de trapaça possuem condição moral de demandar alguma moralidade de alguém? E ainda é interessante fazer a observação sobre as sessões de expiação de culpa dos atletas, é que, somente aquelas pessoas praticaram essas fraudes? Será mesmo que as federações dos norte americanos também não mereciam ser escrutinadas?

    Portanto e tentando aqui ser breve, o golpe aí está meus amigos e cai nele quem quer.

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