‘O Roseiral Espinhento’: Uma tática para forçar Bolsonaro a polarizar com Ciro Gomes e a Turma Boa nas redes

Uma tática para forçar Bolsonaro a polarizar com Ciro Gomes e a Turma Boa nas redes
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Por João Pedro Boechat – No encrudescimento da pandemia, com hospitais lotados em todas as regiões do país, é inviável mobilizar o povo nas ruas para derrubar esse presidente genocida, mas é imperativo que ele seja derrubado. O secretário de saúde do estado de São Paulo, o mais rico do país, apela pela ajuda de voluntários, pois, nas palavras dele, “nós estamos em guerra”.

Estamos em guerra sim, contra uma doença feroz, que aliada com um governo federal omisso, está levando embora nossos irmãos e irmãs, brasileiros inocentes, muitos enganados pelas mentiras propagadas pelo bolsofascismo, e outros tantos que lutaram contra mas não conseguiram evitar a contaminação.

Se não temos a arma da mobilização popular, nas ruas, como qualquer povo faz para derrubar governos criminosos, nós temos que travar essa batalha nas redes digitais enquanto isso não for possível. E é evidente que as estratégias e táticas utilizadas até o momento têm fracassado. Por isso, proponho novas estratégias para ocupar as redes, mesmo contra o imenso poder do capitalismo de vigilância.

Primeiro, fracassou quando acreditamos que a política institucional, através da eleição da Câmara, poderia ser capaz de se comprometer com o Impeachment. E fracassa, na militância digital, porque não existe organização para mudar a cabeça daqueles que são bombardeados, 24 horas por dia, com chuvas de notícias falsas em todas as redes sociais, criando uma “câmara de eco” que faz pensar que o povo está com Bolsonaro, onde suas mentiras abjetas se tornam verdade.

Lutamos contra uma força muito rica e poderosa. Chomsky nos ensina como os concentradores de riqueza e poder moldam a ideologia e fabricam o consenso. “Tratam de induzir as massas a preocupar-se com coisas irrelevantes e minar a democracia – e também contribuir com o objetivo geral de marginalização e fragmentação política da população e canalizar suas preocupações para longe daquilo que realmente poderia ser importante, na condição de agentes participativos de uma sociedade livre, democrática e vibrante, na qual trabalhassem por ela como um todo”. Enquanto a juventude progressista gasta seu tempo ocioso se alienando com, entre outras coisas, o BBB – e, admito, também sou refém disso – Bolsonaro segue empurrando com a barriga a negociação das vacinas e rindo das mortes causadas pela doença e suicídios causados pelo isolamento social. Se nosso país tivesse um governante sério, a vida já teria voltado ao normal há meses, a economia estaria crescendo e as pessoas estariam mais felizes.

Muitos de nós pensamos que não podemos fazer nada para mudar isso, mas cada dia que passa a tragédia aumenta, e os nossos heróis – os médicos, enfermeiros e demais profissionais da linha de frente no combate ao Covid – precisam de uma linha auxiliar, da forma que for possível, para vencer essa luta. Por isso, deixo claro que o que proponho não se estende a outros rivais do trabalhismo brasileiro, como por exemplo forças diferentes do campo popular. O objetivo deve ser um só: ajudar a derrubar Bolsonaro, furando a bolha que envolve seus eleitores, da forma que for possível, através das redes sociais, da mídia e no dia-a-dia quando for possível.

A militância da turma boa se concentra no Twitter, e embora o alcance seja maior no Facebook, no What’s app e no Instagram, cuidarei deles em outro momento, já que as possibilidades de infiltração no campo inimigo, por assim dizer, são menores ou feitas de outra maneira. De qualquer forma, não podemos deixar de ocupar essas redes desde já.

Todos sabemos que o clã Bolsonaro evita ao máximo polarizar com Ciro Gomes. A partir dessa semana, então, com a volta da elegibilidade de Lula – justa e juridicamente correta, diga-se de passagem –, ele focará todos os esforços em polarizar com o líder petista. Esse cenário já era o sonho de Bolsonaro. Não quero entrar na questão das estratégias na repentina mudança de conjuntura, já que existe muita euforia de um lado, e muita incerteza de outro; o que não muda e nunca vai mudar é a necessidade eterna de propagar nossas ideias, ideais e projetos. As pautas de esquerda só logram êxito no nosso parlamento quando elas encontram amplo respaldo na opinião pública.

Todas as vezes que Ciro e o clã Bolsonaro tiveram embates diretos, as declarações viraram notícias nos jornais. Naturalmente, Bolsonaro sempre sai perdendo, já que tem um péssimo projeto, um péssimo governo e nenhuma habilidade para debater. Só que ele é o presidente, tem a caneta na mão, o ibope que o presidente naturalmente tem, sendo acompanhado diariamente tanto pelos simpatizantes, quanto por seus adversários e os indecisos que acompanham pelas redes sociais dele as notícias do governo.

Para tornar impossível que Bolsonaro ignore os trabalhistas, sugiro, no espaço do twitter, que utilizemos uma tática a qual chamo de ‘Roseiral Espinhento’. O objetivo é valer-se do estratagema de ‘bater a grama para desentocar a serpente’, utilizando as próprias ferramentas do Twitter para dominar o feed em qualquer postagem dos líderes bolsonaristas. Se a Turma Boa se habituar a ativar as notificações de Bolsonaro e cia, conseguiremos sempre ocupar as primeiras respostas com ataques às suas políticas e defesa do nosso projeto.

As primeiras respostas costumam ser as que têm maior alcance orgânico, já que os seguidores de Bolsonaro curtem e retwitam elas primeiro, multiplicando o alcance. Se toda a militância fizer isso o ano inteiro, nosso projeto será visto pelos seguidores de Bolsonaro, terá o alcance impulsionado pela sua própria popularidade, fará com que eles não consigam nos ignorar, e dificultará seus esforços de bloquear os que fazem isso (como eu, que já fui bloqueado por todos os seus filhos). Existem precedentes, inclusive, para proibir Bolsonaro de bloquear seus seguidores, em outros países, e um processo em curso para definir essa questão no Brasil. Por isso, é essencial utilizar-se desse artifício permanentemente para ocuparmos a rede bolsonarista e furarmos nossa bolha.

É preciso pensar em táticas diferentes e criativas para aplicar nas demais redes, e nessa também. De qualquer forma, o objetivo final tem que ser sempre o mesmo: polarizar com Bolsonaro, aproveitando sua popularidade e capilaridade, para propagar os ideais trabalhistas e o Projeto Nacional de Desenvolvimento de Ciro Gomes. Não podemos deixar de impor ao debate público a discussão das nossas ideias. Nunca poderemos nos abster de fazer o ‘trabalho de formiguinha’ se quisermos ver um governo popular, nacional-desenvolvimentista e soberano.

João Pedro Boechat

Militante da Juventude Socialista do Estado do Rio de Janeiro e estudante de Direito da UFF – Niterói